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Suíça negocia acordo fiscal com os Estados Unidos

Manuel Sager: "em mais de um ano aqui, não tive nenhuma noite chata". swissinfo.ch

A Suíça e os Estados Unidos estão “quase” chegando a um acordo para resolver as divergências fiscais entre os dois países.

No entanto, as lutas internas entre Republicanos e Democratas com vistas às eleições presidências em 2012, freiam as negociações. Balanço de fim de ano com embaixador suíço em Washington.

Manuel Sager é embaixador nos Estados Unidos há exatamente um ano. Um ano marcado por tensões com o Irã – a Suíça representa os interesses dos Estados Unidos no Irã – e por negociações fiscais depois do escândalo do UBS, em um país que tem muito o que fazer entre crise econômica e polarização do debate político.

swissinfo.ch: Quando seu predecessor assumiu o cargo em 2006, a primeira prioridade nas relações da Suíça com os Estados Unidos era a luta contra o terrorismo. Qual é prioridade número um hoje?

Manuel Sager:  É evidente que devemos fechar o dossiê relativo à informação sobre as contas bancárias e os impostos americanos. Nosso principal objetivo foi evitar um conflito de jurisdição e avançamos muito nos últimos meses. Os Estados Unidos aceitaram o fato que o direito suíço deve ser respeitado. Certos problemas permanecem mas tenho confiança que encontremos soluções.

swissinfo.ch: Os dois países estão próximos de um acordo?

M.S.: Estamos relativamente próximos. É difícil fazer previsões acerca das negociações em curso e nada é resolvido enquanto tudo não for resolvido. Estou confiante que encontraremos soluções em prazo razoável.

swissinfo.ch: Depois do caso das contas inativas dos judeus em bancos suíços no final dos anos 1990, essa questão dos impostos é o maior problema entre a Suíça e os Estados Unidos. Sabendo que levou anos para resolver o caso dos fundos judeus, o senhor acha que a questão bancária perturbará também durante anos as relações bilaterais?

M.S.: Não concordo que o caso dos haveres do Holocausto teve um impacto de longo prazo nas relações entre suíços e americanos. De maneira geral, os americanos sabem muito bem separar os problemas.

O fato que a restituição aos proprietários legítimos durante a Segunda Guerra Mundial era problemático foi reconhecido nos anos 1990 e o caso foi resolvido quando houve acordo com os dois maiores bancos suíços. É verdade que a lembrança desse caso persistiu, mas não tenho certeza se houve impacto negativo nas relações bilaterais.

Quando ao dossiê fiscal, penso que ele está concentrado em algumas pessoas que, dentro do governo americano, estão diretamente envolvidas nas negociações. Esse caso não tem grande impacto na opinião pública. Em meus contatos com membros do Congresso, sinto que há uma certa consciências dessas questões fiscais, mas isso não tem influência negativa na discussão de outros assuntos.

swissinfo.ch: A Suíça representa os interesses americanos no Irã em Cuba. Suponho que o senhor esteja mais ocupado com o primeiro?

M.S.: Ficamos muito satisfeitos que foi encontrada uma solução em setembro para os dois americanos que estavam retidos no Irã. A embaixada em Washington esteve diretamente envolvida. Tivemos várias reuniões no Departamento de Estado e com parlamentares americanos a esse respeito, principalmente nas semanas que antecederam a libertação.

swissinfo: A administração Obama e o Congresso apreciam a atuação da Suíça nesse mandato iraniano?

M.S.: Sim, é muito importante para eles. É algo colocado em destaque toda vez que encontro um membro do Congresso ou da administração Obama. Quando apresentei minhas credenciais ao presidente, ele agradeceu pelos grandes serviços que a Suíça presta aos Estados Unidos no Irã.

swissinfo.ch: Após um ano no cargo, que análise o senhor faz hoje da situação política e econômica dos Estados Unidos, que já começou a entrar em campanha para as presidenciais?

M.S.: Atualmente o país está muito dividido. O centro político parece perder terreno. A situação está exacerbada pelo clima econômico e a crise orçamentária. O fosso entre receita e despesa é inviável e é muito difícil um acordo. A única solução é aumentar impostos, reduzir despesas ou estimular o crescimento, ou então fazer os três.

Também tenho a impressão, real ou não, que a classe média é perdedora ou pelo menos estagna, em grande parte devido à crise imobiliária. Isso é novo nos Estados Unidos. Paralelamente, existe o sentimento que os bancos foram salvos pelos contribuintes, enquanto os bônus pagos no setor financeiro não diminuíram muito. Tudo isso leva a um ressentimento da classe média que alimenta o Tea Party e o movimento dos indignados de Wall Street.

swissinfo.ch: Essa polarização complica o trabalho do senhor?

M.S.: Nos interessamos pelo processo legislativo por certos assuntos que são debatidos no Congresso. Um deles é o tratado de dupla tributação que deverá ser um do pilares do acordo fiscal. Parece que há obstáculos ligados às lutas partidárias (entre Democratas e Republicanos) e à questão em si.

swissinfo.ch: Qual é o lado apaixonante e lado frustrante do ofício de embaixador?

M.S.: Há poucas frustrações. Teria dificuldade em dar um exemplo e sou sincero ao dizer isso. Claro, tem certos assuntos que levam mais tempo para resolver, mas faz parte do ofício. A paciência é uma virtude e todos tentamos praticá-la.

Evidentemente, é mais difícil o contato com parentes e amigos que estão na Suíça. Mas, para mim, o que é mais interessante – e é boa parte do meu trabalho – é estabelecer uma rede de contatos, convidar pessoas, organizar eventos na embaixada e na residência. Devo dizer que, em pouco mais de um ano aqui, ainda não tive uma noite chata. É sempre muito estimulante. Nossos convidados são extrovertidos, gostam de comunicar e dividir as experiências e informações. Isso é um aspecto muito gratificante do meu ofício.

O atual embaixador da Suíça nos Estados Unidos nasceu em 1955 em Menziken, cantão de Argóvia (centro). É casado a 28 anos com uma americana que se tornou suíça.

Diplomas. Doutor em Direito pela Universidade de Zurique e mestre pela Universidade de Duke, instituição privada em Durham, na Carolina do Norte.

Carreira. Primeiro advogado no escritório Phenix, Arizona; entrou na diplomacia em 1998.

Washington. Seu primeiro posto como embaixador no estrangeiro.

Segunda embaixada da Suíça, depois da de Pequim, em importância pelo seu serviços de vistos: 60 funcionários, 75 na capital chinesa.

Eventos. A embaixada organiza pelo menos 300 eventos por ano apenas em Washington ; cerca de 250 outros eventos são montados com os consulados através dos Estados Unidos.

Noite suíça. O maior evento na embaixada em 2011 reuniu 1.200 convidados, um recorde.

 Público. A embaixada recebe cerca de 10 mil visitantes por ano, em seus locais e diversos lugares da capital.

 Rede. 5 consulados: Atlanta, New York, Chicago, Los Angeles e San Francisco, 23 consulados honorários, missão junto à ONU em Nova York, Business Hub em Chicago e dois Swissnex (consulados científicos) em Boston e São Francisco.

Expatriados. Estima-se que mais de 75 mil suíços vivem nos Estados Unidos. Somente 4120 são matriculados na embaixada.

(Fonte: embaixada da Suíça e Ministério do Comércio dos Estados Unidos).

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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