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Suíça quer retomar diálogo com Turquia

Em janeiro, o presidente suíço, Joseph Deiss, esteve com o primeiro ministro turco, Tayyip Erdogan, no Fórum Econômico de Davos. Keystone

Uma delegação parlamentar suíça vai a Turquia para reativar as relações entre os dois países depois da crise diplomática do ano passado.

Com o debate na Suíça acerca do genocídio armênio, o governo turco anulara a visita prevista ao país da ministra suíça das Relações Exteriores.

Uma «afronta», uma «provocação»: foi assim que alguns políticos suíços qualifiaram, um ano atrás, a decisão das autoridades turcas de anular a visita oficial a Ankara, da ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey.

Na pauta das discussões da ministra estava a questão das minorias étnicas e os direitos humanos. O Ministério (DFAE) limitou-se a julgar “excessiva” a decisão da Turquia.

Mas uma vez, a questão do genocídio armênio havia suscitado a ira do governo turco. Uma questão “demasiadamente” tratada nos últimos anos, segundo o governo de Ankara.

Como lembrete, 800 mil dos 1,8 milhões de armênios que viviam no Império Otomano (atual Turquia) foram deportados ou massacrados, conforme demonstram pesquisas históricas, entre 1915 e 1918.

Pequena crise diplomática

Sempre negado pela Turquia, que reconhece “apenas” a morte de 200 mil armênios durante a Primeira Guerra Mundial, o genocídio foi reconhecido em 1998 pelo Parlamento do cantão (estado) de Genebra.

Em 2001, a Câmara dos Deputados rejeitaram um postulado nesse sentido, mas com apenas três votos de diferença.

A questão voltou à atualidade no ano passado quando, em 23 de setembro, o Parlamento do cantão de Vaud também reconheceu o genocídio.

Dias depois, o governo turco anunciou a anulação da vista da ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, provocando uma pequena crise diplomática entre os dois países.

A crise se agravou em dezembro, quando a Câmara dos Deputados também reconheceu o genocídio, decisou que irritou ainda mais os turcos.

O novo primeiro ministro Recep Tayyp Erdogan manifestou seu descontentamento ao atual presidente suíço, Joseph Deiss, e à ministra Calmy-Rey nos encontros que tiveram em Davos, em janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial (WEF).

Novas possibilidades de diálogo

Anulada em outubro de 2003, a visita atual de membros da Comissão de Política Estrangeira do Senado (CPE) pode ser considerada como um passo importante para reativar o diálogo e melhorar as relações entre os dois países.

“No ano passado, preferimos adiar a visita”, explica o senador Peter Briner, presidente da CPE. “Havia uma certa irritação nas relações bilaterais e pouca gente estava propensa ao diálogo na Turquia”.

“Com o tempo a irritação passou. Nossos colegas do Parlamento turco e o embaixador turco em Berna garantiram que seremos bem recebidos”, acrescenta osenador Briner.

A visita ocorre de 30 de agosto a 3 de setembro e a delegação será recebida, entre outros, pelo ministro turco das Relações Exteriores, Abdullah Gül.

A cooperação econômica e técnica será a mais importante, mas a questão dos direitos humanos e das minorias étnicas também serão abordadas.

“Queremos nos atualizar também sobre as reformas que a Turquia vai implantar para aderir à União Européia”, precisa Peter Briner.

Visões opostas

Segundo o presidente da Comissão de Política Extrangeira do Senado, a delegação suíça não vai tocar na questão do genocídio armênio, que continua tabú na Turquia.

“Não queremos julgar esse terrível período da história com uma atitude moralista. Esse papel é dos historiadores e cada país dever confrontar-se com seu próprio passado”, afirma.

O debate que houve dia 16 de setembro na Câmara dos Deputados sobre o genocídio armênio mostrou que há visões opostas da política estrangeira.

De um lado, existe a vontade de privilegiar o compromisso do país em favor dos direitos humanos e das minorias, principalmente porque a Suíça aderiu à Corte Penal Internacional, competente para julgar casos de genocídio.

De outro, existe a vontade de manter o diálogo e não comprometer as relações com um parceiro econômico importante como a Turquia.

Em 2003, a Suíça era i 6° maior investidor estrangeiro na Turquia e 7° país exportador, com 1,6 bilhões de francos.

Momento favorável

Mesmo se todas as questões mais delicadas não serão abordadas, a visita da delegação suíça à Turquia é vista como positiva pela comunidade armênia da Suíça.

“Se ela não se baseia em mentira, a busca do diálogo é fundamental para que a Turquia saia do obscurantismo que sempre praticou”, afirma Sarkis Shahinian, vice presidente da Associação Suíça-Armênia.

O momento parece particularmente favorável, dada a vontade da Turquia em aderir à União Européia e sua amibição de ter um papel estratégico entre o mundo ocidental e o mundo islâmico.

“É o momento para a Turquia de esclarecer seu passado e de finalmente adaptar-se aos critérios de respeito aos direitos humanos indispensáveis para aderir à União Européia”, conclui Sarkis Shahinian.

swissinfo, Armando Mombelli
Tradução, Claudinê Gonçalves

800 mil dos 1,8 milhoões de armênio do Império Otomano foram massacrados entre 1915 et 1918.
Negado pela Turquia, o genocídio foi reconhecido nos últimos anos pelos Parlamentos de 15 países, entre eles França, Rússia e Itália.
A Câmara suíça dos Deputados reconheceu o genocídio em 16 de dezembro de 2003.

– Uma delegação de senadores suíços estará na Turquia de 30 de agosto a 3 de setembro.

– Mais de 80 mil cidadãos turcos e cerca de 6 mil pessoas de origem armênia vivem na Suíça.

– Em 2003, a Suíça era o 6° maior investidor estrangeiro na Turquia, com mais de 1 bilhão de francos.

– No mesmo ano, a Suíça foi o 7° maior exportador para a Turquia com 1,6 bilhão de francos.

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