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Suíça recebe a cúpula da francofonia

O "Palácio", espaço que recebe os participantes na cúpula da francofonia em Montreux. Keystone

Montreux, cidade suíça famosa pelo festival de jazz, recebe desde a última sexta-feira (15/10) outro importante evento: a 13° Cúpula da Francofonia. Dela participam 70 chefes de Estado e de governo, três mil delegados e centenas de jornalistas.

A Suíça pretende fazer do encontro também uma festa popular, cujo principal tema é o francês como língua comum.

“Sabemos que a cúpula será bem organizada com os suíços. Eles são bons nisso”, declarou um funcionário africano da Organização Internacional da Francofonia (OIF, na sigla em francês), indicando que o país dos Alpes só pode consolidar sua reputação ao se responsabilizar pela organização do evento em Montreux.

Ela também era a única dos quatro grandes contribuintes à OIF a nunca ter sediado essa reunião da instância suprema da organização, onde são discutidas suas grandes orientações e opções programáticas.

Ganho de prestígio

Sigilo bancário ou o caso dos minaretes: a imagem internacional da Suíça “não é tão boa como há vinte anos e essa cúpula chega em um momento oportuno”, julga Laurent Gajo. Esse especialista no francês atuante na Universidade de Genebra lembra que a francofonia é “uma das mais importantes plataformas de colaboração, de relações multilaterais e de cooperação entre o norte e sul, em escala planetária.”

Mesmo se não é possível esperar um ganho imediato, o encontro permitirá à Suíça de ganhar “prestígio” e “na sua imagem”, confirma o embaixador François Nordmann, ex-chefe da direção de organizações internacionais no Ministério suíço das Relações Exteriores (DFAE). Quanto a seus atores turísticos, acadêmicos, tecnológicos e econômicos: na cúpula eles terão uma “vitrine”.

Dentro da francofonia, a Suíça “não é um ator discreto e sem importância”, estima Laurent Gajo. Nesses últimos anos, “ela diminuiu uma parte das suas prestações, mas nas áreas diplomáticas ou acadêmicas, ele continua sendo vista com bons olhos”, observa Nordmann. “A Suíça tem uma boa posição e que será reforçada com a cúpula, não tenho dúvidas.”

Uma chance para a África

Apesar de grande parte dos países da União Europeia ser também membros da OIF, a Suíça não terá nenhum benefício europeu do encontro. “Em Montreux a discussão é cultural. Ela abrange a cooperação científica, acadêmica e de ajuda ao desenvolvimento”, explica Nordmann. “A cúpula não é um órgão que permite uma aproximação com a União Europeia, em particular.”

Para esta, o evento é muito mais uma possibilidade de cultivar laços com os países “que não estamos habituados a ver”. Tratam-se, obviamente, dos países africanos. O embaixador ressalta que não existe um objetivo explícito a ser alcançado na cúpula. “Trata-se, sim, de uma etapa normal na vida de uma organização.”

Na falta de um problema política delicado, “apesar da possibilidade de haver um ou outro problema de protocolo, mas que será rapidamente resolvido”, a Suíça não está assumindo um grande risco de receber o evento, como avalia Nordmann.

Ela deve comunicar

“Melhor que isso”, constata Laurent Gajo, ela tenta de fazer da cúpula um espaço de discussão, onde nada está fechado por antecedência. Através das suas bordas, ela visa também associar a população. O acadêmico também ressalta que a francofonia continua desconhecida, em grande parte, sobretudo na sua dimensão política. “Seria melhor comunicá-la melhor.”

“Seu programa de ação é bastante elaborado em torno da questão dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável e o direito à educação. Ela também deve continuar a fazer progredir o respeito pela diversidade”, diz Gajo. “A OIF deve continuar em sua dinâmica, mas fazendo também um esforço para se tornar mais visível e menos opaca, para que as pessoas possam se apropriar mais dela”. Essa é exatamente a ótica da Suíça em Montreux.

Espaço germanófono

A cúpula em Montreux poderá criar tensões na Suíça multilinguista? “Pode haver o risco de que o evento seja minimizado”, afirma François Nordmann. Mas para refletir a sensibilidade da parte alemã do país, o diplomata tem uma ideia.

A Suíça participa de reuniões políticas com a Áustria e a Alemanha. “Mas o alemão é falado hoje em dia em muitos países da Europa central. Para equilibrar, não seria interessante pensar em uma manifestação cultural do espaço germanófono?”

“Reduzir a francofonia ao idioma é um erro”, contrapõe Laurent Gajo. “É positivo que a Suíça esteja envolvida na francofonia como país multicultural e multilíngue. Uma francofonia que faz da diversidade cultural e linguística seu cavalo de batalha e cujos membros não têm o francês como segundo ou terceiro idioma.”

“Por razões de imagem, de relações políticas exteriores, de relações internacionais, de cooperação e ajuda ao desenvolvimento, a Suíça inteira deve se sentir envolvida”, reforça Gajo. “Não há nenhuma razão objetiva para os suíços francófonos se sentirem mais envolvidos.”

Três dias em Montreux. A Suíça foi escolhida para sediar a 13° Cúpula da Francofonia em substituição ao Madagascar, que estava ocupado com problemas políticos. O encontro, precedido por uma conferência ministerial, ocorre de 22 a 24 de outubro em Montreux.

Na pauta de discussões: a francofonia na governança mundial, o desenvolvimento sustentado na perspectiva francófona ou ainda o francês e a educação em um mundo globalizado.

A cúpula, que ocorre no ano em que se comemora 40 anos da francofonia, é também ocasião para que 70 chefes de Estados e de governo discutam as grandes opções da OIF e eleger seu secretário-geral. Abdou Diouf, que conclui seu segundo mandato, se candidata mais uma vez.

Membro: A Suíça é membro integral desde 1989 da cúpula de chefes de Estado e governo, no qual o francês é língua corrente. Em 1995, o Parlamento helvético aprovou com grande maioria a adesão à Organização Internacional da Francofonia (OIF).

Financiamento: atrás da França, Canadá e Bélgica, a Suíça é o quarto maior financiador da OIF, com 5,3 milhões de francos de contribuição e mais 1,1 milhão de contribuição voluntária.

Ela participa de todos os níveis da organização e nos trabalhos dos seus quatro operadores: a Agência Universitária, a Associação Internacional de Prefeitos, TV5Monde e a Universidade Senghor.

A OIF engloba 870 milhões de habitantes e 220 milhões de falantes da língua francesa. Ela reagrupa 56 países membros e 14 países observadores.

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