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Suíça tem membro no Conselho de Brasileiros no Exterior

Cartaz do III Conferência de Brasileiros no Mundo, realizada no Rio de Janeiro. brasileirosnomundo.mre.gov.br

País de vanguarda na organização política das comunidades brasileiras no exterior, a Suíça manteve-se no centro das discussões durante a 3ª Conferência Brasileiros no Mundo, que aconteceu nos dias 2 e 3 de dezembro no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro.

No evento foi entregue ao Ministério das Relações Exteriores uma Ata Consolidada, documento com todas as reivindicações dos brasileiros que moram fora do país.

Durante a conferência, foram empossados pelo MRE os 32 membros do recém-eleito Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior (CRBE), que agora passa a ser o órgão institucional de intercâmbio entre o governo e os emigrantes.

O jornalista Rui Martins, que mora há muitos anos na Suíça e foi um dos precursores do movimento na Europa, é um dos suplentes do CRBE, com mandato de dois anos. O presidente do Conselho é Carlos Shinoda, representante da comunidade brasileira no Japão.

Além de Martins, outros quatro representantes dos brasileiros que vivem na Suíça participaram da Conferência, entre eles a embaixadora Vitória Cleaver, que comemorou o avanço do processo: “A criação do CRBE era um anseio do cidadão brasileiro e também do governo. O Itamaraty sabe que nós precisamos, além da rede de embaixadas e consulados, de um engajamento organizado da comunidade que possa fazer chegar a nós suas demandas”, disse.

A Cônsul-Geral do Brasil em Zurique saudou também a aprovação da Ata Consolidada: “Esse processo que culminou na realização das três conferências e na criação do Conselho foi extremamente importante porque a comunidade organizou suas demandas em uma Ata Consolidada. Agora, com o CRBE, esse mar de demandas vai começar a ser priorizado através do trabalho dos conselheiros para que as autoridades governamentais nos diversos setores possam começar a trabalhar e a obter os recursos e os apoios necessários nos ministérios setoriais para que essas demandas se transformem em realidade”.

Representante do Conselho Brasileiro na Suíça, entidade que atua no país há 15 anos, Ocirema Kukleta foi outra a demonstrar satisfação com a Conferência: “Fico contente quando vejo a Ata Consolidada que foi apresentada aqui e me lembro que esse é um trabalho que iniciamos há dez anos em Bruxelas, depois foi aperfeiçoado pela rede europeia em Barcelona, e agora o documento foi entregue ao presidente da República. O avanço é incontestável”, disse

Ocirema ressaltou aquilo que considera uma mudança histórica: “O Itamaraty começou a enxergar que existem brasileiros fora. Nunca considerou o público que está fora, mas agora está considerando. Essa mudança de comportamento, mesmo não acontecendo sempre nem por parte de todos, está em andamento. Existe uma marcha de todas as pessoas engajadas para que aconteça essa mudança política. No primeiro encontro europeu que nós tivemos – com 77 pessoas de onze países – o MRE sequer compareceu. Hoje, estamos aqui com o presidente, com ministros, com o governador e o prefeito do Rio. Vejo que esse peso político é uma grande conquista”.

Atendimento social

Representante da ONG Prevenção Madalena, que atua com brasileiros que chegaram à Suíça após viverem situações de violência no Brasil, Lúcia Brullhardt espera que a criação do CRBE ajude no atendimento a esse e a outros públicos: “O processo é maravilhoso e promete muitas coisas boas para nossa comunidade brasileira na Suíça. Acima de tudo, o que precisa ser melhorado é a assistência social aos brasileiros. É muito importante estarmos inscritos no consulado porque, se acontece algo com alguma pessoa, nós podemos informar sua família e tomar as medidas cabíveis. É muito importante que os brasileiros e brasileiras que estejam na Suíça, mesmo em situação de ilegalidade, procurem fazer a matrícula consular”.

Vitória Cleaver falou sobre a situação dos brasileiros na Suíça: “É um país privilegiado quanto à rede social, e os brasileiros documentados não têm nenhuma dificuldade em serem atendidos em questões como saúde, além de encontrarem apoio do governo suíço para uma melhor integração. Mas, para aqueles brasileiros que não têm ainda permissão, temos que prover para que possam também ser atendidos”, disse. A embaixadora afirmou ser incapaz de quantificar exatamente o tamanho da comunidade brasileira na Suíça: “Já ouvi as estimativas mais variadas. Acredito que talvez sejam uns 35 mil ou 40 mil brasileiros”.

“Enterrar as armas”

Sobre a nem sempre tranqüila disputa política entre os representantes dos brasileiros na Suíça, Rui Martins afirma que “é o momento de enterrar as armas de guerra” e explica o motivo: “Eu abri a picada com facão. No início foi difícil, tinha cipó bravo e coisas difíceis de se cortar. Agora nós estamos em uma clareira. É o momento de fazermos negociações tendo em vista a possibilidade de se fortalecer o CRBE, esse órgão institucional, laico, independente e separado do Itamaraty”, disse.

Martins espera daqui pra frente uma maior aproximação com o Conselho Brasileiro na Suíça: “Tenho a impressão de que as coisas estão mudando na Suíça e que novas forças estão surgindo. Eles têm uma força enorme e podem obter facilmente uma coesão porque já são entidades implantadas. Com os 158 votos que tive, eu não posso dizer que represento 500 mil europeus, isso seria um delírio total. Mas, de todo jeito, agora estou legitimado e fica mais fácil dialogar. Nós estamos simplesmente no início de um processo. As pessoas que me apoiaram na Suíça sabem o que querem”.

Antigo titular da Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras no Exterior e iniciador do processo que culminou na realização das três conferências, o embaixador Oto Maia definiu o momento atual: “As conferências produziram dois resultados importantíssimos que são a Ata Consolidada e a eleição pelo voto direto, com todas as garantias técnicas de confiabilidade, do CRBE. Temos agora um órgão institucionalizado. O presidente da República baixou um decreto que criou uma política pública nova no Brasil para os seus nacionais no exterior. Os brasileiros do exterior, que dialogavam com seu governo de maneira episódica, agora têm um canal permanente para expressar suas reivindicações.”

A 3ª Conferência Brasileiros no Mundo foi prestigiada por diversas autoridades, com destaque para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim.

Também passaram pelo Palácio do Itamaraty o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito da capital, Eduardo Paes, além dos ministros Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Franklin Martins (Secom), Juca Ferreira (Cultura), Carlos Lupi (Trabalho), Carlos Gabas (Previdência Social), Márcia Lopes (Desenvolvimento Social) e Márcio Fortes (Cidades).

O presidente Lula disse aos emigrantes brasileiros que espera pelo retorno de muitos deles: “O Brasil oferece hoje mais oportunidades do que alguns países que consideramos ricos e de primeiro mundo, e certamente haverá espaço nas mais diferentes áreas para que os brasileiros possam voltar. Se a economia brasileira continuar a crescer no ritmo que está crescendo, eu penso que não faltará lugar para que os milhões de brasileiros que estejam fora possam começar a regressar para o nosso país”, disse.

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