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O Rei do Gado

Roland Winter com seus cavalos, que exporta para a Suíça e para a Alemanha. Marta Gregório, swissinfo.ch

Está a entrar na casa dos cinquenta mas mantém a rebeldia dos vinte. Para Cowboy não lhe falta o brinco na orelha nem as tatuagens. Nem sequer o cinto com “Texas” gravado na fivela. Em pleno Alentejo profundo, Roland Winter ainda vive o sonho do Wild wild west.

O dia começa bem cedo em Vale das Antas. Às oito horas da manhã, Roland Winter já bebeu o seu café, fumou os primeiros cigarros e meteu mãos à obra: a caixa do trator já está cheia de sacos de ração para encher as manjedouras das vacas, bois, novilhos, cavalos, éguas e burros. Petra, a companheira, é o braço direito na gestão e manutenção, participando ativamente nos afazeres diários da exploração de Corte do Gafo de Cima, Mértola.

É esta a rotina de Roland há cerca de 20 anos, altura em que deixou a Suíça e foi em busca de um pedaço de Terra para fazer criação de animais. “Viemos cá pela primeira vez em 1985 para ver onde se podia comprar terras”, lembra Roland. Para a família Winter, o Baixo Alentejo pareceu uma escolha natural, uma vez que “na altura era muito fácil comprar terra nesta zona”, diz.

Assim que teve o primeiro pedaço de terra na mão, tratou de pô-lo conforme as suas necessidades: construiu picadeiros, boxes para os animais e plantou árvores. “Agora podem ter sombra mesmo no Alentejo”, diz.

A caminho do Oeste Selvagem

Corria o ano de 1962 quando Roland Winter nasceu na cidade de Aarau, situada no sopé de uma cadeia de montanhas ao norte dos Alpes suíços. Em 1992, trocou a paisagem serrana pelos campos dourados no Alentejo português. No início, criou no seu terreno o primeiro cavalo Quarto de Milha que cavalgou em terras portuguesas. “Aqui temos os famosos Quarter Horse”, diz apontando para o picadeiro coberto.

 

Desenvolvida nos Estados-Unidos a partir do ano de 1600, a raça Quarto de Milha espalhou-se também pelo Canadá, México e outros países, entre os quais se destaca a criação de Roland Winter. Contudo, a herdade de Vale das Antas está longe de ser conhecida apenas pelos seus cavalos. Em 1998 Roland importou da Alemanha e do Luxemburgo os primeiros Aberdeen Angus, a raça bovina preferida na Suíça, tendo-se tornado num dos maiores criadores da espécie. Hoje em dia, Roland possui na sua exploração 50 vacas Aberdeen Angus para criação, fazendo também uso da genética característica desta raça através da inseminação artificial.

Apesar do reconhecimento que tem vindo a ganhar, Roland sofre na pele a precariedade que tem vindo a dilacerar o sector primário em Portugal. “Aqui a terra é árida, há necessidade de comida para os animais. Tenho de importar 50 por cento da comida”, desabafa. Para o suíço, é difícil “ser honesto e conseguir ter uma boa vida em Portugal”. E as discussões em torno da crise económica só fazem vir à tona o lado mais sarcástico de Roland. “Sabia que Portugal é o segundo país com mais consumo de Whiskey per capita? O Whiskey é uma bebida cara”, atira.

Mas longe estão os dias em que Roland trabalhava somente no campo. A 16 de Março de 2009, Roland fundou a Associação de Criadores de Aberdeen-Angus Portugal, juntamente com mais nove criadores entusiastas da raça. Por essa razão, o trabalho de Roland tem-se tornado cada vez mais administrativo. “Agora tenho de dar palestras e tenho reuniões nos

Açores. Antes era mais trabalho de mão, agora é mais stressante. O cúmulo foi quando recebi 48 chamadas de telemóvel num dia”, diz.

Com os pilares da sua vida bem enraizados no Alentejo, Roland Winter descarta por completo voltar à Suíça. “Vendemos a casa de lá”, conta. E mesmo a nível profissional, “vendemos mais gado para Alemanha. Por isso, a Suíça ficou um bocado à parte. E Portugal precisa muito mais de mim”, remata com um sorriso.

A associação Aberdeen Angus Portugal alberga explorações situadas em Portugal continental, na região do Alentejo, e na Região Autónoma dos Açores.

A sede da Associação situa-se na ilha Terceira.

Portugal

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