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Suíço fez design do computador de 100 dólares

O computador de 100 dólares tem até antenas (foto: cortesia). OLPC

A produção em massa do chamado "computador dos pobres" vai começar. Recheado de inovações tecnológicas, a máquina foi desenhada por um famoso designer suíço estabelecido em São Francisco.

A fundação OLPC (One Laptop per Child) vê na distribuição do aparelho para escolares dos países em desenvolvimento um formidável investimento para o futuro. E isso à custa dos governos.

“Trata-se de um projeto de educação e não de um projeto informático”, insiste Nicholas Negroponte, chefe da OLPC, guru de novas tecnologias e autor do “O homem numérico”, um “best-seller” traduzido em mais de 40 idiomas.

Porém Negroponte é, antes de tudo, diretor e fundador do MIT Media Lab, o laboratório de informática da Massachusetts Institute of Technology. Graças a essa posição ele lançou em 2005 no Fórum Econômico de Davos a idéia de criação de um computador de 100 dólares.

O credo da OLPC está inscrito no lema: um computador por cada criança. A distribuição dos aparelhos nas escolas não resolve a questão da “democratização do acesso à tecnologia”. A maneira mais efetiva de fazê-lo, acredita o pesquisador, é que cada aluno tenha seu próprio computador.

O aparelho serviria de instrumento de aprendizado, enciclopédia, bloco de notas e janela para o mundo, graças à Internet. As crianças poderiam levá-lo a qualquer lugar e cuidariam melhor dele do que os aparelhos coletivos dispostos nas salas de aula.

Manivela quebrada

Pessoa de convicção, Nicholas Negroponte também dispõe de bons contatos. Rapidamente ele conseguir convencer gigantes da informática como o motor de procura Google, o fabricante de microprocessadores AMD, os grupos telefônicos SES Global e BrightStar, ou a Red Hat, distribuidor de sistemas operacionais livres Linux, de embarcar nessa aventura.

Juntamente as empresas ofereceram 16 milhões de dólares. Em novembro de 2005, a OLPC conseguiu apresentar o primeiro protótipo na Cúpula da Sociedade da Informação em Tunis, Tunísia.

Destinado aos países onde o fornecimento de energia elétrica é aleatório, o pequeno computador dispõe de uma bateria recarregável sem necessidade de corrente elétrica. Por isso ele foi aparelhado com uma manivela. Durante a demonstração, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, acionou-a com tanta convicção que ela terminou ficando em suas mãos.

Obviamente o computador popular ainda necessita de algumas revisões. Esse será o trabalho de Yves Béhar, o designer suíço contratado pelos americanos. Sua empresa “Fuseproject” foi contratada pela OLPC em março de 2006 para realizar o projeto.

Solução high-tech

“Tecnicamente esse não é um produto barato, do ponto de vista de qualidade, ao contrário de muitos que são desenvolvidos para os mercados de países em desenvolvimento”, declara Béhar. “Nele existem detalhes técnicos únicos e muito mais avançados do que os encontrados nos computadores que são dez vezes mais caros”.

A tela é vista por muitos como “revolucionária”. Os técnicos do MIT inventaram uma nova matriz de cristal líquido, onde cada pixel pode refletir a luz e deixá-la passar através de um filtro colorido. O resultado: no caso de forte exposição ao sol, a imagem passa para preto-e-branco e os textos continuam perfeitamente visíveis.

Para a bateria, o novo carregador é mais robusto e ergonômico do que o sistema da manivela. Ele funciona como um motor de arranque de uma máquina de cortar grama. O movimento para puxar a corda é mais amplo e, dessa forma, menos cansativo. Também existe a possibilidade de “pedalar” com os pés. Assim o usuário precisa apenas fazer seis minutos de exercício para ter uma hora de autonomia no seu computador.

Além disso, também existe a questão do desenho da aparência. “Esse é um aspecto importante, pois funciona como um embaixador do projeto. Não importa se o usuário não compreende as questões técnicas, mas ele tem uma atração imediata pelo computador se seu design é atraente”, explica Béhar.

Compacto, lúdico, robusto, feito para funcionar tanto nas regiões desérticas como nos trópicos, o novo PC também é o primeiro aparelho desenvolvido especialmente para crianças.

“Pilar da evolução”

Porém as crianças mais pobres não têm outras necessidades mais urgentes? Desde o lançamento do projeto, as críticas nesse sentido não faltaram e um país como a Índia – que também protege sua própria indústria informática – já bateu as portas literalmente no nariz da OLPC.

Para Yves Béhar, é óbvio que o computador “vai levar um acesso à informação que não existe nesses países”. Sem negligenciar as outras necessidades, o designer vê na informação um dos “pilares da evolução”.

“Esse projeto tem um valor muito grande nessa questão do acesso à informação e, a longo prazo, até mesmo no acesso à democracia. Porém eu espero que esse acesso a novos horizontes e a novas idéias ocorra através do indivíduo”.

Made in Taiwan

O futuro dirá se o objetivo do suíço será alcançado. Por enquanto a OLPC prefere anunciar para o início de janeiro a conclusão de contratos com a Argentina, Brasil, Líbia, Nigéria, Ruanda e Uruguai.

Os primeiros computadores já foram distribuídos e a produção em massa deve ser iniciada em algumas semanas na fábrica Quanta, em Taiwan, que fabrica um terço dos aparelhos portáteis no mundo, com destaque para a Dell e a HP.

Atualmente o custo unitário de cada unidade está mais para 150 dólares do que 100, porém a OLPC tem esperanças de ver a queda de preços com a entrada de novos pedidos, até alcançar essa barreira psicológica.

swissinfo, Marc-André Miserez

Processador AMD, 366 MHz, 128 Mo de RAM, 512 M. de memória de trabalho. Tela colorida e monocrômica de 19 centímetro, resolução de 1.200 x 900 pixel, 2 entradas USB, duas possantes antenas WiFI (conexão com a Internet e conexão entre computadores), alto-falantes e câmera web integrada. Sistema operacional Linux e, possivelmente, até o Windows (caso haja um acordo com a companhia). Consumo de energia 10 vezes menor do que um laptop tradicional. Bateria recarregável manualmente.

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