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Suíço voa pela consciência ambiental no Brasil

Gerard Moss também voa em balão no projeto Rios Voadores Margi Moss

Celebrada em outubro em todo o Brasil, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia teve como uma de suas atrações este ano o Projeto Rios Voadores, idealizado e coordenado pelo aviador e ambientalista suíço-brasileiro Gérard Moss.

Convidado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Moss esteve em Petrópolis (RJ), onde apresentou os resultados do projeto que, ao fim de cinco anos de trabalho, se encerrará em 2012.

A bordo de um avião e, mais recentemente, de um balão, Moss e sua equipe vêm coletando amostras de vapor de água sobre a floresta amazônica desde 2007, além de seguir a trajetória dos “rios voadores”, como são denominados os cursos de água atmosféricos que transportam umidade e vapor da Bacia Amazônica para o Sul do Brasil. Atualmente, a equipe de cientistas que trabalha no projeto está na fase de análise do banco de dados que foi criado a partir das amostras coletadas.

Desde o ano passado, as aventuras de Moss ganharam um novo ingrediente, o balão, adotado como alternativa na busca por uma amostra mais pura de vapor: “Os cientistas diziam que o avião alterava um pouco o ar quando coletávamos a evaporação da água da floresta. Existia a dúvida se o avião pegava uma amostra realmente limpinha. Por isso, eu resolvi comprar dois balões de ar quente e os estamos usando para coletar as amostras de vapor de água logo acima da floresta”, diz o suíço.

Mesmo para pilotos experientes, a vida tem sempre o que ensinar: “Foi uma grande novidade para mim, porque eu não pilotava balão. Aprendi e tirei a carteira de balonismo. Mas, estou sempre sofrendo porque tenho pouca experiência. Nos vôos, estou sempre acompanhado de pessoal que tem mais experiência”, diz Moss.

Foi preciso aprender a lidar com novas dificuldades: “No avião, se você quer ir numa direção, basta botar potência que ele vai. O balão, por sua vez, depende de muitas coisas. Fazemos um planejamento para cada vôo, com pesquisas na internet quanto às condições de vento e de visibilidade. Mas, os ventos são tão difíceis e imprevisíveis que eu já errei algumas vezes e não consegui pousar no lugar em que eu queria”, conta.

Para o suíço, no entanto, o prazer da descoberta de uma nova forma de voar supera tudo: “A gente consegue voar com o balão bem baixinho, tocando a copa das árvores, é uma sensação extraordinária para mim. O silêncio total sobre as árvores é uma coisa fantástica. Eu, que adoro a floresta, nunca a vi tão de perto. É como estar usando um tapete mágico para voar”, conta Moss. 

Ele realizou a mais recente expedição em balão há três semanas, em Humaitá (AM): “Coletamos um pouco menos do que prevíamos, por conta da meteorologia incerta, mas as amostras que colhemos foram puríssimas, coletadas naquele vapor que sai da floresta às seis da manhã”.

Crianças professores

Uma nova atividade é o incremento das ações de divulgação do Projeto Rios Voadores junto às crianças e à população. Em parceria com o Ministério da Educação e com os governos estaduais e municipais, está sendo realizado um programa de formação de professores para difundir os conhecimentos trazidos pelas pesquisas: “Duzentos professores serão formados e, com o repasse desse conhecimento, esperamos atingir diretamente a 50 mil crianças. Em outubro já chegamos a 24 mil”, comemora Moss.

“O objetivo é falar dos rios voadores, que é um fenômeno interessante para as crianças, como um pretexto para falar sobre as mudanças climáticas, a importância da floresta e mesmo de cada árvore nas cidades. Eu procuro mostrar todos os serviços ambientais que a floresta está fornecendo de graça para a gente e, ao mesmo tempo, mostrar o perigo que representa a perda da vegetação na floresta amazônica e o desequilíbrio no regime dos rios voadores”, explica o suíço.

Monitoramento

Outra novidade é a escolha de 40 cidades brasileiras, que passaram a ter seus rios voadores monitorados diariamente: “Ao monitorar as trajetórias de ar que chegam nessas cidades, as populações podem saber de onde e em qual quantidade veio aquela água da chuva que choveu ontem, por exemplo”.

Moss tem desde o início do ano uma parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), dono de um supercomputador que calcula essas trajetórias todos os dias. As informações são disponibilizadas no site do Projeto Rios Voadores na internet: “Essa é uma maneira muito bacana de envolver as pessoas da cidade e fazer com que elas cheguem por si próprias à conclusão sobre o quanto dependem da Amazônia”, diz.

Além disso, uma exposição itinerante do Projeto Rios Voadores está sendo levada a importantes cidades brasileiras. A última visita aconteceu em Uberlândia (MG), entre os dias 6 e 16 de outubro. As outras cidades já visitadas pela exposição são Ribeirão Preto (SP), Londrina (PR), Chapecó (SC) e Cuiabá (MT), e o próximo destino será Brasília. A exposição inclui palestras e até o balão, que vai a cada cidade para as crianças o verem subir e descer.

A nova faceta do trabalho entusiasma Moss: “Eu sou sempre muito animado com as pesquisas científicas e a tarefa de fornecer dados aos cientistas. Mas, mais importante do que isso é fazer com que essa informação científica tenha o papel de mudar o comportamento das pessoas. Poucas pessoas lêem uma publicação científica, mas o que nós queremos fazer, e acho que estamos conseguindo, é transformar esses dados científicos em informações simples e palpáveis. Essa combinação de aventura, ciência e educação ambiental pode fazer a diferença na hora de conscientizar as pessoas quanto ao aquecimento global”, aposta.

O trabalho de pesquisa e educação ambiental comandado pelo suíço-brasileiro Gérard Moss depende de apoio financeiro para continuar existindo após 2012.

Até o momento, o Projeto Rios Voadores consegue manter suas expedições e atividades com recursos do Programa Petrobras Ambiental.

O futuro, admite Moss, éincerto: “Com a crise econômica, a questão ambiental foi deixada um pouco de lado. Mas, é necessário perceber que não existe nenhuma discussão mais urgente do que essa”, diz.

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