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Suíços ainda são reticentes às teorias de Darwin

Zoológico de Basiléia: primos longínquos frente a frente. Keystone

Segundo um estudo internacional, quase um terço dos suíços recusam-se a admitir que o homem se desenvolveu a partir de espécies animais anteriores.

Essa rejeição das teorias de Darwin por 28% da população (mais de 10% respondem que “não sabem”) reflete o peso dos valores religiosos, o conservatismo ambiente ou simplesmente as lacunas do sistema educativo?

Dirigido por Jon Miller, da Universdade Estadual de Michigan, nos Etados Unidos, esse estudo acaba de ser publicado na famosa revista Science. Seus autores questionaram mais de 34 mil pessoas em 32 países da Europa, o Japão e nos Estados Unidos.

Quando afirmamos que “os seres humanos são produto da evolução de espécies animais mais antigas”, 80% dos islandeseses, dinamarqueses, suecos e franceses afirmam que isso é a pura verdade.

No outro extremo, apenas a Turquia (27% de convictos) evitam que os Estados Unidos sejam os campeões do ceticismo frente às teorias de Darwin. No país de George W. Bush, de fato, 40% das pessoas questionadas consideram-nas perfeitamente verdadeiras.

Quanto os suíços, com 62% de convencidos pela teoria evolucionista, estão entre Malta, República Checa e Polônia, esta de forte tradição católica.

Necessidade de crer

Esse resultado me incomoda, afirma Sebastian Bonhoeffer, professor de biologia teórica na Escola Politécnica Federal de Zurique.

“Isso me incomoda muito por razões profissionais, mas há algo de mais profundo que de desagrada ainda mais e que não é, necessariamente, ligada é teoria da evolução”, explica o cientista.

“É que as pessoas têm mais necessidade de crer do que de examinar as provas de maneira crítica. Finalmente, essa atitude existe não somente frente a Ciência mas a outros problemas de sociedade”.

Assim, quando os suíços aceitaram no final do ano passado uma moratória de cinco anos aplicada aos organismos geneticamente modificados (OGM), Klaus Ammann, diretor do Jardim Botânico de Berna e memnbro do comitê contra a moratória, declarara a swissinfo: “os que eram a favor da moratória puderam expor fatos falsos e meias verdades porque a população estava disposta a crer”.

Nada bom para a democracia

Rolf Strasser, jornalista cristão especialista em sociologia da religião, acha que muitos suíços são refratários às provas científicas.

“Muitas das pessoas questionadas refutam a teoria da evolução porque a julgam pouco convincente e confunde ciência e ideologia, sobretudo nos artigos do que chamamos de jornalismo científico e nos livros escolares”.

Para Rolf Strasser, “uma melhor compreensão da ciência é um bom fator de tolerância, mas a comunidade científica deveria explicar melhor ao público o que é estabelecido e o que resta de hipótese. A fé cega nas crenças, religiosas ou não, não é boa para a democracia”.

Dois anos atrás, por ocasião de uma votação sobre as células-tronco, o ministro do Interior Pascal Couchepin, cuja pasta inclui educação e pesquisa, declarara: “Deus nos deu a inteligência para que nós a utilizássemos na compreensão da natureza”.

É difícil estimar quantos entre os dois terços dos votantes que aceitaram a lei pensavam como ele: mas também é difícil imaginar que um ministro francês ou britânico da educação fizesse comentários desse tipo.

Déficit educacional

Para Sebastian Bonhoeffer, o que está em jogo não exatamente a luta entre ciência e religião, mas a capacidade de formar sua própria opinião baseada em provas à disposição.

“Não quero criticar os suíços em particular, mas acho que os resultados desse estudo colocam em evidência um déficit educacional, afirma o professor de zuriquense. Tem gente que nunca vai acreditar na evolução, mas certamente tem muito mais gente que seria convencida se tivessem aprendido a avaliar as provas”.

“Não deveríamos dizer às pessoas é assim que funciona o mundo” explica
Sebastian Bonhoeffer. Deveríamos so, ensinar a julgar as provas e a examinar as diferentes hipóteses de maneira crítica. Se conseguirmos, de maneira não dogmática, as pessoas chegarão à conclusão que há provas evidentes que viemos de outros animais”.

swissinfo, Thomas Stephens

A Constituição federal da Suíça garante o direito à educação e exige a obrigação e frequentar a escola, mas o conteúdo e a organização dos cursos são da competência dos cantões (estados).

Isso significa que o país tem 26 sistemas educativos diferentes, mesmo se tende atualmente à harmonização.

Segundo a Conferência suíça dos Diretores Cantonais de Instrução Pública, a questão dos alunos que se recusam a admitir a teoria da evolução não foi colocada até agora.

Todos os organismos vivos – do homem às flores – são parentes longínquos que evoluíram através de mutações genétivas sucessivas e da seleção natural, a partir de uma molécula capaz de se reproduzir, surgida na Terra há 3,5 bilhões de anos.

A seleção natual é o processo não-aleatório pelo qual os organismos mais aptos à sobreviverem crescem e se multiplicam melhor que seus rivais. Assim, os genes responsáveis por essa capacidade de sobreviver se transmitem melhor do que os outros.

A teoria da evolução pela seleção natural permite explicar como os organismos muito simplres puderam dar origem, ao lonto de milhões de anos, a organismos complexos e perfeitamente adaptados ao seu meio ambiente, sem qualquer intervenção de uma vontade sobrenatural.

As provas estabelecidas pela teoria da evolução são numerosas e quase universalmente admitidas pelos cientistas, não apenas na biologia mas também na geologia, na física e na astronomia.

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