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Suíços participam da Convenção de Tatuagem de Milão

Nico, do One Love Tattoo, de Genebra, em ação em Milão swissinfo.ch

A tribo da tatuagem encontrou-se num hotel na Convenção de Milão para celebrar a perpetuação desta arte milenar.

Tatuadores e tatuados de todo o mundo, suíços inclusive, se reuniram numa quermesse marcada por desenhos que vão desde arquétipos com as origens perdidas no tempo e no espaço até singelas pétalas de rosa.















A tribo da tatuagem encontrou-se num hotel na Convenção de Milão para celebrar a perpetuação desta arte milenar. Tatuadores e tatuados de todo o mundo, suíços inclusive, se reuniram numa quermesse marcada por desenhos que vão desde arquétipos com as origens perdidas no tempo e no espaço até singelas pétalas de rosa.

Duas salas foram preparadas para receber os artistas e os visitantes. De longe, a área parecia um formigueiro humano, com um vai e vem constante de pessoas. Mais uma vez é a prova de que o corpo marcado exerce uma grande fascinação.

Pode-se admirar, pode-se criticar, mas a indiferença diante de uma pele tatuada não existe. Este mundo de imagens é um convite para entrar no universo onírico e lúdico do ser humano, inundado de símbolos que emergem na epiderme como se fossem sinais que decifram as inquietudes da alma e a busca por algo de divino.

Não contam as cicatrizes e acidentes de percurso. Estas são frutos do acaso. Mais importantes são aquelas que brotam do ser profundo, personalizadas ao extremo por mãos ágeis que conduzem as agulhas com a sensibilidade de um cirurgião e colorem os poros com a criatividade dos artistas plásticos.

O asseio quase maníaco, hospitalar, garante a segurança de todos os presentes. Luvas, equipamentos esterilizados, enfim, na convenção dos tatuadores, a saúde coletiva vem em primeiro lugar. Eis o motivo pelo qual os tatuadores budistas, que gravam na pele as orações com material não desinfetado. Eles foram os únicos excluídos do evento.

Ao todo, quase 300 tatuadores bateram ponto em Milão. Do Japão aos Estados Unidos, da China ao Canadá, passando pela Polinésia, Brasil e pela Suíça – dois representantes, Nico, da One Love Tattoo, de Genebra, e Matthieu Kesselring, do Family Love – mostraram como a tatuagem é difundida em todo o planeta. O encontro desta turma resultou num grande caldeirão multiétnico, com os idiomas diferentes, mas unidos pela linguagem universal do corpo.

Tipos

 

E desta reunião observa-se que a tatuagem parece ter vida própria no seio da sociedade. Ela se nutre de valores diferentes como a religião, a crença, o modismo, a ideologia, enfim, com uma quantidade tão grande de variáveis socioculturais que é muito difícil enquadrar este fenômeno.

Os tipos e as formas de tatuagem se concentram basicamente em três tipos: a artística, a japonesa e a tribal, que não deve ser generalizada como “maori”. Mas entre uma e outra existe um mar de variações, nuances, matizes quase infinitas. As possibilidades, as influências, as interpretações e as fontes primárias de uma tatuagem podem ser desde um quadro de um pintor renascentista até mesmo uma singela ideia de um animal, por exemplo.

“Uma vez , eu tatuei um relógio no pulso de um suíço. Ele marcava o horário das cinco horas da tarde. O motivo era que o cliente queria lembrar para sempre que aquela era a hora de deixar o trabalho”, lembra sorrindo o suíço Matthieu Kesselring, da Loe Family, à swissinfo.ch.

Ele conta que entrou neste mundo por causa da irmã que casou-se com Filip Loe, um dos grandes nomes da tatuagem ocidental. “ Eu vinha do mundo da gráfica e acabei caindo neste universo por acaso. Eu adoro fazer as tatuagens japonesas e tribais, é uma continuação do trabalho do meu cunhado. É a arte da vida para mim”, diz Matthieu Kesselring, com 18 anos de tatuagem nas costas, nos braços, no pescoço, dele próprio e dos outros.

Nico, de Genebra, conta: “ Eu comecei quando ainda era adolescente. Antes eu desenhava, depois passei para a tatuagem que é uma coisa completamente diferente. E espero não parar mais. Esta é a minha vida. Eu prefiro as tatuagens tradicionais, as japonesas; existem hoje muitas correntes, mas, estas que citei são as minhas preferidas”, explica à swissinfo.ch, enquanto imprime uma tatuagem tribal no braço de um cliente.

 

História

 

A tatuagem praticamente acompanha a vida da humanidade desde a civilização egípcia. Existem provas arqueológicas desta prática entre o povo dos faraós, entre 4000 e 2000 anos a.C.

De alguma forma ela chegaria à Europa. Em 787, em plena época medieval, a tatuagem chegou a ser proibida pela Igreja Católica porque era considerada parte de ritos pagãos.

Foi no período das grandes navegações que ela foi “descoberta” e difundida de vez ao redor do mundo. O primeiro a registrar esta prática tribal foi o almirante James Cook, em suas viagens pelos Mares do Sul. Ao desembarcar na Nova Zelândia, na Polinésia e em outras ilhas, ele anotou o hábito dos povos locais de realizar tatuagens no corpo. Os maoris, nativos, a usam em seus rituais religiosos.

Na época elas eram feitas com ossos de animais muito afiados, espécie de “ancestral” das modernas agulhas. Um martelo servia para  bater sobre eles e, assim, furar a pele e injetar a tinta do desenho. O barulho deles se aproximava à fonética do som “tatau”…assim, ficou conhecida como “tattoo”, em inglês.

O governo de sua majestade do Império Britânico, em 1879, acabaria por adotar a tatuagem como método de identificação de prisioneiros. Mais ou menos como os escravos no Brasil eram marcados na pele com o ferro quente, como também era feito com os animais de um rebanho. Assim, a tatuagem acabou tendo a sua imagem associada, de alguma maneira, à marginalidade, à vida criminosa.

Porém, foram os homens do mar, os marinheiros, que adotaram o uso da tatuagem como um valor comum a quem se arriscava em viagens pelo mundo afora. E, como consequência, espalharam novamente o uso desta simbologia entre os povos.

Peregrinação

Não é por acaso que os tatuadores e tatuados se movem em tribos que não se isolam, mas, sim, interagem com a sociedade. Diferentes cidades do mundo disputam a possibilidade de ser a sede de convenções sobre o tema. Bruxelas vai organizar uma no mês de outubro; Budapeste, em março; Barcelona, em setembro; e Lugano, sul da Suíça em agosto. “ Eu acho que faria bem para a Suíça ter mais eventos como este, também em Zurique e Genebra”, diz Matthieu Kesselring à swissinfo.ch.

E de evento em evento, de feira em feira, esta tribo vai colorindo corpos e mentes. Muitos são autodidatas, outro estudaram em academias de Belas Artes, enfim, a origem e a formação de um tatuador também é muito variada. Os apaixonados pela tatuagem japonesa chegam a viajar para encontrar os mestres no oriente. Os admiradores da tribal fazem as mochilas e partem para a Polinésia Francesa ou Nova Zelândia, para não falar de destinos mais exóticos.

Família, céu, mar, terra, elementos dionisíacos são algumas das imagens mais pedidas no mundo da tatuagem. É preciso ter paciência para ficar ali sentado ou deitado, horas a fio, para ser tatuado.

Uma pequena sessão de infinitas agulhadas, sem direito a careta de dor e eis o corpo transformado, ou parte dele, em outdoor ambulante, vestido, decorado com uma nova “pele”.  O melhor dos efeitos colaterais é, sem dúvida, aquele visual. É preciso ter as ideias bem claras porque o tempo passa, mas a tatuagem fica.

A tatuagem é praticamente irreversível mas com modernas técnicas é possível eliminá-las contudo, devolver à pele a cor original.

Em 1891, foi inventado um aparelho elétrico para fazer tatuagens por Samuel O’Reilly. Antes, Thomas Edison já tinha patenteado uma invenção semelhante.

O hábito de tatuar o nome da namorada no corpo surgiu durante a Segunda Guerra Mundial.

A pessoa que faz uma tatuagem no corpo deve estar atenta a não sofrer nenhum tipo reação alérgica a um alimento para evitar problemas na pele enquanto ela não tiver absorvido as tintas.

As agulhas penetram 1,7 mm a 2,5 mm na pele, dependendo do tipo de ponta e de contorno do desenho, o traço.

A tatuagem, com o tempo, escurece naturalmente devido a produção da melanina. Quem tem tatuagens coloridas dever evitar o sol.

O tatuador Robert Hernandez é um dos gurus da arte de pintar motivos “demoníacos”.

O japonês Hirotoshi é um dos grandes nomes da tradicional técnica Tebori.

Pin up, veleiro, espada com serpente, rosas, são alguns dos “motivos” são tendências atuais.

Milão

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