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Tailândia aguarda uma solução política

Corpos de protestadores no chão quarta-feira, quando instaurado o toque de recolher Keystone

Uma ordem precária reina em Bangcoc, capital da Tailândia, depois do ataque do exército ao bairro ocupado pelos manifestantes camisas vermelhas.

No entanto, as causas da crise econômica – e dos protestos – na Tailândia continuam, ameaçando a estabilidade da região.

O exército garante ter retomado o contrôle do centro da capital tailandesa. Correspondentes relatam que sete líderes do movimento camisas vermelhas se renderam e um foi detido horas depois. Teriam terminado assim os dois meses de ocupação do centro financeiro e comercial de Bangcoc.

Nesse período, o primeiro ministro Abhisit Vejajiva tentou encontrar uma solução política propondo, por exemplo, antecipar as eleições. O movimento de protesto e seus elementos mais radicais responderam com novas exigências.

Legitimidade perdida

“O governo atual que chegou ao poder em 2006 com o apoio do exército já não tinha muita legitimidade antes da crise atual. Agora perdeu o resto e é muito criticado pela gestão da crise”, afirma Jean-Luc Maurer, diretor do Centro de Estudos Asiáticos do Instituto de Estudos Internacionais e do Desenvolvimento, em Genebra.

Dado o impasse político das últimas semanas, o assalto pelo exército e a instalação do toque de recolher na capital era sem dúvida inevitável.

Contudo, a insatisfação social e política expressa pelos camisas vermelhas – movimento que surgiu da derrubada do poder de Thaksin Shinawatra, por um golpe militar em setembro de 2006 – continua.

Disparidades

“A crise que a Tailândia atravessa é realmente profunda porque resulta de uma série de problemas acumulados há muito tempo, cuja causa principal é um desenvolvimento desigual”, sublinha Maurer.

“A Tailândia teve um forte crescimento, mas sobretudo na capital, certas indústrias e uma parte da burguesia urbana. A maior parte do país ficou na beira da estrada”, explica Maurer.

De fato, as desigualdades sociais e regionais só aumentaram desde os anos de 1990. A Tailândia conseguiu superar a crise asiática de 1998, mas as medidas tomadas então pelo governo agravaram as disparidades entre ricos e pobres.

Quanto às críticas a Thaksin Shinawatra (frequentemente chamado de Berlusconi tailandês), cujo retorno ao poder é reivindicado pelos camisas vermelhas, elas exprimem a insatisfação geral dos que estão à margem do desenvolvimento e de a uma parte da classe média atingida pela velha oligarquia militar e aristocrata que domina o país, defendida pelos camisas amarelas.

Uma outra crise em gestação

A insatisfação é tão profunda que o garante da unidade e estabilidade do país – o rei Bhumibol Adulyadej, venerado pela grande maioria dos 62 milhões de habitantes do reinado de Siam – não pode servir de árbitro entre os “amarelos” e os “vermelhos”.

É um papel essencial em um país habituado a golpes de Estado – mais de 30 desde a instauração da monarquia constitucional em 1932 – apesar da abertura democrática entre 1997 e 2006. Além disso, Rama IX (seu nome dinástico) tem 82 anos e está doente.

“A sucessão vai muito mal. Seu único filho, Wajiralongkorn, não tem popularidade e parece não estar à altura para assumir o papel estabilizador desempenhado por seu pai. Se Bhumibol falecer brevemente, a Tailândia ficará em má situação”, prevê Maurer.

Confiança dos investidores está abalada

Até agora, a crise não afugentou os empresários estrangeiros, “mas começa a preocupar os investidores”, reconhece Akapol Sorasuchart, presidente do Thaïland Convention & Exhibition Bureau, que está em Genebra esta semana para apresentar as vantagens de Bangcoc como centro de congressos internacionais.

De fato, a importância regional da Tailândia e de sua capital não está em questão. Várias empresas estrangeiras, incluindo multinacionais suíças, dirigem a partir de Bangcoc suas atividades para todo o sudeste asiático. Não há muitas alternativas, com exceção de Cingapura.

Impacto para a região

Se a crise continuar e se agravar na Tailândia, toda a região pode ser afetada. “A Tailândia sempre foi vista como um fator de estabilidade no Sudeste Asiático”, confirma o editor de Genebra Mathias Huber, grande viajante e conhecedor dessa região que continua instável.

Membro da Associação Suíça-Birmânia, Huber teme que, em caso de uma crise persistente na Tailândia, a presença dos militares reforce a junta militar no poder na Birmânia.

Por sua vez, Jean-Luc Maurer considera que outras fragilidades que minam a Associação dos Países do Sudeste Asiático (ASEAN), poderiam ressurgir com a crise tailandesa.

“A Tailândia tem um contencioso fronteiriço com o Camboja, o que provocou atritos no ano passado. A Tailândia também enfrenta uma forte rebelião islâmica com ramificações na Malásia, um país que também terá graves dificuldades políticas”.

Ele conclui que, “afinal de contas, a Indonésia – outro peso pesado da ASEAN – é hoje o país mais democrático da região, depois de 32 anos de ditadura e uma década de transição difícil”.

Frédéric Burnand, Genève, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

No total, 6500 suíços vivem na Tailândia, segundo estimativas de Christine Schraner Burgener, embaixadora da Suíça em Bangcoc. É a mais importante comunidade suíça na Ásia.

A maioria reside no balneário de Pattaya e na ilha de Phuket.

Em 2007, segundo os últimos dados disponíveis, o total dos investimentos diretos suíços na Tailândia era de 2,4 bilhões de francos suíços.

Cerca de 150 empresas suíças estão presentes na Tailândia, a maioria pequenas e médias (PME). Elas empregam 41.300 pessoas e consideram a Tailândia como base de negócios para o sudeste asiático. A maioria das grandes empresas suíças também está presente no país.

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