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Telecom World quer mais acesso à banda larga

Metade da população da África tem um telefone celular - e não é apenas para falar. Keystone

A demanda por novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) está surda à crise, impulsionada pelo crescimento dos mercados emergentes, onde a exclusão digital ainda é grande.

Políticos de alto escalão e líderes de telecomunicações se reuniram em Genebra esta semana, durante o salão Telecom World 2011, para discutir a questão da banda larga, vista como solução para ajudar a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio até 2015.

“Estou absolutamente convencido de que a banda larga será a tecnologia que define o início do século XXI”, declarou Hamadoun Touré, presidente da União Internacional de Telecomunicações (UIT), em uma conferência no centro de exposições Palexpo de Genebra.

O chefe da UIT não tem dúvidas quanto à banda larga, uma conexão à Internet rápida e constante que irá “revolucionar a vida de todos, em todos os lugares” e ajudar a oferecer melhorias radicais nas áreas da saúde, educação, transportes e serviços.

“Mais importante, ela nos ajudará a acelerar o progresso no sentido de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, disse ao público da Cúpula de Liderança da Banda Larga.

A adoção das TIC continuou aumentando nos últimos dez anos devido em grande parte aos mercados emergentes que compensaram a estagnação nos países desenvolvidos.

No final de 2010, o número de telefones celulares por pessoa situou-se em mais de 100% em 97 países (na Suíça chegou a 120%). A penetração da Internet em todo o mundo aumentou em 30%.

De acordo com a ITU, enquanto mais de 2,6 bilhões de pessoas ainda não tinham acesso a banheiros e outras formas de saneamento, havia quase quatro bilhões de assinaturas de telefonia móvel nos países em desenvolvimento. Nessas regiões a participação da telefonia móvel atingiu 70% e a da Internet 21%.

Pobreza virtual

O rápido crescimento da economia digital apresenta grandes oportunidades. Touré ainda alertou para o risco de se criar um mundo de “banda larga rica e banda larga pobre”.

Ainda há muito a ser feito para os mais pobres – os 830 milhões de pessoas que  vivem nos 49 países menos desenvolvidos designados pela ONU.

Enquanto o número de assinantes de telefonia móvel nos países menos desenvolvidos aumentou de dois para 280 milhões e o número de usuários de internet subiu para 38 milhões em 2010, a penetração da internet foi de apenas 4,6%.

A Comissão da Banda Larga, que representa indústria, meio acadêmico e os países, divulgou um conjunto de metas para os governos na terça-feira (25), que incluem a conexão da metade da população pobre do mundo à banda larga até 2015 e 15% das pessoas dos países menos desenvolvidos.

Touré disse que os objetivos eram “ambiciosos, mas possíveis” se os governos trabalharem juntos com o setor privado.

Mais acesso

As tarifas da banda larga caíram muito na última década, mas a internet de alta velocidade permanece inacessível em muitos países de baixa renda. Na África, o custo fixo dos serviços de banda larga equivalem em média a 290% do salário mensal.

“Durante muito tempo, os países em desenvolvimento foram incapazes de participar efetivamente da economia global simplesmente por causa de seu acesso limitado à banda larga”, declarou Paul Kagame, presidente do Ruanda, por vídeo. O país africano foi pioneiro em implementar a telefonia celular e a banda larga através de um plano nacional.

“Isso poderia tornar-se muito, muito mais barato se os governos investissem em infraestrutura básica e os usuários pagassem pelos serviços”, disse Walter Fust, representante da Suíça na Comissão da UIT.

“Estamos sentados em bilhões de dólares de fundos do serviço universal que não estão sendo utilizados. Só 17 países usaram esses fundos para desenvolver infraestrutura.”

Modelo de negócio

Voltando ao setor privado, como as empresas de telecomunicações atuam em um ambiente de negócios mais difícil, com mais concorrentes, maior regulamentação e margens menores, há uma sensação de que as empresas tradicionais precisam repensar seus modelos de negócios.

“Nós ainda não conseguimos encontrar a solução certa para oferecer um serviço acessível aos mercados emergentes, onde a maior parte do crescimento está acontecendo”, disse Steve Collar, diretor-executivo da empresa de telecomunicações por satélite O3B. “Até que isso seja solucionado, o problema vai piorar.”

Conseguir uma cobertura suficiente para os serviços de banda larga sem fio também é outro problema.

“É crucial que o potencial sem precedentes da banda larga sem fio não seja sufocado pela falta de cobertura adequada”, disse Eric Loeb, presidente da Câmara de Comércio Internacional de Telecomunicações, em um comunicado na semana passada.

Conteúdo e mentalidade

Um dos maiores problemas de conexão ressaltado pelos participantes da cúpula é a necessidade de desenvolver conteúdos locais e úteis para regiões como África, Índia e América Latina.

“O que um fazendeiro quer saber são coisas do tipo tempo ou preço dos produtos, que requer apenas uma aplicação simples, não um banco de dados enorme”, disse Oscar Von Hauske Solis, patrão da empresa mexicana de telefonia Telmex Internacional.

Em última análise, o que este setor de rápido desenvolvimento precisa é uma nova mentalidade.

“Tendo em conta que a garotada de 14 anos está ditando os novos usos das redes e nós líderes de 50-60 anos estamos tomando as decisões, devemos permanecer humildes e de mente aberta”, disse Ben Verwaayen, patrão da Alcatel Lucent, ao jornal suíço Le Temps.

A “ITU Telecom World” reúne os principais nomes da indústria mundial de telecomunicações e tecnologia da informação e comunicação.

O evento em Genebra acontece entre os dias 24 e 27 de outubro de 2011, e conta com a presença de 250 líderes mundiais, incluindo chefes de Estado, prefeitos, chefes de grandes empresas de telecomunicações e outros gurus de TIC.

Empresas como a Alcatel Lucent, ATT, Mobile China, Du (Emirados), Ericsson, Etisalat, Fujitsu, Huawei, Intel, KDDI, Microsoft, NTT Corporation, NTT DoCoMo, Q-Tel, Telkom, Türk Telekom, Verizon e ZTE fizeram a viagem. Há também 20 stands nacionais.

O perfil do salão Telecom World mudou, abandonando os eventos públicos exuberantes na década de 1990 e os novos lançamentos para se concentrar nos profissionais da indústria, o alto nível das redes de TIC e fóruns de discussão. Os números de visitantes caíram de 200 mil para 40 mil em 2009. A mostra bienal vai se tornar um evento anual e será realizada em Dubai em 2012, e pode retornar à Genebra em 2013.

Adaptação: Fernando Hirschy

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