Telecomunicações no Haiti são afetadas por ameaça de gangue
As redes de telecomunicações do Haiti são severamente afetadas pela falta de combustível causada pelo crescente controle das gangues sobre a capital, alertaram profissionais do setor nesta terça-feira (26).
“Nunca vi nada assim em dez anos”, disse à AFP Maarten Boute, presidente-executivo da companhia telefônica Digicel, que cobre 75% do mercado haitiano.
“Hoje temos 430 antenas afetadas, das 1.500 de todo o país, o que prejudica centenas de milhares de clientes”, disse.
As quadrilhas que controlam grande parte da capital, Porto Príncipe, bloqueiam as rotas que levam aos terminais de petróleo, o que vem complicando – há vários meses – o abastecimento de combustível.
Essa situação leva à suspensão do serviço de telecomunicações móveis porque as antenas são alimentadas com energia elétrica de geradores térmicos.
“Agora temos uma pequena reserva de combustível que nos permite, dia a dia, manter o serviço às áreas provinciais e às mais importantes de Porto Príncipe”, acrescentou Maarten Boute, que especificou que a maior parte do abastecimento de combustível é feita de motocicleta.
Desde segunda-feira, ocorre uma greve geral na capital e em várias províncias do país, convocada pelos sindicatos dos transportes. Escolas e comércios permanecem fechadas em Porto Príncipe, onde as ruas normalmente movimentadas estão desertas.
Além disso, “há rádios que pararam de transmitir e outras reduziram seu tempo de operação” devido à falta de combustível, disse Jacques Sampeur, presidente da associação nacional de mídia haitiana, à AFP.
“Os meios de comunicação estão morrendo. É a realidade”, lamenta Venel Remarais, presidente da Associação de Mídia Independente do Haiti.
Por outro lado, é “provável que se percam vidas” se o combustível não chegar imediatamente aos hospitais, alertou o coordenador humanitário da ONU em exercício no país, Pierre Honnorat, em nota publicada no domingo.
Há muito tempo dominantes em bairros pobres da capital, gangues armadas vêm assumindo o controle de cada vez mais territórios nos últimos meses, à medida que os sequestros no país também se multiplicam.
Uma dessas gangues está exigindo um resgate de 17 milhões de dólares para libertar um grupo de missionários e membros de suas famílias – 16 americanos e um canadense – sequestrados em 16 de outubro a leste de Porto Príncipe.