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Teletrabalho com tecnologia de ponta é uma realidade para poucos

Funcionária do Facebook testa um dispositivo Oculus na sede corporativa da empresa, em Menlo Park, Califórnia, 23 de outubro de 2019 afp_tickers

Reuniões em realidade virtual, som e câmeras inteligentes: as gigantes da tecnologia oferecem produtos de ponta para aproximar o escritório físico do teletrabalho, que poderiam aprofundar o abismo tecnológico.

No fim de agosto, o Facebook lançou a “Horizon Workrooms”, que cria uma sala de reuniões virtuais onde os participantes se encontram em forma de avatar graças ao capacete Oculus, que custa 300 dólares a unidade.

A Google, enquanto isso, disponibilizou os “Series one”, kits para organizar reuniões com a possibilidade de misturar a presença em uma sala com várias pessoas e o teletrabalho. O custo chega a 7.000 dólares.

Com ou sem pandemia, a tendência aponta para a flexibilidade e as empresas tecnológicas multiplicam propostas para viabilizar esta realidade.

Para Rhiannon Payne, autora e especialista em teletrabalho, a realidade virtual vai se integrar ao mundo profissional como aconteceu antes com o laptop e o telefone celular.

Com estes novos produtos, os fabricantes “tentam encontrar a forma de facilitar o teletrabalho e melhorar os contatos entre colegas”, explica.

Telefone celular e computador portátil já tinham mudado a forma de abordar o trabalho, mas o mundo profissional precisa agora se adaptar e gerenciar as novas ferramentas deste funcionamento híbrido.

– Sem recursos –

Alguns empregadores adicionaram às ofertas de emprego demandas como conhecimento de programas de apresentação virtual ou administração à distância.

“É algo que parece inofensivo e prático, mas pode se tornar um fator que agrava as desigualdades”, argumenta Monica Sanders, professora da universidade de Georgetown.

Por outro lado, “para muitas pessoas, trabalhar de casa é um luxo”, destaca Michelle Burris, pesquisadora do grupo de reflexão The Century Foundation.

A organização BroadbandNow, que defende o acesso generalizado à internet, estima que 42 milhões de americanos não tenham uma conexão de banda larga, ou seja 13% da população, segundo um estudo publicado em maio.

Em alguns dos estados mais desfavorecidos do país, a proporção de pessoas sem acesso à internet de banda larga é inclusive maior, como na Lousiana, com 25% da população, ou em Mississípi, onde cerca de 40% dos habitantes não têm este tipo de conexão.

Além disso, o acesso a material informático também costuma ser um obstáculo.

Há 18 meses, Patricia McGee passou de um emprego em um centro de logística da Amazon a um cargo de relacionamento com os clientes à distância com a chegada da pandemia do coronavírus.

Esta mãe de quatro filhos, de 39 anos, gastou cerca de 2.000 dólares para comprar um computador pessoal, além dos programas necessários e contratar a conexão à internet.

“Nem todos podem pagar isso”, destacou. “Então, algumas pessoas que não têm os recursos ou as competências” para utilizar ferramentas informáticas que se tornaram comuns com a pandemia “se veem privadas de certos empregos”, refletiu.

Há alguns dias, o computador dela estragou. Sem dias de férias, precisou esperar que fosse consertado para voltar a ganhar dinheiro.

Com a integração do teletrabalho à vida, o acesso às ferramentas tecnológicas “tem um impacto sobre a capacidade de encontrar uma renda, sobre o local onde vivemos ou a forma de trabalhar”, concluiu Monica Sanders.

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