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Três mil veículos já utilizam bioetanol na Suíça

Para o Ministério da Energia, o potencial do combustível E85 (dir.) é limitado. Keystone

O bioetanol E85 se tornou um sucesso na Suíça. Mais de três mil carros já estão utilizando o combustível ecológico fabricado à base de lascas de madeira.

Porém enquanto a demanda cresceu fortemente nos últimos dois anos, a questão é saber se o bioetanol é tão ecológico como se diz.

A imagem dos biocombustíveis já foi melhor. O aumento global dos preços dos alimentos tornou essa alternativa à gasolina um dos fatores responsáveis pela crise mundial da alimentação e tirou-lhe o brilho. Porém os biocombustíveis continuam a ser produzidos, mesmo na Suíça.

Na segunda-feira (23 de junho), representantes do setor garantiram durante uma reunião em Winterthur, que o bioetanol helvético não é responsável pelo encarecimento dos alimentos. Justificativa: o combustível é fabricado somente com lascas de madeira da Suíça. O selo oficial de garantia foi dado no ano passado pelo Instituto Federal de Análise de Material (Empa, na sigla em alemão). Com ele fica atestado que o bioetanol helvético tem um balanço positivo para o meio-ambiente, ao contrário do combustível feito à base de milho.

Segundo uma lista preparada pelo Clube do Automóvel Suíço (VCS), que há 25 anos avalia o caráter “ecológico” de veículos, carros com motores flex – nos quais podem ser utilizados bioetanol e gasolina sem adição de chumbo – recebem notas melhores do que os híbridos.

Boa variação

O representante do Ministério da Energia também apóia a produção local. “A Suíça é bem restritiva na questão do biocombustível”, afirma Martin Pulfer. “Não teremos aqui combustíveis feitos à base de milho. O bioetanol feito de lascas de madeira é uma boa variante, do ponto de vista ecológico”.

Também representantes do setor produtivo deram sua opinião. Para Heinz Hänni, da Federação Suíça dos Agricultores, a produção de alimentos deve ser garantida em primeiro lugar. Porém ele defende liberdade de ação para os agricultores, caso o setor se torne lucrativo.

O balanço foi realizado em Winterthur, cidade localizada ao norte de Zurique onde há dois anos surgiu o primeiro posto de biocombustíveis. O bioetanol era praticamente desconhecido no país. Hoje em dia, já são 38 bombas, que suprem aproximadamente três mil veículos com uma mistura de 85% de etanol e 15% de gasolina. A mistura é realizada, pois o etanol não é bom para partida à frio.

Apesar de proprietários de postos de gasolina, fabricantes de automóveis e clientes terem, desde o início, interesse no combustível alternativo, o governo suíço precisou dar os primeiros passos no setor. Para reduzir as emissões de CO2, o Ministério das Finanças criou em 2005 um programa de incentivos. Desde então, lascas de madeira são transformadas em álcool pela Alcosuisse em Attisholz (cantão de Solothurn, oeste da Suíça).

Incentivo

A Suécia, um dos países mais avançados na produção de etanol, planeja reduzir drasticamente a dependência de petróleo até 2020. Depois do início lento, o programa prevê que um em dois postos do país tenha biocombustível para oferecer. O governo oferece descontos fiscais e estacionamento gratuito para as pessoas que trocam de carro. A indústria automobilística também apóia o programa: não é coincidência que os fabricantes Saab e Volvo estejam na liderança mundial da produção de veículos com motor flex.

A Suíça também oferece incentivos. A partir de 1° de julho, o bioetanol está livre de taxas de óleo mineral. Com isso o etanol pode ser tornar uma interessante alternativa para o mercado, levando-se em conta que o litro custa atualmente 1,55 francos por litro. O único problem é que o consumo aumenta, ao mesmo tempo, entre 20 e 30%.

Em 2006, aproximadamente cinco milhões de toneladas de combustível foram consumidas no país. Com uma percentagem de apenas 0,3% da soma total, o bioetanol tem uma importância apenas marginal no consumo helvético. Seus defensores acreditam, porém, que ele tem um futuro reluzente pela frente. “Não existe uma solução milagrosa para o problema da escassez energética”, declara Felix Stockar, diretor do Grupo de Interesse do Bioetanol. “Ele ainda contribuiu para reduzir a emissão de CO2 na atmosfera, a prolongar nossas reservas de petróleo, a incentivar a economia legal e reduzir a dependência das importações.

As sobras de madeira na Suíça ainda são suficientes para suprir mais nove mil veículos com bioetanol. O setor ainda sonha com mais: na Europa do leste existem grande quantidades de terras para agricultura que não estão sendo utilizadas.

Críticas

“Em uma quantidade limitada, o bioetanol pode ser uma boa solução. Porém criar uma indústria que necessita levar o combustível do Brasil para a Suíça é contraditório à proteção do meio-ambiente”, analisa Clément Tolusso, porta-voz do Greenpeace Suíça.

“A princípio nos opomos aos agrocombustíveis, pois eles não resolvem fundamentalmente o problema da mobilidade ou do uso privado de carros. A lógica diz que se temos um problema de escassez de combustível, é melhor procurar uma solução na fonte, ou seja, refletir sobre nosso modo de viajar ou dos veículos que utilizamos”.

swissinfo com agências

A partir de 1° de julho entra em vigor uma lei de incentivo fiscal para reduzir a taxação dos biocombustíveis importados se for provado que impacto social e ecológico da sua produção foi positivo. A estrutura básica da lei ainda está sendo trabalhada através de consulta e não se prevê que a lei estará integralmente em vigor até o outono.

Alcosuisse, o braço comercial da estatal helvética Administração Federal do Álcool (RFA, na sigla em alemão), afirma que não espera grandes mudanças no setor em curto prazo apesar das regras mais estritas introduzidas para a importação.

Biocombustível é qualquer combustível de origem biológica, desde que não seja de origem fóssil. É originado de mistura de uma ou mais plantas como: cana-de-açucar, mamona, soja, cânhamo, canola, babaçu, lixo orgânico, dentre outros tipos.

Eles produziriam menos gases causadores do efeito estufa do que os combustíveis convencionais de transporte.

A queima desses combustíveis libera dióxido de carbono. Parte deste é absorvido da atmosfera durante o processo de crescimento das plantas.

De qualquer maneira, o consumo de energia durante atividades agrícolas e o processamento das colheitas podem tornar os biocombustíveis tão poluentes como os derivados de petróleos. Tudo depende do que é plantado e o tratamento dado à biomassa.

A produção de etanol dobrou no mundo entre 2000 e 2005 e a de biodiesel quadruplicou. O Brasil é líder mundial no setor, tanto na produção como no uso: 16 bilhões de litros por ano de etanol através da indústria de cana-de-açúcar.

De acordo com dados recentes, biocombustíveis contribuem com 0,3% do total de consumo de energia dos países da União Européia em 2003, que cresceu 2% em 2006.

A UE quer aumentar esse nível para 5,75% até o final de 2010. A França tem o objetivo mais ambicioso: 7% do consumo energético originado de biocombustíveis até 2010 e 10% em 2015. O bioetanol já corresponde a 3% do consumo total.

Até 2010, os Estados Unidos pretende suprir 10% do consumo total de combustíveis de veículos através de bioetanol.

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