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Traços históricos da dinastia Knie

Família unida: Fredy Knie senior (à esquerda) é o chefe técnico e Franco Knie júnior (à direita) é o chefe artístico. www.knie.ch

Amores que mais parecem conto de fadas marcam o início da história do circo nacional suíço.

Se há desembaraço e aventura no começo – com rapto de namorada – o futuro foi criado com uma dose de ousadia e busca inovação em meio a contratempos. Tudo deslancha em 1919. Entenda.

É preciso remontar a dois séculos atrás em Innsbruck, na Áustria. Em 1803, o jovem burguês Friedrich Knie, estudante de medicina, se enamora de Wilma, uma artista de circo. O encontro com Wilma vai reorientar a carreira de Friedrich, filho de médico da corte austríaca, que devia seguir a profissão do pai.

Com 19 anos ele troca os livros de medicina por uma vida de funâmbulo, com a vantagem de ficar perto de sua Dulcinéia. Se o namoro é efêmero, o jovem Friedrich – que começa a apreciar essa vida mais trepidante que a dos bancos da universidade – cria a própria companhia.

Segunda namorada

Em 1807, ele conquista Antonia Stauffer, filha de um barbeiro. O pai de “Toni” acha que Friedrich é mau partido e fecha Antonia no convento. Segundo a tradição, alimentada pela crônica da dinastia Knie, Friedrich rapta a namorada no convento, numa noite de tempestade.

Do casal vão nascer cinco filho, representantes da segunda das oito gerações de Knie, uma espécie de família real na Suíça, país sem realeza.

A trupe de funâmbulos começa cedo a percorrer as cidades da Alemanha, Áustria e já em 1814 e 1818 fazem espetáculos na Suíça. E um pouco mais tarde, Karl, um dos membros da família, será tido como “o primeiro acrobata da Europa”.

Da Áustria à Suíça

Entretanto, com o aumento dos espetáculos na Suíça, aumenta o interesse dos Knie pelo país e uma primeira demanda de naturalização é apresentada em 1866 por dois membros da família. Mas como não pagam a taxa exigida, tudo fica por isso mesmo.

Só será em 1900 que a família Knie receberá o direito de cidadania suíça.

Com altos e baixos, o Circo Knie, com seus espetáculos ao ar livre, já durava um século. Mas é em 1919 que começa por assim dizer uma segunda vida.

Idéia genial

O período da Primeira Guerra Mundial tinha sido um período difícil. Parecido com o da guerra de 1870-71 entre a Alemanha e a França. Mas em 1919, os irmãos Carl, Friedrich, Rudolph e Eugen tiveram um “estalo”. Esses representantes da 4ª. geração Knie decidem comprar a prazo uma tenda sustentada por dois mastros – ignorando a advertência da mãe contra essa “grande loucura”. Tenda com capacidade de abrigar 2.500 pessoas.

O sucesso desse “Cirque Variété National Suisse Knie” foi imediato. Tanto que na inauguração, a bilheteria foi levada de roldão pela multidão, impaciente para entrar no circo.

A empresa prospera. No ano seguinte, Friedrich Knie, homônimo do fundador do circo, apresenta o primeiro espetáculos com cavalos adestrados, uma apreciada especialidade do Knie.

E há registro de que em 1926 o circo dispunha de mais número impressionante de caravanas que serviam de casa, de escritório e de meio de transporte. E quando utilizava a via férrea ocupava trem especial de 42 vagões.

Aos trancos e barrancos

Em 1934 a empresa familial se transformava em sociedade anônima. Um ano depois, Knie investe numa superprodução, o espetáculo “India”, uma pantomima com 50 artistas indianos. Com o fracasso da iniciativa, o circo entra em falência.

E empresa sobrevive, no entanto, para enfrentar outros reveses decorrentes da Segunda Guerra e do regime de Hitler, porque o circo evitava hastear a bandeira nazista. Mas o fato de figurar na lista negra dos nazistas não teve conseqüências maiores.

Desde 1956, o Circo Knie encontra-se nos atuais locais de Rapperswil, localidade onde já se haviam instalado desde 1907.

Nas últimas décadas, o circo consolidou de geração em geração sua posição de circo nacional. E tornou-se mundialmente conhecido. Knie, pelo menos na Suíça, é a personificação de circo.

O mérito da direção dessa empresa em que os mínimos detalhes são considerados importantes é ter compreendido já nos anos 60 que o circo tradicional não tinha fôlego para continuar agradando.

O porquê do sucesso

Desde 1970, o circo inovou, contratando artistas de teatro conhecidos e todos os anos procura no próprio país e no estrangeiro números de artistas que tenham os indispensáveis ingredientes seja de destreza, seja de poesia, seja de comicidade e se integrem bem em espetáculos que jamais apelam para a vulgaridade.

Se o objetivo anunciado pelo Knie é divertir espectadores de todas as idades, estima que o sucesso só é possível pela qualidade das apresentações.

Quanto a considerar os Knie como “a família real da Suíça”, Franco Knie, o diretor técnico do circo, ironizava já em abril deste ano em entrevista à revista suíça Illustré, lembrando que era bom ter em conta que os Knie vivem no meio de excrementos de elefantes, o que considera “muito pouco aristocrático…”.

swissinfo, J.Gabriel Barbosa

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