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Brasileiros querem subir montanhas suíças

Fabiano Camargo, da Canadá Turismo, prevê vendas em 2013 para a Suíça, "no mínimo como em 2012". swissinfo.ch

O aumento do poder aquisitivo da população e os esforços de agências de turismo, operadoras e demais representantes oficiais do trade têm colocado a Suíça como a bola da vez na lista dos roteiros de viagem dos brasileiros.

Em geral, os mais de 190 milhões de habitantes do Brasil ainda veem a Suíça como um país gelado e distante, a mais de 9 mil quilômetros do outro lado do Atlântico. As novas possibilidades de conhecer o mundo, porém, estão quebrando estes paradigmas e desvendando a Suíça como uma opção de lazer, entretenimento e negócios muito além do clichê de um passeio à terra do chocolate, dos bancos e dos relógios.

Somente a operadora Canadá, por meio da sua marca Só Suíça, fechou cerca de 650 pernoites (rooms nights) no país em 2012 e espera manter o mesmo ritmo de vendas este ano. “Chegamos a prever uma queda de 10% em relação ao ano passado por conta da crise no início de 2013, mas o mercado já vem tomando novo rumo e devemos fechar, no mínimo, com uma performance igual”, afirma o diretor comercial da Canadá Turismo, Fabiano Camargo.

Apesar de atender a um público AA, ele reconhece que a Suíça tem atraído uma variedade de turistas cada vez maior. “O Brasil está com preços tão altos que nenhum outro lugar do mundo parece tão caro”, compara. Ao mesmo tempo, ele salienta que a Suíça deixou de ter uma imagem de um destino apenas contemplativo e para pessoas mais velhas. Para Camargo, a extensa quantidade de roteiros e a diversidade de atrações têm conquistado uma variedade de visitantes que se encantam pela experiência de subir uma montanha e descer de bicicleta ou patinete, de conhecer uma caverna de gelo mesmo no verão, de percorrer centros históricos, sem deixar de desfrutar de toda beleza natural e de uma infraestrutura premium.

“Antes não tínhamos esta demanda”, concorda Rita Benvenuti, gerente da Bora Viagem, braço de viagens pessoais do Grupo Alatur. “A Suíça tem despertado o interesse de brasileiros que já conhecem as principais capitais europeias e agora estão fugindo de grandes centros”, afirma. Para ela, a Suíça conta com uma mescla de encanto natural, reforçado pela qualidade dos seus serviços e por fazer fronteira com vários países turísticos, facilitando roteiros mais variados. “Acaba sendo um programa fascinante e muito diferente do Brasil”, completa.

Essa diferença, Camargo aponta em cidades como Lucerna, extremamente típica, Interlaken, Zermatt e outras ao redor do lago de Genebra (Lago Léman). “Os brasileiros também sempre querem fazer um passeio de trem”, diz, alegando ser uma curiosidade natural, já que o Brasil não dispõe de um sistema tão eficiente. Quanto ao perfil de quem visita a Suíça, ele descreve como casais acima dos 40 anos que já conhecem outros destinos da Europa e que optam por uma média de seis pernoites.

Carolina Perez, diretora geral da Travelweek, uma das principais feiras do setor no Brasil, realizada em abril em São Paulo, não tem dúvida quanto ao crescimento do investimento do brasileiro em turismo, nem da Suíça como destino para eles. Ela afirma que a grande tendência, além das belezas alpinas, do esqui e das caminhadas pelas montanhas, é o turismo de luxo.

E dinheiro, pelo menos, os brasileiros parecem ter um pouco mais. Em janeiro, o Banco Central divulgou que, em 2012, foram US$ 22,2 bilhões gastos no exterior. Só no primeiro trimestre de 2013, o acumulado já atingiu US$ 6 bilhões. “Entre os países europeus, Itália, França e Turquia ainda são destinos mais cobiçados, porém, outra grande tendência é a Suíça, que tem hoje grande envolvimento no mercado do brasileiro”, garante Carolina.

Se tiver dinheiro no bolso, o brasileiro gasta. Dessa forma, um roteiro de compras precisa estar incluído na programação da viagem. Quem garante é o diretor comercial da Canadá Turismo, Fabiano Camargo, que até por isso acha que a Suíça pode ser um destino vantajoso para os brasileiros. Ele justifica que produtos de luxo ou de marcas reconhecidas internacionalmente acabam sendo mais custosos no Brasil, enquanto na Suíça ainda há a opção de comprar muitos outros produtos desconhecidos da maioria dos brasileiros, mas tão bons quanto e por um custo-benefício muito melhor. 

“Além de uma quantidade grande de chocolate, os brasileiros também compram muita roupa e muitos utensílios para casa”, afirma Camargo, comentando que por ter muitos centros de design, a Suíça acaba atraindo bastante este tipo de consumo. “São cerca de 3 mil francos suíços em compras durante a viagem”, calcula ele, que já entre atividades e refeições estima uma média de gastos diários de 120 francos suíços.

“Não digo que as pessoas que vão a Suíça sejam somente as ricas, mas são pessoas que esperam algo melhor, até pela fama da ótima hotelaria e da qualidade dos serviços”, acrescenta Camargo. “Não é como ir a Miami com US$ 1,5 mil e ficar por conta, comendo em McDonald’s; na Suíça a gastronomia e as atrações vão exigir um pouco mais.”

Ainda assim, a responsável pelo escritório de turismo de Zurique para as Américas, Aurelia Carlen, ressalta que a Suíça pode ser mais vantajosa. Isso porque a estrutura de turismo de cidades como Zurique oferecem descontos nas compras das atrações conjugadas, o que facilita muito para quem viaja em família. Além disso, ela destaca que o sistema de transporte e as acomodações, mesmo as que não são de alto luxo, permitem um atendimento de qualidade a um custo-benefício justo. Habituada a visitar o Brasil, ela garante: “São Paulo é mais cara do que Zurique”.

De olho nos jovens

E os representantes suíços do setor estão atentos a esse crescente interesse. “O turista brasileiro está mudando bastante”, salienta Adrien Genier, gerente de mercado do escritório de turismo da Suíça no Brasil – My Switzerland. “Antes era muito baseado em luxo e viajavam somente no inverno, mas agora estão experimentando também o verão, combinando com outros destinos, e aí que teremos grande crescimento”, argumenta.

Para ele, até mesmo classes menos abastadas têm viajado à Suíça. “Em grupos”, salienta ele, comentando que esse movimento é resultado de trabalhos de grandes operadoras, como Europamundo e Special Tours, com parceiros brasileiros como a operadora CVC, reconhecida pela oferta de pacotes mais populares. “Os brasileiros faziam normalmente quatro países – França, Espanha, Itália e Alemanha – e, às vezes, passavam na Suíça”, diz. 

Genier aposta não só em uma estadia maior dos brasileiros na Suíça como no aumento de viagens exclusivas e no público mais jovem. Para isso, as mídias on-line fazem parte das ações, até pelo Brasil ser o segundo país com maior número de usuários de internet. Uma delas inclui uma parceria com o Submarino Viagens no Facebook, que conta com mais de 1 milhão de fãs. A ideia é mostrar que a Suíça é também um país de jovens e que sabe como falar e receber este público.

Argumentos de conquista não faltam. Presente nas recentes feiras do setor em São Paulo, a Travelweek e a WTM Latin America, Aurelia Carlen, respresentante do Zürich Tourism, demonstrou como a cidade pode ser atrativa para todas as idades. Além do apelo cultural, da beleza natural, da qualidade de serviços atrelada a um custo-benefício vantajoso e da badalada vida noturna, ela ainda destacou eventos, como a Street Parade, considerada a maior festa de música eletrônica de rua do mundo. E para os brasileiros que não podem ficar longe do mar, Aurelia lembra que podem curtir uma praia de água doce, à beira de um dos inúmeros lagos, debaixo de céu claro e temperaturas entre 25 e 35 graus centígrados, com a água com média de 23 graus.

A gerente regional para América Latina do turismo de montanha Titlis, Vanda Catao, acredita na variedade e na combinação de roteiros da Suíça como um dos seus grandes atrativos para todas as estações. “O brasileiro está quebrando paradigmas.” Para ela, a Suíça tem sido vista como um local onde se pode desfrutar tanto de uma experiência mais cosmopolita como de apelo natural, da mesma forma que pode visitar montanhas com neve em pleno verão.

Já a diretora de vendas da rede Sorell Hotels, Susanne Staiger, aposta na qualidade de serviços para atrair os brasileiros. Para ela, a tendência de real crescimento da Suíça como roteiro turístico requer investimento de longo prazo. “Há muito potencial.” O mesmo que enxerga o diretor do Bellevue Palace, Urs Bührer.

Mas enquanto a maioria destaca as inúmeras possibilidades de atrações turísticas suíças, Bührer chama atenção apenas para uma: a autenticidade do país para quem o visita. Percepção descrita a ele por uma hóspede brasileira que, pela primeira vez na Suíça em lua de mel, comentou ao lado do marido o seu fascínio pela paisagem local: “Parece a Disney de tão linda, só que aqui é tudo real”.

Para o diretor do Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, José Francisco de Salles Lopes, o brasileiro é um turista bastante curioso e a Suíça tem condições de atrai-lo cada vez mais. A última pesquisa, de 2011, registrou que 78.971 brasileiros viajaram para a Suíça naquele ano, colocando o país em 18º no ranking dos destinos internacionais dos brasileiros. Em 2010, o número foi de 66.845. Vale lembrar que estes dados só registram a entrada dos turistas no país e não computam os que tiveram acesso por outros destinos. 

Nessa lista, os Estados Unidos aparecem em primeiro, seguidos da Argentina, Uruguai, França, Portugal, Espanha, Chile, Reino Unido, Itália, Alemanha, Paraguai, México, China, Colômbia, Holanda, Peru e Canadá. “O brasileiro está passando por uma mobilidade social muito grande e a classe C vem crescendo expressivamente”, comenta Lopes, acrescentando que dessa forma o brasileiro tem incluído o turismo na sua estrutura de consumo.

Há, porém, muito ainda a explorar para fazer o brasileiro deixar o País. Foram mais de 6 milhões de viagens para o exterior em 2012 contra as mais de 190 milhões de viagens domésticas. Já o número de estrangeiros que visitaram o Brasil ficou em torno de 5,6 milhões.

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