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Suíça hesita em apostar em árabes e chineses

Keystone

Durante décadas, os hotéis e as estações de esqui da Suíça contaram com uma clientela formada de turistas locais e europeus, principalmente alemães. Com a crise europeia, o setor procura se reorientar para os mercados emergentes.

O vilarejo de Weggis, que acolheu a seleção brasileira nos preparativos para a Copa do Mundo de 2006 às margens do lago de Lucerna, é uma das cidades turísticas da Suíça que sofre da queda livre no número de visitantes provocada pela recessão na Europa e a valorização do franco suíço.

O número de turistas alemães, o principal grupo de turistas estrangeiros, diminuiu em 15% nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Uma queda semelhante foi observada no número de turistas ingleses.

Por outro lado, os hóspedes estrangeiros dos mercados emergentes, como os países do Golfo, China, Índia e Rússia estão aumentando rapidamente. Nos primeiros oito meses deste ano, o setor hoteleiro suíço observou um aumento surpreendente de 24,7% nas diárias dos países do Golfo; 26,5% com chineses, que já se tornaram clientes tão frequentes quanto os indianos, cujo número manteve-se relativamente estável.

Os responsáveis do governo no setor de turismo depositam suas esperanças nos mercados emergentes; apostando em um crescimento de 30% no próximo ano. O diretor do órgão do governo Suíça Turismo, Jürg Schmid, declarou no jornal da Suíça alemã SonntagsBlick, que os turistas chineses devem superar os números de turistas provenientes de países vizinhos, como a Itália, em 2013.

Mas isso poderia ser uma ilusão, já que a economia chinesa começa a mostrar sinais de desaceleração, e que os turistas alemães ainda são o dobro em relação aos turistas dos países emergentes. Talvez por isso, o setor continue procurando maneiras de atrair essa clientela, embora alguns atores permaneçam indiferentes.

“Depende de onde o hotel está”, diz Stephan Maeder, proprietário do Hotel Carlton-Europe Interlaken e presidente da associação de hoteleiros da região de montanha do cantão de Berna, a chamada Berner Oberland. “Aqui em Interlaken essa mudança é realmente onipresente. Mas, em Lenk, ou mesmo em alguns hotéis de Gstaad, ela é muito menos perceptível.”

Mudanças do mercado

Maeder disse que começou a notar a chegada de visitantes dos países emergentes a cerca de seis anos atrás e desde então o seu hotel e equipe passaram por um certo período de adaptação para aprender a acolher esses novos clientes de forma aceitável para todos os interessados.

“A parte religiosa é provavelmente a mais difícil de gerenciar… no lobby, eles só me perguntam em que direção está a Meca e se abaixam no tapete para orar, e é claro que para os outros hóspedes isso pode parecer um pouco estranho”, diz, acrescentando que as exigências alimentares, indumentárias e hábitos de higiene pessoal também podem representar alguns problemas complicados.

Maeder cita o exemplo de pessoas que estão acostumadas a tomar uma ducha antes de entrar na banheira, e que, diante das instalações do seu velho hotel centenário, acabam tomando a ducha com o chuveirinho do lado de fora da banheira, molhando todo o banheiro e quase sempre causando danos de água, porque o banheiro não tem outro ralo fora da banheira.

Uma nova extensão já foi planejada para acomodar essas exigências em seu hotel e “agora estamos discutindo sobre o ar condicionado, porque os árabes e os indianos, em particular, costumam exigir a instalação assim que a temperatura chega aos 20 graus e ar condicionado não é muito comum nos resorts do Berner Oberland”.

Necessidades e expectativas diferentes

Mas em Weggis, os gerentes de hotéis interrogados pela swissinfo.ch dizem não ter os mesmos problemas. Segundo eles, embora tenham visto “alguns” novos visitantes, a única grande mudança que notaram foi a queda no número de turistas europeus.

“Estamos vendo muito menos europeus, como os holandeses, os belgas, ou os dos países nórdicos, que costumam passar de carro por aqui no verão a caminho da Itália”, disse Sabine Koch, que administra o Hotel Schweizerhof com o marido. “Mesmo se eles têm que dirigir 20 horas, eles preferem continuar sem parar por causa dos preços.”

Urs-Peter Geering, gerente do Hotel Beau-Rivage, disse que a clientela chinesa está aumentando, “ainda não é grande”, mas, por outro lado, seu hotel com 39 quartos não poderia acomodar grandes grupos de turistas asiáticos.

“Os chineses vêm à Suíça em excursões de apenas um dia na região de Lucerna”, disse Geering. “Eles costumam passar só uma noite, poucos ficam duas”.

Ambos gerentes consideram os europeus e os suíços como sua principal clientela. Maeder concorda quando eles dizem que os novos turistas têm necessidades e expectativas muito diferentes de uma visita à Suíça, que quase sempre é apenas uma parada de uma turnê europeia por vários países.

Compras sem esqui

Maeder diz que, enquanto os turistas indianos e árabes estão dispostos a gastar um pouco mais em hotéis e atividades ao ar livre, os chineses estão mais interessados na Suíça como destino para compras de produtos de luxo.

“Os chineses, até agora, realmente não vêm à Suíça atrás de um bom hotel, eles vêm para comprar relógios e enquanto os impostos de luxo na China continuarem muito mais altos do que na Suíça, este mercado vai continuar assim “, diz. “O mercado chinês, embora os números estejam aumentando, ainda não é um mercado em que os hotéis suíços possam sobreviver”.

Geering diz que não planeja mudar seu marketing só para atingir os turistas asiáticos ou árabes “porque ainda consideramos o mercado suíço e europeu como nossa principal clientela, que está aqui para férias. Os turistas suíços ainda são bastante”.

Apesar do boom de Interlaken, Maeder lembra outro limite da nova clientela: “Para o próximo inverno, minha preocupação é que esses mercados que estamos falando não são turistas de esqui”.

A Suíça é dividida em treze regiões turísticas. A principal atração da Suíça são as paisagens dos Alpes suíços.

Até ao século XVIII, o país não era um destino, mas uma passagem obrigatória no centro da Europa. Na altura, as cidades que atraiam turistas eram apenas Basileia e Genebra devido às suas universidades, movimentos religiosos, as fontes de água e as curas que as termas proporcionavam.

No Vale Engadina, o turismo traz importantes recursos para a região dos Alpes suíços.

O início do turismo no país é provocado pelos trabalhos de escritores e pintores naturalistas do fim do século XVIII e do início do século XIX que suscitam interesse aos viajantes pelas descrições das paisagens e das montanhas. As regiões mais expostas foram as Oberland e sobretudo Zermatt, no cantão do Valais desde 1850.

As primeiras viagens organizadas foram lançadas pela agência inglesa Thomas Cook antes mesmo da indústria do Turismo Local se ter começado a desenvolver. No entanto, as tarifas elevadas atraiam apenas os suíços mais afortunados até que a crise de 1870-1890 forçam os profissionais a oferecerem preços mais baixos e estadias maiores, sobretudo na época do inverno. A partir daí, novas estâncias são criadas, como em Davos e no Ticino.

No início do século XX, a Suíça gastava 3% do seu PIB anual para a hotelaria e as receitas daquele setor chegavam aos 320 milhões de francos suíços. O desenvolvimento pós-guerra de 1914-18 e o pagamento das férias fazem com que exista um grande aumento da procura por parte das classes mais baixas que vêm a ser a maioria no fim da década de 1950.

Atualmente, a procura de turismo na Suíça parte sobretudo da Alemanha, que corresponde a 14,4% das estadias feitas do país, seguida da França com 5,3%, o Reino Unido com 4,8% e Itália, com 3,8 %. Dos países não europeus, os Estados Unidos representam 3,3% do total das noitadas, seguidos da Austrália e da Nova Zelândia que representam 3,3%. O Japão representa apenas 0,6% das noitadas feitas na Suíça.

(Fonte: Wikipédia em português)

Adaptação: Fernando Hirschy

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