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UE inaugura embaixada na Suíça

A embaixada da UE marca sua presença no coração da capital suíça. swissinfo.ch

A comissária européia de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, inaugura hoje em Berna a embaixada da União Européia em Berna, representando também um marco importante nas relações entre a Suíça e Bruxelas.

O clima de festa não esconde, porém, que a Suíça e a UE tem vários litígios a resolver. Um deles é a questão dos paraísos fiscais na Suíça.

Mesmo se essa complicada pendência se tornará crucial nos próximos meses, a Suíça continua demonstrando seu pragmatismo nos contatos estabelecidos com a União Européia. No seu relatório relativo à UE, apresentado em junho de 2996, o governo suíço ressaltava que a via das negociações bilaterais é atualmente a única alternativa à disposição.

A adesão à UE, que figurava entre os principais objetivos estratégicos traçados ao curso da última legislatura, é hoje parte apenas de um amplo catálogo de opções.

Essa posição das autoridades helvéticas coincide com o sentimento partilhado pela maioria da população. De fato, se os eleitores suíços aprovaram recentemente importantes aproximações negociadas com a União Européia, eles recusariam massivamente a eventualidade de uma adesão.

Eurófilos e eurocépticos

Dentre os atores que animaram o debate político sobre a Europa durante a década de 90, apenas os eurocépticos parecem ter permanecido em primeiro plano.

Do seu lado, os partidários da adesão aceitaram o compromisso da via bilateral de acordo, uma fórmula que eles não queriam antes. Porém eles haviam aceitado esse consenso e mesmo o defendido contra os detratores da entrada da Suíça na União Européia.

É nesse contexto que a UE escolheu para abrir a mais recente das suas representações na capital helvética, quase em face da sede do Ministério das Relações Exteriores.

Durante esse tempo e por trás dos bastidores, o contencioso que opõe a UE à Suíça na questão dos incentivos fiscais oferecidos por certos cantões a empresas estrangeiras continua alimentar tensões.

Em vias de normalizar as relações

“A abertura da embaixada é o símbolo de uma certa normalização das relações entre a Suíça e a União Européia”, explica o cientista político Laurent Goetschel, professor do Instituto Europeu da Universidade da Basiléia.

“A UE dispõe dispõe de várias representações espalhadas pelo mundo e seria uma anomalia se ela também não estivesse presente na Suíça”.

Laurent Goetschel estima que a presença da embaixada possa simplificar o intercâmbio de informações entre Berna e Bruxelas e tornar mais visíveis as relações mantidas pelas duas entidades.

“Uma representação diplomática tem sempre um papel simbólico, mesmo se hoje em dias as negociações entre a Suíça não passam mais unicamente pelo canal diplomático das embaixadas”, explica o acadêmico.

Contatos importantes

Para Goetschel, seria um erro subestimar a influência de um embaixador da UE presente em solo helvético: – “O embaixador Reiterer é convidado para vários eventos e encontros. Precisamos admitir que esse tipo de encontro facilita os intercâmbios informais, trocas que seriam impossíveis para cada um desses contatos se eles fossem obrigados a ir cada vez para Bruxelas”.

Michael Reiterer, que havia sido indicado para a embaixada no início do ano, receberá em breve dois colaboradores. Os dois especialistas – um em política e o outro em economia – terão a função de apoiar o trabalho do diplomata.

Interesse

“Esse é o sinal de que a Comissão Européia não quer mais se contentar de ter apenas uma pequena missão e que ela deseja, dessa forma, colher o máximo possível de informações relativas à Suíça”, observa Laurent Goetschel.

Evidentemente, a lista de dossiês que esperam ser examinados pela Suíça e a Comissão Européia é longa. Inúmeros são também os pontos sobre os quais os negociadores irão debater até a exaustão.

Além da questão espinhosa do sistema fiscal suíço, Berna deve discutir em breve sobre a contribuição financeira para os dois novos membros da UE, Romênia e Bulgária. Além disso, a Suíça está interessada na abertura de negociações bilaterais nos setores de eletricidade e agricultura.

Dentre os outros sujeitos para discutir, também podem ser citados os serviços, a participação nos programas de pesquisa da União Européia, nos certificados de origem de produtos alimentares, na extensão da livre-circulação para os cidadãos romenos e búlgaros, assim como a gestão do sistema de orientação por satélite, o “Galileo”.

Melhorar percepção

A presença da embaixada da União Européia em Berna deve melhorar a compreensão recíproca entre a instituição e a Suíça.

“A presença da embaixada irá melhorar a comunicação dos dois lados”, reforça o deputado do Partido Social-Democrata, Roger Nordmann, e também membro do Novo Movimento Suíço-Europeu (NOMES, na sigla em francês).

“Já estava na hora de ter uma embaixada da UE em Berna, pois ela é uma dos nossos parceiros políticos e econômicos mais importantes”, reforça Christa Markwalder, presidente do NOMES e deputada do Partido Radical.

Já no campo dos eurocépticos o entusiasmo é mais contido. “Consideramos a abertura da embaixada como o reconhecimento do fato de que a Suíça não faz parte da União Européia”, afirma Hans Fehr, deputado da União Democrática do Centro (direita) e diretor da Associação para uma Suíça Independente e Neutra (ASIN, na sigla em francês).

“Eu espero que o senhor Reiterer seja atento e não se envolva nas nossas questões internas. Ele também deve levar de forma objetiva e clara a posição da Suíça às autoridades em Bruxelas”, alerta Hans Fehr.

Pessoalmente, Hans Fehr admite aprovar uma certa simpatia pelo embaixador Reiterer: – “Trata-se de um típico diplomata austríaco”, observa. Ele declara que irá convidá-lo a participar da próxima assembléia da associação em 28 de abril.

swissinfo, Andrea Tognina

Existem várias razões para explicar porque a União Européia levou tanto tempo para abrir uma embaixada na Suíça.

O cientista político Laurent Goetschel lembra que a UE já dispõe de uma representação em Genebra. Esse escritório é encarregado de relações com as instituições internacionais. “Isso poderia explicar a chegada tardia em Berna, mas para responder à questão é necessário conhecer as razões das autoridades da própria UE”.

Segundo o embaixador Michael Reiterer, cujas declarações foram imprensas por várias mídias, as autoridades européias acreditam que a Suíça irá um dia aderir à União Européia. Isso explicaria o certo atraso na instalação da instituição em Berna.

A proximidade geográfica da Suíça, a intensidade das suas relações durante as negociações bilaterais e a presença da missão suíça em Bruxelas podem ter também influenciado o ritmo da UE.

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