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Um caramujo que avança a passo de gigante

O caramujo, pela sua lentidão, é o emblema do "Slow Food" (foto: Slow Food) Slow Food

Desde seus primeiros passos, exatamente 20 anos atrás "Slow Food" percorreu uma longa caminhada. Hoje o movimento está implantado em mais de 100 países, inclusive na Suíça.

Na Suíça, são cerca de 2.800 membros de defendem com afinco “a cultura do comer bem”.

“Foi uma fantasia” afirmava recentemente em entrevista ao jornal “La Repubblica” o fundador de “Slow Food”, Carlo Petrini.

A fantasia está complentando 20 anos: trata-se do “movimento pela tutela e o direito ao prazer”, como foi definido na fundação, em julho de 1986, em Langhe, renomada pela excelência do vinho e da boa comida.

Em 1993 nasce Slow Food Suíça

Desde então, o caramujo, emblema do movimento, percorreu muitos quilômetros. Em 1987, a resposta italiana ao “fast food” e à “fast life” demarca a fronteira, abrindo uma seção no cantão do Ticino (sul da Suíça). Em 1989, foi criado o “Slow Food” Internacional e quatro anos depois Zurique também cria sua seção.

Percorrendo a lista das atividades propostas pelas 16 seções suíças (chamadas de condotte na Itália) não se pode evitar a “água na boca”: gastronomia, naturalmente, visita a uma fábrica de salames, passeio gastronômico em Berna, degustação de trufas …

Um simples clube de comilões? Não, “Slow Food” é outra coisa. “Fundamentalmente, é um movimento de defesa da cultura culinária” sublinha Rafael Perez, presidente de “Slow Food” Suíça.

Reeducar o gosto, defender as tradições agrícolas e a biodiversidade, promover um modelo alimentar respeitoso do meio ambiente e da identidade cultural. São esses os princípios que “Slow Food” defende há 20 anos.

«Bom, saudável e gostoso»

Para os membros de “Slow Food”, comer aparenta-se a um ato político – um “ato agrícola”, afirma Perez citando o poeta Wendel Barry.

Além de ser boa, a comida deve ser “saudável e saborosa”, produzida com respeito à Natureza e ao Homem. Basta de agrotóxicos e de uma indústria alimentar que só faz produtos de massa, da monocultura e de tudo que não seja fundado em tradições e em biodiversidade.

“Certo – amite Perez – não é possível ter um produto bom, saudável e gostoso e muito barato. Trata-se no entanto de questionar o valor do prazer em nossa sociedade. Hoje gasta-se mais de seguros e em telecomunicações do que em comida”.

A Arca do gosto e a guarnição

Os objetivos de “Slow Food” se concretizam principalmente através de dois instrumentos: a Arca do gosto e Guarnição.

A Arca é um projeto que surgiu em 1996 para preservar os produtos artesanais típicos ameaçados de extinção. Nessa lista, na Suíça, encontra-se, por exemplo, a mortadela de fígado ticinesa (sul da Suíça), o “taillé aux greubons” (um salgado feito com massa folhada e torresmo) do cantão de Vaud (oeste) e o “berudge”, uma ameixa cultivada na Suíça central.

A guarnição é um passo posterior para a revalorização de certos produtos. “Slow Food divulga, ajuda produtores a formarem cooperativas e apoio na pesquisa ulterior para melhorar o produto”, explica Luca Cavadini, responsável da seção do Ticino (sul).

Queijo e salsicha

Na Suíça, por enquanto, apenas dois produtos têm o estatuto de guarnição: o zincarlin do Vale de Muggio, um queijo de leite cru aromatizado com pimenta-do- reino, e o cicitt, uma salsicha de cabra produzida no vale de Locarno (sul).

Alguns anos atrás, o zincarlin tinha praticamente desaparecido do comércio. “Sem o apoio de Slow Food não teria sido possível relançar o produto” disse a swissinfo Marialuce Valtulini, presidente da região Vale de Muggio e produtora de zincarlin.

Graças ao interesse manifestado por “Slow Food”, a associação das prefeituras da região criou uma cantina que comercializa o produto. Hoje, esse queijo de um sabor tão particular é muito procurado (há demanda inclusive de outras regiões da Suíça) e estimulou os negócios da região.

Educar para o gosto

“Slow Food” é muito ativa na educação ao gosto, em particular nas escolas. Nos próximos meses, um projeto desse tipo vai começar em Chiasso (sul).

“Consiste em divulgar a gastronomia entre as crianças partindo do cultivo, que se fará na escola, cozinhar, comer e vender no mercado”, explica Luca Cavadini.

Lentamente, os princípios defendidos por “Slow Food” ganham espaço. “Os dados estatísticos são preocupantes pois um terço da população suíça não se preocupa com o que come”, afirma Rafael Perez. “Porém, constatamos com o passar do tempo uma sensibilidade maior para a qual provavelmente contribuímos. Cada vez mais gente se questiona: mas o que estamos comendo é realmente bom?”

Essa sensibîlidade está chegando até o supermercado. A partir do ano que vem, a rede Coop (segunda maior do país) terá em suas gôndolas alguns produtos recomendados por “Slow Food”.

swissinfo, Daniele Mariani

“Slow Food” congrega mais de 80 mil pessoas no mundo, entre elas 40 mil na Itália e cerca de 2.800 na Suíça.
Os membros são organizados em quase 800 grupos locais que promovem atividades de promoção da gastronomia. Na Suíça são 16.
Aderir ao “Slow Food” suíço custa 120 francos por ano. A inscrição dá direito a descontos em restaurantes e casas comerciais.

A seção suíça de “Slow Food” é uma das quatro associações reconhecidas em esfera federal para fazer o inventário do patrimônio culinário helvético, projeto iniciado em 2004 e deverá ser concluído no ano que vem.

Além de promover atividades ligadas à gastronomia, “Slow Food” Suíça publica para seus membros a revistra trimestral “Adagio”.

No âmbito internacional, “Slow Foo” criou a Universidade da Ciência Gastronômica, com sede em Bra, na província de Cuneo, e em Colorno, na província de Parma.

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