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Um grande festival numa telinha: Visions du Réel se reinventa no virtual

Still from the film Searchers
A pandemia do coronavírus paira sobre o festival de documentários, mas está longe de ser o tema principal do Visions du Réel. Alguns filmes, no entanto, abordam os efeitos sociais da quarentena, como "Searchers" de Pacho Velez (EUA), que explora como as redes sociais ajudaram a compensar a solidão do isolamento. Visions du Réel

Depois de uma edição reformulada em tempo recorde por causa do primeiro lockdown de 2020, Visions du Réel - o maior festival de documentários da Suíça, que começa hoje - enfrenta o desafio de repetir seu sucesso em meio à "fadiga do Zoom" e às altas expectativas dos profissionais da indústria. Os organizadores apostam em uma nova plataforma virtual.

Há um ano, o Visions du Réel estava prontinho para começar quando a Suíça implementou seu primeiro lockdown. “Tivemos apenas cinco semanas para nos transferir totalmente on-line, assim que mal tivemos tempo para pensar em nada”, recorda Émilie Bujès, a diretora artística do festival, acrescentando que se ela tivesse tido tempo para pensar no trabalho que estava por vir, ela teria “simplesmente enlouquecido”.  

Transportar o festival para a internet não significou apenas cancelar as exibições em cinema e criar sessões virtuais. Muitos filmes, e todos aqueles em competição, haviam escolhido o Visions du Réel como a principal ocasião para suas estreias mundiais. Os produtores e distribuidores concordariam em estrear seus trabalhos para um público virtual, sem aplausos, festas de lançamento e reuniões de negócios? 

Bujès ficou aliviada ao saber que praticamente todos eles, com apenas uma exceção, estavam dispostos a seguir em frente. “Tivemos muita sorte com o timing porque os jornalistas estavam muito interessados em cobrir as coisas e o público em casa estava um pouco desesperado”, diz ela. 

O festival do ano passado marcou um recorde com mais de 60.500 espectadores, muito mais do que o habitual, de acordo com Bujès. Ela também ficou satisfeita com a cobertura da imprensa e com a presença da indústria. 
 

Diretora do Visions du Réel
Émilie Bujès fez carreira como curadora de arte contemporânea antes de se tornar diretora do Visions du Réel em 2017. “Eu posso ver mudanças na maneira como os documentários são percebidos. Eles costumavam ser o gênero pobre do cinema, não apenas em termos de dinheiro, e agora você pode vê-los em todos os grandes festivais recebendo grandes prêmios. Eu acho que a não-ficção está definitivamente mais valorizada, e tenho tentado impulsionar ainda mais as coisas nesta direção”. Sigfredo Haro

Chega de Zoom

Mas a edição deste ano, que vai até 25 de abril, representa um desafio completamente diferente.  Hoje, o termo “fadiga do zoom” já virou moeda corrente.  
 
E no ano passado, muitos dos filmes foram disponibilizados, excepcionalmente, para visualização fora da Suíça, o que ajudou a manter os números de streaming elevados. Bujès e sua equipe negociaram rapidamente com os produtores para obter os direitos de transmissão de alguns filmes no exterior, e muitos foram receptivos devido às circunstâncias pandêmicas excepcionais. Mas a oferta deste ano será limitada aos telespectadores localizados no país alpino, exceto para os profissionais credenciados da indústria. 

As sessões presenciais e os eventos especiais foram originalmente limitados às crianças em idade escolar. Entretanto, após as recentes decisões do Conselho Federal Suíço nesta semana, seguiu-se uma rápida mudança de planos. O festival anunciou, algumas horas antes da abertura oficial, que realizará cerca de 50 exibições públicas durante quatro dias, de quinta-feira 22 de abril a domingo 25 de abril. Consulte o programa atualizado no site do Visions du RéelLink externo.

Isso deixou Bujès e sua equipe diante do imenso desafio de manter a audiência alta em um festival virtual, após um ano de pandemia.  

Primeiramente, como acontece todos os anos, a diretora e uma equipe de cinco pessoas tiveram que assistir cerca de 2.700 filmes para fazer a seleção de filmes para o programa final – um processo complicado desta vez pela distância física. 

“Normalmente assistimos aos filmes, trocamos impressões e conversamos bastante”, disse Bujès. “Na sala de projeção este processo é muito fluido, mas, remotamente, é muito mais demorado”.   

O simulacro virtual

O festival também necessitava de uma plataforma integrada para reproduzir virtualmente a dinâmica do festival. A solução utilizada no ano passado foi um arranjo improvisado utilizando tecnologias de ponta como o Zoom. Para a edição de 2021, os organizadores do Visions du Réel adotaram uma plataforma customizada, desenvolvida pela start-up suíça WYTH.

Os festivais são de importância crucial para os profissionais da indústria cinematográfica. Eles costumam ser a primeira oportunidade para novos filmes medirem a reação de um público de cinéfilos. Os festivais de cinema também permitem que produtores e cineastas apresentem seus projetos diretamente aos compradores: distribuidores, canais de TV, potenciais co-produtores, diretores de financiamento de artes e conselhos de cinema de diferentes países. Para a maioria dos cineastas, as festas e eventos dos festivais não são simples diversão, mas verdadeiras oportunidades de negócios.  

Bujès espera que a utilização deste novo ambiente eletrônico, que também foi integrado à plataforma líder mundial de gestão de festivais Eventival, permita que todas essas interações ocorram no âmbito virtual. Os participantes podem assistir a filmes, gerenciar sua própria agenda, reservar reuniões, participar de salas privadas para apresentar seus projetos em desenvolvimento, com a possibilidade de trocar documentos, fotos e assistir a trailers. Tudo isso sem sair do ambiente do festival.

A plataforma estreou em janeiro no mercado de filmes When East Meets West, que acontece paralelamente ao Festival de Cinema de Trieste, na Itália. Os designers da WYTH esperam expandir sua gama de clientes à medida que a pandemia, e as medidas de distanciamento, continuarem na maioria dos países. Resta saber se o apego ao reino virtual continuará após a reabertura dos cinemas e quando o distanciamento social se tornar uma coisa do passado.  
 

De 15 a 25 de abril, o Visions du RéelLink externo apresenta 142 filmes documentários (26 deles produções ou co-produções suíças) de 58 países, dos quais 41% dirigidos por mulheres. Os filmes estarão acessíveis on-line por 72 horas cada um, dentro do limite de 500 visualizações disponíveis por filme. Os espectadores poderão escolher entre ingressos individuais no valor de CHF 5, ou um passe ilimitado no valor de CHF 25. A edição deste ano limita o acesso aos filmes a pessoas com um endereço IP suíço.

swissinfo.ch/ets

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