Perspectivas suíças em 10 idiomas

Um guia de sobrevivência na Suíça para os alemães

Susann Sitzler conversando com a swissinfo em um bar de Berlim. Gleice Mere

Um livro que explica através de vários detalhes curiosos o cotidiano e os hábitos do Suíça. Uma obra carinhosa e interessante sobre a Suíça que foi escrita com a alma por pura necessidade. Assim descreve a imprensa o livro "Grüezi und Willkommen - a Suíça para alemães" de Susann Sitzler.

O principal objetivo da jornalista suíça, que já vive há doze anos em Berlim, é ajudar a melhorar a compreensão mútua de dois povos vizinhos, mas muito diferentes um do outro.

Apesar de ser um país pequeno, a Suíça possui muitas distinções regionais bastante valorizadas pelos suíços. Essa heterogeneidade vai dos diferentes idiomas e dialetos falados em cada região até uma certa rivalidade entre os cantões.

Desde junho de 2004 – com a assinatura de um acordo entre a Alemanha e a Suíça, que permite a contratação de alemães para o mercado suíço sem maiores complicações burocráticas – o mercado de trabalho suíço tem sido praticamente “invadido” pelos alemães.

A jornalista suíça Susann Sitzler, que vive em Berlim desde 1995, escreveu uma espécie de manual para os alemães que explica o modo de pensar e agir dos suíços de dialeto alemão. O livro fez tanto sucesso que irá para sua quarta edição.

“Há pouco tempo estive em um supermercado em Zurique e, involuntariamente, acabei falando com meu marido, que é alemão, em dialeto suíço para não correr o risco de ser maltratada pelo caixa que poderia me confundir com uma alemã. No momento há tantos alemães vivendo lá que os suíços estão deixando de ser cordiais com eles, deixando bem claro que a emigração de alemães em massa não é bem-vinda,” afirma a autora do livro “Grüezi und Willkommen – Die Schweiz für Deutsche” (Grüezi e bem-vindo – A Suíça para alemães).

Diferenças

O título do livro com a palavra de dialeto suíço-alemão, Grüezi, forma de saudação comum para desconhecidos, é em si uma alusão às pequenas diferenças entre os suíços e alemães que, no dia-a-dia, são os fatores que realmente contam no relacionamento interpessoal na Suíça. Atenção e cordialidade não são sinônimo de intimidade.

“A primeira vista os suíços são bastante atenciosos e cordiais, causando a impressão aos estrangeiros que são um povo aberto. No entanto a cordialidade suíça não significa intimidade e sim uma característica da mentalidade desse povo que valoriza a convivência em harmonia, mas sem aproximação. Essa mentalidade faz com que os suíços sejam bem cautelosos quando falam com a outra pessoa e fazem o máximo para passarem despercebidos, não cometerem erros ou provocarem conflitos”, explica Susann.

“A sociedade suíça tem suas raízes numa cultura rural, onde somente os familiares mais próximos mereciam confiança. Por esta razão é muito raro que um suíço convide um conhecido para visitar a sua casa. Somente após anos de observação e convivência, depois de estarem bem seguros a respeito do comportamento e personalidade da pessoa conhecida é que ela merece visitar a sua casa”, completa a jornalista.

Esfera privada

Em seu livro Sitzler reafirma a teoria de que um suíço não convida estranhos para entrar em sua casa e de que a vida caseira é influenciada por três fatores: a característica de reformar e decorar a casa de maneira que ela fique confortável, o regulamento dos moradores do prédio e a cadeia de supermercados Migros.

Anualmente os suíços gastam por volta de um bilhão de Euros para reforma e decoração de sua casa. Segundo estatísticas, em 2003 mais da metade dos suíços passaram seu tempo de lazer cuidando do jardim ou em atividades de trabalho doméstico com objetivos de reforma e decoração.

Barulho

A relação entre proprietário e inquilino é estabelecida no contrato de aluguel que contêm o regulamento do prédio. Esse representa as normas vitais de comportamento que prevêem o que pode ou não acontecer no imóvel. Nele fica estabelecido que entre dez da noite e seis da manhã não se pode fazer nenhum barulho que possa ser ouvido pelos vizinhos. Como barulho podem ser classificados ruídos de banho de chuveiro ou banheira após as 10 da noite, pois pode ser que o vizinho que esteja no andar de baixo ouça o som da água descendo pelo cano se, por acaso, estiver no banheiro.

Em algumas situações ocorre que vizinhos recomendem ao outro que à noite utilizem a descarga somente em casos de extrema necessidade, pois o barulho acorda pessoas com sono leve. Os suíços detestam barulho.

Supermercado

“Migros proporciona aos suíços a possibilidade de se alimentarem com produtos de última geração, cuidarem do corpo, da roupa e do meio ambiente assim como dar brilho em suas casas com os produtos de limpeza mais modernos.”, descreve a jornalista em seu livro.

A cadeia de supermercados é a maior do país com pequenas e grandes filiais, garantindo sempre o abastecimento de produtos básicos com verduras da região, café fair-trade, pão sempre quentinho e todo tipo de produtos do lar com a melhor qualidade e que não agridem o meio ambiente.

A filosofia de seu fundador, Gottlieb Duttweiler, através das décadas conseguiu criar no subconsciente suíço a mentalidade de que toda pessoa trabalhadora – quer dizer, todo suíço – tem o direito a uma alimentação básica com um padrão de luxo.

Entretanto não é de bom tom utilizar esta expressão na Suíça. Para os suíços luxo faz parte das necessidades normais. Entre os produtos que não são comercializados pelo Migros devido aos princípios de seu fundador estão as bebidas alcoólicas e o cigarro.

Diplomacia e maus entendidos

O comportamento diplomático e o dialeto suíço-alemão, que emprega muitos diminutivos, prática não utilizada no alemão falado na Alemanha, faz com que os alemães tenham a impressão de que os suíços são amáveis e de que viver na Suíça é o mesmo que viver na Alemanha, falando o mesmo idioma, mas com algumas pequenas diferenças regionais, menos stress, uma política tributária que respeita os seus dividendos e um salário muito superior ao que receberiam em seu país.

Os suíços, que culturalmente não costumam demonstrar suas desavenças de forma pública, têm outra impressão dos alemães e entre os adjetivos que usam para classificar os vizinhos estão: arrogantes e duros.

No futebol os suíços são sempre rivais dos alemães. Na última Copa do Mundo, de acordo com testemunhos de alemães que vivem na Suíça, não importa contra quem a Alemanha jogava os suíços sempre torciam pelo adversário.

Psicofármacos

Segundo Sitzler a Suíça é um dos países do mundo que mais consomem psicofármacos e ela associa este comportamento ao fato de que os suíços não costumam expressar os seus conflitos de forma aberta, uma característica oposta aos alemães que habitualmente são diretos. A delicadeza não está entre os seus predicados mais populares.

Talvez por isso o livro da jornalista tenha feito tanto sucesso na Alemanha. Afinal ela revela a partir de situações concretas, com bom humor e ironia a maneira de pensar e viver de um povo extremamente diplomático, mas com regras próprias que fazem questão que sejam conhecidas e respeitadas, mas não as pronunciam a não ser nas entrelinhas.

swissinfo, Gleice Mere

– Sitzler diz que alguns suíços se sentem traídos por ela que como suíça revelou os segredos da vida privada de seu país.

– Em março de 2007 a jornalista lançou seu segundo livro “Vorstadt Avangarde, Details aus Zürich-Schwamendingen”, a radiografia das mudanças na Suíça moderna, uma análise da sociedade suíça a partir de um bairro da periferia de Zurique.

– Nos últimos doze meses houve uma migração constante de 1000 alemães para postos de trabalho na Suíça. Atualmente vivem 170 mil alemães nesse país. 25% dos médicos atuantes na Suíça são alemães. Em algumas universidades o índice de professores alemães atinge os 50%. Migrantes de estados da antiga Alemanha Oriental, onde há um alto índice de desemprego, têm realizado trabalhos na construção civil e chegam a ser chamados de os turcos da Alemanha.

– Algumas manchetes de jornais suíços dos últimos doze meses: “Não sei quem gosta dos alemães”; “Eles estão por toda parte”; “Cursos de educação para alemães”; “A bomba teutônica”, “De repente passamos a ter que gostar dos alemães?”

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