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Um tapa nos grandes partidos

Os milhões gastos em cartazes provocadores não permitiram ao SVP um resultado melhor do que em 2007. AFP

As eleições do domingo (23) fizeram que os partidos tradicionais recuassem em favor das novas formações de centro-direita. Para o cientista político Georg Lutz, os perdedores pagam principalmente pela falta de flexibilidade durante a campanha.

Os resultados revelam uma nítida derrota do Partido do Povo Suíço (SVP, na sigla em alemão) e do partido verde.

O centro-direita recebe um novo impulso graças ao Partido Verde Liberal e o Partido Burguês Democrático (PBD), criado de uma dissidência do SVP.

swissinfo.ch: O SVP, conhecido no estrangeiro pela sua iniciativa contra minaretes e sua linha dura contra os imigrantes perdeu bastante nestas eleições. Isso o surpreende?

Georg Lutz: Sim. Esperava-se que seu crescimento fosse apenas mais brando, mas não tão acentuado como essa derrota. Para mim é uma surpresa.

swissinfo.ch: Por que essas perdas no maior partido no país?

GL: Não foi só com o SVP. Em geral, os principais partidos ficaram presos, com uma certa teimosia, em seus temas de campanha tradicionais, enquanto que a crise econômica e o franco forte, por exemplo, são assuntos que interessam as pessoas. Por isso, acho que todos os principais partidos foram penalizados – especialmente o SVP, que tem na verdade apenas um tema de campanha.

swissinfo.ch: Há quatro anos atrás, a esquerda parecia sair perdendo. Isso quer dizer que a polarização acabou?

GL: Em parte. À direita, o SVP continua sendo o partido mais forte. Ele não se tornou menos virulento ou mais moderado nos últimos anos e duvido que se torne nos próximos. A esquerda também manteve-se forte. Mas esses dois polos não foram reforçados. Ao contrário, diminuiram ligeiramente. E temos essa nova subdivisão no centro.

swissinfo.ch: O centro está fragmentado, mas também está mais forte agora. O que isso significará para o trabalho do parlamento?

GL: Acho que, de maneira geral, vai se tornar mais difícil. Os partidos de centro já estão tentando compor maiorias, para isso eles têm que se coordenar, se ajustar. Mas eles nem sempre seguem os mesmos objetivos, e terão que tomar forma nos próximos quatro anos. Isto será feito às custas de outras formações de centro. Eles não podem simplesmente formar um bloco uniforme e dizer ‘nós trabalhamos juntos incondicionalmente’. Eles também devem tentar se diferenciar um dos outros. Isso não facilitará o trabalho do parlamento.

swissinfo.ch: Quando uma decisão deve ser tomada, é quase sempre o centro que faz pender a balança. É ele que faz as coisas avançarem em troca de acordos. O senhor concorda com essa análise?

GL: Concordo. Já era assim antes, e provavelmente será ainda mais verdade agora. Nos últimos 8 a 10 anos, os partidos de centro estavam emaranhados. Eles se alinhavam sempre com um dos dois blocos que davam o tom e que precisavam deles para ganhar. Esta timidez, especialmente diante do SVP, já era. Vimos que o SVP, apesar de uma campanha muito cara, não conseguiu impor o seu tema favorito. Ele perde um pouco do seu potencial de ameaça no trabalho político cotidiano.

swissinfo.ch: Visto de fora, parece que não mudou muito. Os sete maiores partidos se mantêm, mais ou menos, em suas posições. Esse equilíbrio contribui para a paralisia política da Suíça?

GL: Eu não diria isso. No passado, isso sempre foi um dos pontos fortes do nosso sistema, ter diversos partidos envolvidos no trabalho do governo, que também podem desempenhar um papel de oposição. Esta força está de volta e ainda vai marcar a política suíça no futuro.

swissinfo.ch: Dia 14 de dezembro, o parlamento escolhe um novo governo. O que significa a redistribuição de cartas que acabamos de testemunhar no contexto desta eleição?

GL: Para mim, ela se tornou mais aberta. Os membros do governo não são eleitos em bloco, mas individualmente, um após outro. Isto significa que é preciso formar uma maioria para cada cadeira. Mesmo o SVP vai ter que formar uma maioria se apresentar um candidato contra Eveline Widmer-Schlumpf, do PBD. E com a nova configuração, isso certamente se tornou mais complicado. Por isso, é bem possível que a composição política do governo permaneça a mesma após as eleições.

swissinfo.ch: Finalmente, se olharmos para além das nossas fronteiras, os tunisianos também votaram no fim de semana e foram mais de 70% a participar, enquanto que na Suíça apenas um eleitor em dois votou. Por que essa falta de interesse, na sua opinião?

GL: Em primeiro lugar, temos na Suíça uma situação muito estável. Mesmo na comparação internacional, as mudanças esperadas foram bastante pequenas. E vamos acabar tendo um governo bastante estável. Além disso, os cidadãos suíços podem votar, de qualquer maneira, em todas as questões importantes. Estes são certamente alguns motivos que explicam a baixa participação.

Política suíça é dominada por quatro partidos do governo, que compartilham cerca de 80% do eleitorado há mais de um século: o Partido do Povo Suíço (28,9% dos eleitores em 2007), o Partido Socialista (19,5%), Liberal-Radical (17,7%) e o Partido Democrata Cristão (14,5%).
 
Uma nova força política surgiu na década de 1980: o Partido Verde Suíço (PES, na sigla em francês). Os Verdes obtiveram 9,6% dos votos em 2007, mas até agora nunca estiveram representados no governo.
 
Mais recentemente, duas novas formações criadas de divisões conseguiram um espaço: os Verdes Liberais (separados do PES desde 2008) e o Partido Burguês Democrático (separado do Partido do Povo Suíço desde 2008). As pesquisas indicam que os dois partidos poderão progredir na próxima eleição federal, mas não devem exceder, respectivamente, 5 e 4% dos votos.
 
O Parlamento também tem cinco partidos minoritários que, juntos, representam 5,5% dos eleitores a nível nacional: a Lega dei Ticinesi, a União Democrática Federal, o Partido Cristão Social, o La Gauche e o Partido Evangélico.

Adaptação: Fernando Hirschy

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