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Uma escola de investigação eletrônica

A informática serve tanto aos criminosos como aos que combatem o crime Keystone

O Instituto de Luta contra o Crime Econômico (ILCE) de Neuchâtel comemora dez anos. Até agora, foram realizados 116 mestrados com profissionais de todos os horizontes.

Uma formação valorizada pelos alunos, mas pouco reconhecida pelos setores público e privado.



















“Criminalidade econômica é o que não falta no meu país, a Costa do Marfim. Temos os instrumentos de acusação, mas nada no campo da detecção e prevenção. Acho que isso tem que mudar e espero me especializar para poder encontrar soluções”, diz Marianne Diaby.

A advogada de 27 anos, bolsista do governo da Costa do Marfim, faz parte da turma de 11 mestrandos em luta contra o crime econômico de Neuchâtel. Um grupo muito heterogêneo, que reúne policiais, juízes, advogados, economistas, especialistas em informática ou funcionários de bancos.

A mistura é proposital, diz a reitora do ILCE, Isabelle Augsburger-Bucheli: “Reunimos pessoas de origens, formações e profissões muito diferentes, permitindo-lhes ampliar seus horizontes e criar sinergias. Essa formação interdisciplinar abrange o setor público, privado, a repressão e a prevenção dos crimes de colarinho branco”.

Escroqueria, fraude, lavagem de dinheiro, falsificação, corrupção, pedofilia, o ILCE apresenta aos alunos todos os truques do crime digital.

Heterogeneidade e interdisciplinaridade

A formação, de dois dias por semana durante dezoito meses, é exigente. “As motivações dos alunos são muito diversas e muitas vezes pujantes, e é isso que faz a riqueza do instituto”, diz a catedrática.

Outro exemplo, John-Eric Béard, auditor em um banco da Suíça francesa, decidiu pagar do bolso o curso: “estava tão convencido da mais-valia desta formação que reduzi meu tempo de trabalho para 80% e investi minhas economias no curso (20 mil dólares). Eu nunca me arrependi da minha escolha”.

Se ele foi capaz de desenvolver habilidades avançadas em muitas áreas relacionadas com direito, contabilidade, informática, ele também aproveitou bastante os cursos de ciência forense e criminalística.

“Esses cursos são interessantes e permitem lidar adequadamente com muitas situações. Eles completam a formação em relação a fraude, a investigação, a preservação de provas eletrônicas, etc”, diz.

John-Eric Béard é só elogios para o nível dos professores do ILCE que “procuram transmitir tanto o conhecimento profissional como o pessoal, além de sacrificarem vários sábados pelos alunos”.

Criação de redes de contatos

Estreitamente associada com exercícios práticos, a formação permite a todos beneficiar da experiência dos outros e criar redes de contatos. “Esta é uma oportunidade única para aperfeiçoar os conhecimentos e ao mesmo tempo criar laços com pessoas muito competentes, que podem ajudar a relançar a carreira”, diz John-Eric Barba, quase sem malícia.

Outro mestrando, Sewa Tchoukouli, 36 anos, economista, jornalista investigativo e ex-assessor especial do governo do Togo. As eleições de 2005, marcadas por fraudes e violência, acabaram em “divergências” que o obrigaram a se refugiar na Suíça.

Seu sonho é trabalhar para a Interpol na África. “As conexões são muito semelhantes e há maneiras simples de limitar o estrago. Por exemplo, muitas administrações trabalham tradicionalmente com dinheiro líquido: é preciso evitar esse contato direto para evitar a tentação de se servir do caixa”.

Sewa Tchoukouli defende também a criação de um controle dos habitantes: “Parece estúpido, mas um registro da população iria facilitar a identificação dos contribuintes e prevenir a fraude eleitoral”.

“O dinheiro é a essência do crime”

Um terço dos estudantes do ILCE vêm do setor público: administração, polícia e justiça. Vanya Karati é inspetor de brigada financeira: “A economia tem um papel importante em todos os níveis da criminalidade. Cada infração tem seu lado econômico. Isso deve ser levado em conta em qualquer inquérito, por mais tradicional que seja. Mas esse ponto é muitas vezes subestimado e acho isso um erro grave”.

Este jovem de 28 anos disse que estava surpreso pela qualidade do ILCE. “A formação não me ajudou apenas a alcançar o sucesso em meu trabalho, mas também me enriqueceu muito a nível pessoal, devido a diversidade de alunos, professores, cursos, mas também oportunidades de trabalho interdisciplinar com pessoas que partilham meu ideal”, observa.

Vanya Karati também teve que fazer muitos sacrifícios para realizar a formação, que é financiada inteiramente por ele. Mas isso não o desencorajou: “Apesar de tudo, eu faria o mesmo caminho, e ainda mais depressa, porque considero um excelente investimento, não necessariamente financeiro, mas na minha vontade de continuar investigando, proporcionando resultados mais eficazes, quer no setor público ou no privado. Para mim, esse é o melhor trabalho do mundo!”.

Patrões cautelosos?

Existem muitos casos de alunos que devem custear sozinhos a formação do ILCE? “Felizmente essa não é a regra, mas é verdade que alguns alunos têm dificuldade em obter uma redução nas horas de trabalho com seus chefes”, responde a Senhora Augsburger-Bucheli. “Também pode acontecer que um chefe não queira reconhecer as habilidades adquiridas, por medo de ter um funcionário mais qualificado do que ele, ou de perdê-lo após a formação”.

Outro obstáculo: a crise econômica. A reitora do ILCE sabe que a educação é a primeira vítima das medidas de redução de custos.

2000: criação do Instituto de Luta contra a Criminalidade Econômica da Escola Superior de Administração Arc de Neuchâtel. É o resultado de um acordo entre a Escola Arc, a Universidade de Neuchâtel, o Instituto Suíço de Polícia e o governo de Neuchâtel.

É a única formação em francês no mundo nesta área, geralmente dominada pelo inglês.

Objetivo: formar investigadores (juízes, agentes de polícia) para a implementação do novo arsenal legislativo contra a criminalidade financeira, em vigor desde a década de 1990 (Lei de Lavagem de Dinheiro, auto regulamentação, etc.).

Alvos: escroqueria, fraude, lavagem de dinheiro, falsificação, corrupção, etc. Mas a escola também oferece instrumentos de prevenção para governos, bancos, etc.

Quatro áreas de formação: informática, finança, criminologia e criminalística.

A informática tornou-se mais importante (tanto como veículo da criminalidade como ferramenta de detecção e investigação), por isso foi criado o Centro de Investigação Digital e Criptologia para as forças da ordem, com um certificado em investigação financeira e outro em investigação eletrônica.

Desde 2001, 116 mestres foram formados. 650 horas de cursos são ministradas em dezoito meses por 55-60 especialistas, com um módulo prático.

Participantes: 60% dos estudantes vêm do setor privado e 40% de instituições públicas (administração 22%, polícia 18% e justiça 10%)

Adaptação: Fernando Hirschy

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