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Uma mescla de tradição e modernidade

O novo aspecto do Scala de Milão. swissinfo.ch

O teatro La Scala, de Milão, o mais famoso palco da ópera lírica mundial, reabre as portas depois de quase três anos de trabalhos de reforma, restauração e acústica.

E por detrás das obras, polêmicas, estão as mãos e a mente do arquiteto suíço Mario Botta.

Os puristas dizem que ele profanou o templo sagrado, erguido em estilo neoclássico pelo companheiro de profissão Giuseppe Piermarini, em 1778. “Piermarini veio ao meu encontro muitas noites para agradecer o que eu tinha feito”, ironiza Mario Botta.

Por isso, não seria demérito algum dizer que a Suíça entra no novo teatro pela porta dos fundos.

“O La Scala precisava de espaço, assim removemos tudo aquilo que tinha sido incorporado ao longo dos anos de modo que o palácio recuperasse a sua estrutura original e, acima do teto e lá trás, acrescentamos os dois novos volumes”, explica ele a swissinfo, falando do prédio helicoidal e o outro na forma de paralelepípedo, que se sobrepõem ao teatro.

Ambos se destacam na paisagem urbana tradicional do quarteirao do La Scala, no centro de Milão.

A reforma de Mario Botta

O primeiro tem a forma de uma meia elipse, lembra vagamente a torre de comando de um grande navio, e se assemelha muito ao desenho da sala interna do teatro. Ele abriga os camarins, os vestiários e os escritórios de serviço.

Mario Botta afirma que “a cidade está cercada de construções cilíndricas sobre as nossas cabeças mas não nos damos conta. Os resevatórios de água, as cúpulas das igrejas e da vizinha galeria Vittorio Emanuele, existe uma vida autonoma nos tetos de Milão assim como de outras cidades européias”, responde ele aos críticos. “Aqui, o contemporâneo valoriza o elemento histórico”, se defende ele.

Já o prédio no formato de um paralelepípedo(50 mts de largura, 70 de comprimento e 56 de altura) se ergue bem atrás da fachada imponente do La Scala.

A nova construção foi concebida para ser preenchida de cenografias. Tem 38 metros acima da superfície outros 18 abaixo. Nas suas paredes estão os setores de controle da refrigereção, eletricidade, mecânica, iluminação, além das salas de prova para os artistas e, principalmente, contém o coração do teatro, o palco cênico.

A torre cênica, a maior e a mais moderna do mundo, é alta de 56 metros. Dentro dela caberia um prèdio de 19 andares. Este esqueleto de aço foi a resposta de Mario Botta às modernas exigências cênicas e tecnológicas para as montagens de espetáculos cada vez mais grandiosos.

O palco cênico principal foi montado sobre uma plataforma móvel, criada por um engenheiro italiano, que desce para o subsolo enquanto o palco lateral e/ou o retropalco se movem para ocupar o espaço vazio. Assim, três espetáculos podem ser montados ao mesmo tempo, sem contar nas mudanças mais rápidas dos cenários.

A restauração

As coxias escondem um maquinário de última geração, quase invisível ao espectador mais atento. As poltronas contém “displays” óticos para a leitura dos textos da ópera.

O acabamento do teatro, totalmente restaurado, reflete o esplendor da velha sala do século 18. O vermelho “scala” está emoldurado pelo dourados dos capitéis das colunas, das bancadas e camarotes.

Os tecidos com os desenhos e cores originais foram recuperados e refeitos. Um enorme trabalho de pesquisa e de restauração minuciosa garantiram a reconstituição de uma época que parecia perdida. Assim se resgatou o valioso piso de cerâmica e de seminato de Veneza, escondidos sob um velho assoalho.

Mármores apenas descritos no projeto original reapareceram debaixo de camadas e camadas de pintura nos corredores. “Tivemos muita dificuldade em recuperar o pavimento em cerâmica pois ela é feita de material poroso. Por exemplo, para cada 4 metros quadrados, somente para limpá-lo, duas pessoas gastaram 34 horas”, explica a diretora de restauração Elizabette Fabbri a swissinfo.

“Foi um trabalho longo porque a mão de uma pessoa deixa marcas, então uma mesma especialista teve de fazer sozinha, do começo ao final de uma determinada reconstituição”, acrescenta ela.

A acústica

“Nenhuma peça histórica foi demolida ou se perdeu durante a construção dos dois novos anexos. Tivemos tambèm que modificar todo o pavimento do teatro para abrir caminho para a recuperação da sua acústica”, lembra Mario Botta.

Na verdade, apenas o velho palco cênico original foi desmontado e será exibido em um museu. O resto era entulho de reformas passadas, incluindo o piso, malfeito sobre os escombros do teatro, atingido por uma bomba em agosto de 1943. As ruínas tinham sido varridas para debaixo dos tapetes e comprometeram o som do La Scala.

“O engenheiro Higino Arau, responsàvel pela acústica, trocou o piso, usando materias diferentes e conseguiu transformar o teatro numa caixa de ressonância contemporânea”, cometou Mario Botta.

O resultado foi elogiado pelo maestro Riccardo Muti, um dos melhores do mundo. As notas musicais vão encontrar anteparos perfeitos para permitir ao ouvinte escutar, não somente com a audição mas com todo o corpo, o que antes não acontecia.

O segredo está no revestimento interno das poltronas com uma capa de polietileno e nas sete camadas de gesso, cortiça, concreto armado e madeira, entre outros elementos, colocadas embaixo do piso da platéia.

A reabertura do teatro traz à luz da ribalta o encontro da arquitetura moderna com a histórica. O La Scala tem a platéia mais antiga do mundo e, ao mesmo tempo, a área cênica maior e mais moderna.

A ópera encenada na reabertura, Europa Reconhecida, é a mesma da inauguração, em 1778.

“Eu esperava as críticas, mas ao final, o diabo nao é tão feio como pintavam, não é mesmo?!”, comenta Mario Botta. A reinauguraçao do La Scala acontece pontualmente no dia 7 de dezembro, com precisão suíça.

swissinfo, Guilherme Aquino, Milão

A demolição colocou abaixo 120 mil metros cúbicos de material.
700 toneladas de aço em estruturas metálicas.
Potência elétrica é de 4.000 kw
2 mil toneladas de aço para sustentar o concreto armado.

– Mario Botta teve 4 meses para apresentar o projeto.

– A ópera de reabertura, Europa Reconhecida, do compositor italiano Antonio Salieri, é a mesma que inaugurou o teatro em 3 de agosto de 1778.

– Para o maestro Riccardo Muti esta é uma grande oportunidade da história fazer justiça a este grande músico, professor de Beethoven e Schubert.

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