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Suíça tem dificuldades com os nômades

Em abril de 2014, policiais são chamados para a remoção dos nômades. Keystone

Os "jenische", uma minoria reconhecida na Suíça, protestaram em abril em Berna por falta de espaços para se instalar, provocando uma forte repercussão na mídia. Apesar das leis garantirem, apenas algumas regiões disponibilizam espaços para seus veículos e trailers. Os "lugares mais atraente não têm interesse em recebê-los", explica uma das autoridades.

O fato de terem fixado uma mangueira na torneira de casa sem perguntar o irritou. Fora isso, Ernst Lehmann não tem palavras críticas. O aposentado interrompe a cada minuto seu trabalho no jardim para verificar o que está acontecendo além da cerca. Lá, os novos vizinhos acabam de se instalar no terreno vizinho.

Fora a água corrente, os recém-chegados trouxeram tudo o que necessitam para viver. Os modernos trailers também estão equipados com banheiros. As placas mostram que eles vêm de todas as partes da Suíça. “Veja como somos ordeiros como as pessoas estabelecidas. Somos todos suíços, contribuintes, que fazem o serviço militar e pagam aluguel pelas suas vagas”, afirma Mike Gerzner.

Essa pessoa de 30 anos é presidente do “Movimento dos Nômades Suíços”, um grupo oriundo dos jenische, que foram reconhecidos em 1998 como minoria no país. Entre três e cinco mil deles são nômades. No verão, se deslocam na Suíça de um lugar para outro para exercer profissões diversas como zeladores, comerciantes de metal velho, afiadores de facas ou pintores de parede.

“Vida cada vez mais difícil”

Há anos os representantes da minoria encontram poucos lugares onde podem se instalar por alguns dias e procurar seus clientes. “Às vezes tentamos ficar em qualquer espaço verde, mas isso também está ficando  difícil, pois os agricultores são pressionados pelas autoridades”. Também a vida dos nômades ficou mais difícil. “Existem comunas onde folhetos pedem à população que as pessoas não nos deem trabalho”, reclama um jovem nômade, cujos antepassados também viviam da mesma forma.

Em 2003, o Tribunal Federal reconheceu o direito dos nômades a espaços dignos para se estabelecer ou de trânsito e decidiu que “estes sejam disponibilizados no plano diretor”. Porém desde então pouca coisa ocorreu. Ao contrário dos 80 lugares de passagem necessários, apenas 45 foram demarcados. Também não é melhor a situação dos locais de permanência durante o inverno. Apenas 15 deles foram oferecidos, enquanto que o necessário seria mais de 40.

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Cansados das promessas

Por estarem cansados “das promessas vazias”, os membros do Movimento dos Nômades Suíços”, mais de cem mulheres, homens e crianças de várias idades, protestaram em abril Em Berna, capital helvética. O movimento se distância claramente dos “ciganos” estrangeiros”, considerados por eles responsáveis pela má imagem dos nômades.

Antes de o grupo ter chegar a Berna, eles foram contidos pela polícia e levados até uma zona limítrofe da cidade. Pelo fato desse local ter sido utilizado pelos visitantes de uma grande feira agrícola durante alguns dias, a polícia ameaçou os nômades de serem retirados do local a partir de um determinado prazo. As autoridades cercaram então o espaço e removeram diversos reboques.

A organização dos nômades (“Radgenossenschaft der Landstrasse”, em alemão, ou Sociedade Móvel da Rua Landstrasse) não participou do protesto, mas também não se distanciou. “Não tivemos participação nessa ação”, declarou o presidente Daniel Huber. “Tentamos lutar por nossas reivindicações através da via política.”

Porém os resultados não surgiram, concorda Huber e mostra compreensão pelo protesto do movimento renitente. “Claramente existem poucos espaços”. Com exceção da Argóvia, Grisões e, em parte também St. Gallen e Zurique, os cantões organizaram pouca coisa concretamente. “Agora chegamos ao ponto em que os nômades precisam cobrar pelos seus direitos”, declara Huber.

Os “jenische” vivem principalmente na Alemanha, Suíça, Áustria e França.

Cerca de 100 mil pessoas falam um idioma próprio. O “jenische” como língua é originário do jiddisch, que pode variar segundo a região e as famílias.

Na Suíça, 90% dos nômades são jenische. Dessas pessoas, 30 mil se fixaram em algum lugar. Entre três e cinco mil ainda são nômades. Eles vivem em clãs com até vinte pessoas, em 6 a 8 trailers.

Desde 1998 são protegidos como minoria nacional de acordo com uma convenção do Conselho da Europa.

Os jenisches suíços têm a nacionalidade suíça também. Eles ficam registrados nas comunas onde passam os invernos e onde as crianças vão à escola. No verão, quando se deslocam no país, as crianças aprendem com os pais e professores particulares.

“Precisamos fazer grandes investimentos”

Dentre as “ovelhas negras” dos cantões está incluído o cantão (estado) de Schwyz, onde muitos dos nômades têm as suas origens. Peter Reichmuth, secretário do Departamento de Economia do cantão de Schwyz e, ao mesmo tempo, responsável pelas questões ligadas aos nômades, está consciente de que os cantões têm muitas tarefas a cumprir nessa questão. Todavia ele não confirma que nada foi feito até agora, especialmente devido aos inúmeros esclarecimentos dos últimos anos. Depois que a disponibilização de um lugar de passagem na capital do cantão foi recusada pelos eleitores, o governo desenvolveu em 2012 um conceito que regulamenta a divisão de tarefas entre o cantão e as comunas, assim como o financiamento dos lugares de passagem.

“Estamos negociando intensamente com o objetivo de disponibilizar no cantão entre um e dois lugares de passagem”. Os resultados parciais ainda não foram publicados. “Os responsáveis pelo centro esportivo de inverno Hoch-Ybrig estão dispostos a oferecer o estacionamento durante os meses de verão aos nômades, caso lá não ocorra nenhum evento especial”, relata Peter Reichmuth. Até então não existem espaço para os nômades se estabelecerem no cantão de Schwyz. Existe somente um lugar de passagem na comuna de Feusisberg.

Sem infraestrutura

“Porém esse lugar não pode ser utilizado”, afirma o vereador Beat Flühler. “Atualmente tem muita madeira por lá, pois árvores estão sendo cortadas na floresta ali atrás”. Há muitos anos não aparecem nômades. No local também não existem água corrente, energia elétrica ou instalações sanitárias. Para disponibilizar um local de passagem é preciso “realizar muitos investimentos”, esclarece Flühler.

Feusisberg entrou para o noticiário desde que a revista semanal “Weltwoche” classificou-a no ranking das comunas “como o lugar mais atraente da Suíça”. A classificação da comuna, localizada ao sul do lago de Zurique e onde um entre cinco habitantes pode ser considerado milionário, deve a sua classificação ao desenvolvimento demográfico, ao nível de construção imobiliária, à estrutura social, à riqueza e, especialmente, ao baixo nível de impostos.

Flühler confirma a boa situação financeira da comuna, “mas ela não está interessada em um local de trânsito, devo ser sincero.”

O termo “cigano” é uma expressão criada na Europa do Século XV, para designar povos nômades (ou cujo nomadismo constituía característica de seu modo de viver), e que a si próprios chamam de ROM, SINTI ou CALON.

Hoje, na Europa e nos Estados Unidos, a expressão “cigano” (gypsy, tsigane, zingaro, etc.) é evitada pelos ciganólogos não-ciganos, os quais preferem a expressão geral adotada pelos movimentos de afirmação dessa etnia, adotando a expressão ROMA. Entretanto, costuma-se distinguir pelo menos três grandes grupos: (1) os ROM, ou Roma, que falam a lín­gua roma­ni; são divididos em vários sub-grupos, com denominações próprias, como os Kalderash, Matchuaia, Lovara, Curara etc..; são predominantes nos países balcânicos, mas a partir do Século XIX migraram também para outros países europeus e para as Américas; (2) os SINTI, que falam a língua sintó e são mais encontrados na Alemanha, Itália e França, onde também são chamados Manouch; (3) os CALON ou KALÉ, que falam a língua caló, tido como “ciganos ibéricos”, que vivem principalmente em Portugal e na Espanha, onde são mais conhecidos como Gitanos, mas que no decorrer dos tempos se espalharam também por outros países da Europa e foram deportados ou migraram inclusive para a América do Sul. (Fonte: cartaforense.com.br)

Adaptação: Alexander Thoele

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