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Vale confirma interesse pela anglo-suíça Xstrata

Funcionária da Vale na mina de ferro de Carajás Keystone

Companhia Vale do Rio Doce confirma negociações com a rival anglo-suíça Xstrata, mas não comenta suposta oferta de 90 bilhões de dólares, mencionada por fontes do mercado.

Gigante brasileira estaria interessada em diversificar sua produção, atrair investidores britânicos e usufruir das vantagens fiscais da empresa sediada na Suíça.

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), maior produtora de minério de ferro do mundo, planeja comprar a rival anglo-suíça Xstrata, sediada no paraíso fiscal de Zug, na Suíça, segundo informam agências de notícias.

A informação gerou especulações sobre o valor do negócio. Fontes do mercado falam de uma oferta de 90 bilhões de dólares (35 bilhões de dólares em dinheiro e o resto em ações), valor que a Vale não quis comentar.

Em nota divulgada na segunda-feira (21/01), a empresa apenas confirmou que “tem mantido entendimentos com a Xstrata, os quais não chegaram, até o momento, a qualquer resultado concreto”. Ela informou ainda que estuda a possibilidade de outros acordos.

A Vale admitiu também que as atuais turbulências no mercado financeiro internacional são “um grande desafio no contexto de qualquer movimento estratégico de porte”. Analistas prevêem que isso pode retardar ou até impedir o fechamento do meganegócio.

Sem comentários

Contatada pela swissinfo, a companhia brasileira não quis comentar as especulações nem forneceu qualquer informação que fosse além da nota divulgada à imprensa.

Também a Xstrata se manteve encoberta. “Tomamos conhecimento do anúncio da Vale e não temos nada mais a comentar”, informou à swissinfo a assessoria de comunicação do grupo anglo-suíço, em Londres.

A Xstrata estaria tentando acelerar a conclusão das negociações, para aproveitar a alta das matérias-primas no mercado mundial e arrancar um bom preço por suas ações. Já a empresa brasileira correria o risco de ver rebaixada sua nota de rating de grau de investimento, afirmam analistas.

De olho no paraíso fiscal

A incorporação também dependeria de um entendimento com a Glencore, maior acionista da Xstrata, com 34,6% do capital, e também sediada no cantão de Zug. Há meses as duas empresas são objeto de especulação, mas nenhum dos rumores se confirmou até agora. A Glencore não quis se pronunciar sobre o assunto.

Segundo a agência Bloomberg, a Vale quer comprar a Xstrata para diversificar sua produção, ter acesso a investidores que atuam na Bolsa de Londres (onde a empresa anglo-suíça também é cotada) e aproveitar as vantagens fiscais oferecidas pelo cantão de Zug, um dos estados com os impostos mais baixos da Suíça.

Desde que comprou a canadense de níquel Inco por 17 bilhões de dólares em 2006 – a maior aquisição já realizada por uma empresa brasileira –, a CVRD não esconde sua ambição de se tornar líder mundial na área de mineração.

Uma fusão com a Xstrata a levaria a superar a Anglo American, que ocupa o segundo lugar mundial no setor de matérias-primas e que também estaria interessada na Xstrata. Além disso, a Vale se tornaria grande demais para ser engolida por uma rival.

Onda de fusões

As atuais negociações coincidem com os rumores sobre uma outra megafusão no setor de matérias-primas, entre dois grupos australiano-britânicos: a maior mineradora do mundo – a BHP Billiton – teria oferecido 108 bilhões pela Rio Tinto, terceira colocada do mercado.

Na avaliação do diário argentino La Nación, uma fusão entre a Vale e a Xstrata daria continuidade à consolidação da indústria de mineração, impulsionada pela demanda global de ferro, carvão, cobre e outros commodities na China e em outras partes do mundo.

“A demanda e os altos preços das matérias-primas encheram os caixas das mineradoras, aumentando a pressão para que se expandam e controlem os recursos-chave antes que suas concorrentes se apoderem deles”, analisa o jornal.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

A Xstrata, com sede no cantão (estado) de Zug, na Suíça, é um conglomerado global de mineração, com ações cotadas nas bolsas de Londres e Zurique.

A empresa mantém posições de destaque nos sete maiores mercados internacionais de commodities: cobre, carvão siderúrgico, carvão térmico, ferro-cromo, níquel, vanádio e zinco, com negócios adicionais nos grupos de metais platinados, ouro, cobalto, indústrias de reciclagem e liderança numa série de produtos de tecnologia global.

O grupo tem operações e projetos em 18 países: Alemanha, África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Espanha, EUA, Filipinas, Nova Caledônia, Noruega, Papua Nova Guiné, Peru, Reino Unido e Tanzânia.

A Xstrata informa que emprega aproximadamente 50 mil pessoas, incluindo funcionários de empresas contratadas. No Brasil, atua na área de mineração de níquel.

Na abertura do Fórum de Econômico Mundial (WEF) 2008, em Davos, a organização não governamental Public Eye concedeu à Glencore e à multinacional nuclear francesa Areva o prêmio “Public Eye People’s Award”, destinado às empresas socialmente mais irresponsáveis do mundo.

ONGs de todo o mundo haviam indicado cerca de 40 empresas nacionais de multinacionais para o “Public Eye Awards”. Durante 10 dias, 12.388 usuários participaram da escolha dos vencedores via internet.

A Glencore, conglomerado do setor de matérias-primas e maior empresa suíça em termos de faturamento, ganhou essa espécie de anti-Oscar pela poluição ambiental e pelos danos à saúde causados por suas minas de carvão na Colômbia, declararam os organizadores do “Public Eye on Davos”, evento paralelo ao WEF. A empresa não quis comentar a premiação.

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