Gripe aviária às portas da Europa
O temido vírus da gripe aviária - H5N1 - não limita mais seu poder destrutivo à Ásia. A doença chegou também na Europa.
O comissário europeu encarregado da Saúde, Markos Kyprianou, anunciou que pesquisadores do laboratório europeu de referência em Weybridge, na Grã-bretanha, confirmaram a existência de um caso nas aves turcas analisadas.
A Turquia e depois a Romênia. A gripe aviária chega à Europa, causando inquietação geral. Detectado pela primeira vez em Hong-Kong em 1997, o vírus H5N1, extremamente patogênico, continua a aparecer em vários países asiáticos, se estendendo recentemente no Kasaquistão e em povoados da Sibéria.
A Organização Mundial da Saúde (OMC) confirmou na quinta-feira (13.10) que os casos de aves doentes analisadas na Turquia e, provavelmente na Romênia, eram portadoras do vírus H5N1.
A OMC fez um apelo para que os países atingidos tomem medidas drásticas para eliminar os animais doentes. A Romênia já anunciou um plano de abate de frangos e aves na região próxima ao aviário onde foi encontrado o vírus, situado nas proximidades do rio Danúbio, assim como na limitação da circulação. As medidas provocaram reações violentas de alguns criadores da região, levando o governo em Bucareste a prometer indenizações e distribuição de alimentos.
Como o vírus chegou até o leste europeu? Essa questão precisa ainda ser respondida. A União Européia enviou especialistas à Romênia, encarregados de analisar de aves migratórias podem ter servido de portadoras do vírus ou descobrir se o problema foi causado por atividade humana.
Na Suíça, o Departamento Federal de Saúde confirmou ontem a proibição da importação de produtos à base de frango originário desses países.
É perigoso ter contato com aves?
O governo suíço solicita à população manter a calma. A Suíça ainda não teve casos de gripe aviária. Os controles e os cadáveres de aves possibilitariam a detecção rápida da doença. E mesmo nos países asiáticos, onde a gripe aviária é forte há três anos, os casos de transmissão aos seres humanos são extremamente raros, como ressalta Jean-Louis Zurcher, porta-voz do Departamento Federal de Saúde.
– Numa população total de dois bilhões de pessoas, foram contabilizados apenas 120 casos, sendo que a metade foi mortal. Essas pessoas tinham um contato muito próximo com os animais atingidos pelo vírus, que se transmite pelas secreções das aves. Ao contrário dos países asiáticos, frangos e perus não são vendidos vivos na Suíça. E se o vírus está presente na carne de uma ave, ele desaparece rapidamente no momento do cozimento ou fritura.
O medo de contaminação é real?
Werner Wunderli, diretor do Laboratório Central de Virologia, detalha três fatores que fazem do vírus um problema extremamente preocupante. Em primeiro lugar, ele mostrou uma forte capacidade de se adaptar, lembra o especialista. Nesse sentido, os felinos em cativeiro que foram alimentados com as aves contaminadas (carne crua) teriam desenvolvido a doença. O vírus aviário H5N1 – segundo fator de preocupação – nunca circulou entre os seres humanos.
– Isso significa que nós não dispomos de um sistema imunitário capaz de combater o mal. Além disso, o fato de que metade das pessoas morreu mostra a virulência do vírus. Mesmo se este se adaptar aos seres humanos, essa virulência poderia baixar, mas continua sendo uma doença agressiva. No caso de uma pandemia, a taxa de contaminação entre 5 e 10% já poderia ser uma grande catástrofe.
Porém outros fatores relativizam o mal. Em primeiro lugar, nenhum caso de transmissão do homem ao homem foi confirmado até então. Mesmo a capacidade do vírus de passar de uma espécie a outra ainda não foi inteiramente esclarecida. Até agora, nenhum caso de ave selvagem morta devido ao vírus foi identificado com segurança.
Além disso, como lembra Cathy Maret, do Departamento Federal de Veterinária, os casos de contaminação “leve” nos seres humanos foram numerosos na Ásia, mas não haviam sido identificados devido ao seu caráter benigno. Isso reduz um pouco o medo de uma forte virulência do vírus.
E necessário se vacinar contra a gripe?
As recomendações continuam as mesmas dos anos passados: a vacina da gripe é destinada principalmente à população idosa, além dos adultos e crianças que sofrem de algumas doenças crônicas.
De todas as maneiras, o Departamento Federal de Saúde não exclui totalmente a aparição do vírus aviário nos pássaros selvagens e nas aves de criação na Suíça. Nesse caso, o órgão recomenda a vacinação contra a gripe para os profissionais que têm contato freqüente com os animais.
É óbvio que a vacina contra a gripe comum não protege contra o vírus da gripe aviária. Porém as autoridades helvéticas têm dois objetivos: evitar casos de pânico, onde as pessoas suspeitam da gripe aviária quando se trata apenas de uma simples gripe. Em segundo lugar, a vacina diminui a probabilidade que uma pessoa possa ser contaminada pelos dois vírus ao mesmo tempo. “O risco existe que o vírus aviário H5N1 possa ser combinado com um outro vírus da gripe comum”, explica Werner Wunderli. Apenas depois dessa adaptação, é que o vírus pode ser transmitido para os seres humanos.
Um estudo publicado há pouco tempo mostra que no caso da famosa gripe espanhola de 1918, o vírus se adaptou diretamente nos seres humanos sem passar, como se acreditou durante muito tempo, por um animal como o porco.
É possível interromper a epizootia na Suíça?
Em 1997, Hong-Kong tomou medidas drásticas e consideradas por especialistas como eficazes. “Isso mostra que é possível de manter a situação sob controle, mesmo se ela exige muita disciplina”, explica Werner Wunderli. Desde o início de 2004, o Departamento Federal de Veterinária proibiu a importação de aves, carne de aves e ovos originários de países atingidos pela gripe aviária.
Em vários países europeus, incluindo também a Suíça, um programa de vigilância de aves migrantes foi colocado em ação para determinar se elas poderiam ser portadoras do vírus H5N1, ou desenvolver a doença. Nesse caso, visto a impossibilidade de impedir os movimentos das aves selvagens, então as de criação terão de ser isoladas, sobretudo aquelas que estão em criações abertas.
A questão ainda está sendo estudada pelo governo federal suíço. Países como a Holanda, que haviam sido pioneiros nesse sentido, acabaram dando um passo atrás. As dificuldades de manter a higiene, a agressividade e os casos de canibalismo que surgiram nos aviários levaram as autoridades responsáveis a liberar os frangos e perus.
Quais as medidas contra uma pandemia?
O caso de aparição do vírus nos seres humanos, um plano de pandemia será iniciado para limitar a progressão da doença. Dentre as diversas ações previstas, está o fechamento das escolas e locais de reunião. Na Suíça, as autoridades dispõem de uma reserva do medicamento Tamiflu para tratar um quarto da população, seja as pessoas já doentes ou o encarregadas de tratar os atingidos.
A medida corresponde às normas da OMC, que também se baseia em experiências anteriores: a primeira vaga de uma epidemia atinge geralmente entre 20 e 25% da população. Depois, ocorre uma corrida contra o relógio: elaborar uma vacina e aplicá-la em todas as pessoas, para que a primeira onda de contágio possa também ser a última.
swissinfo com agências
Surgida na Coréia do Sul em 2003 após um primeiro alerta posto sob controle em Hong-Kong em 1997, a epizootia (ocorrência de casos de natureza similar em população animal de uma área geográfica particular, que se apresenta claramente em excesso, em relação à incidência esperada) da gripe aviária acaba de ser detectada em aves na Turquia, após 12 países asiáticos, o Kasaquistão e a Rússia.
Ela é provocada por dois dos 15 subtipos de vírus encontrados nos pássaros, os H5 e H7 reputados de perigosos.
Desde o fim de 2003, ela já fez 65 mortos na Ásia, em sua grande maioria, pessoas que tinham contato intenso com aves.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma pandemia poderá causar entre 2 e 7,4 milhões de mortos.
– O governo suíço congelou as importações de aves da Romênia e da Turquia, países possivelmente atingidos pela gripe aviária.
– O vírus H5N1 não afeta os seres humanos, mas a vacinação contra a gripe é recomendada para os criadores de aves, doentes crônicos e profissionais da área médica.
– O governo suíço vai investir 4,8 milhões de francos num programa de despistagem do vírus H5N1 nos pássaros migradores provenientes dos países do leste europeu.
– A decisão da compra de vacinas para o caso de pandemia ainda será decidida pelo Departamento Federal da Saúde.
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