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Vinhos finos franceses financiam pesquisa suíça

Os grandes vinhos franceses se interessam por métodos mais suaves de luta contra os fungos. AFP

A pesquisa vinícola suíça está desenvolvendo extratos vegetais que combatem os principais fungos que atacam os vinhedos.

O resultado convenceu nove grandes vinhos franceses de Bordeaux que decidiram financiar o projeto.

Míldio, oídio e mofo cinzento costumam deixar os viticultores arrepiados. Se o desenvolvimento deles não é impedido a tempo, esses fungos podem arruinar a colheita. E não dá para impedir todos de uma vez, pois a sua implantação não exige as mesmas condições.

Em 2008, no sul da Europa, apesar dos tratamentos fitossanitários, o míldio destruiu até 30% da colheita. Há muito tempo que o problema vem sendo estudado. Na Suíça, o Centro de Pesquisa em Agricultura de Changins-Wädenswil já se tornou até especialista no controle do fungo.

Para isso é necessário o uso de cobre, um verdadeiro espantalho para fungos, incluindo míldio. Mas esse metal é tóxico e se acumula no solo. Como o resto da indústria vinícula, o instituto agrícola suíço sonha em poder não mais empregá-lo, mas alternativas como pesticidas não agradam a opinião pública, nem os consumidores.

Apoio de prestígio

Na região de Bordeaux, na França, nove “Premier Grands Crus” decidiram abordar juntos alguns desses problemas, como a proteção da vinha. Eles também procuram reduzir o uso de agrotóxicos agressivos.

“Todos nós esperimentamos um pouco a viticultura orgânica, mas não é completamente satisfatória. Atualmente não temos uma alternativa eficaz”, explica Marie Descotis, responsável de pesquisa e desenvolvimento do famoso “Chateau Margaux”.

Baseados em um artigo da bióloga Katia Gindro, publicado em uma revista suíça de vinhos em 2008, os franceses entraram em contato com os pesquisadores de Changins. Segundo eles, os suíços eram os mais avançados no uso de extratos vegetais.

Convencidos do potencial desta pesquisa, da qualidade dos pesquisadores e de sua abordagem altamente analítica, os franceses se ofereceram, então, de financiar a continuação deste trabalho para uma aplicação prática nos vinhedos. Para os suíços, foi uma excelente oportunidade poder contar com o apoio inédito de patrocinadores estrangeiros de tamanho prestígio.

Disponível para todos

Os 200 mil francos investidos irão financiar durante dois anos um pós-doutorado e satisfazer as necessidades de equipamentos durante a pesquisa.

“O setor de micologia dispõe de 50 mil francos por ano. Esse apoio vai nos permitir ir muito mais longe em nossa pesquisa. E todos os resultados serão divulgados aos profissionais e pesquisadores da área”, garante Katia Gindro.

Ciente de que o mundo vegetal é uma mina de ouro, a equipe de Katia Gindro está trabalhando com duas propriedades de plantas cultivadas nas proximidades. Algumas espécies, como rhamnus frangula, ruibarbo, ou erva de S. João contêm moléculas capazes de estimular os mecanismos de defesa naturais da videira. Outras têm efeitos fungicidas.

“Trabalhamos com extratos de plantas das quais já conseguimos obter alguns resultados muito promissores. Vamos combinar esses extratos e, juntos com a Universidade de Genebra, tentaremos encontrar a identificação química das moléculas responsáveis ​​por esses efeitos”, explica a pesquisadora.

Na verdade, apesar de terem otimizado seu método de extração, os pesquisadores ainda não conseguiram determinar os princípios ativos e como eles agem. O próximo passo, então, será identificar as plantas mais ricas em moléculas para selecionar as mais fáceis de serem cultivadas. Em seguida, serão preparados extratos padronizados a partir dessas plantas para a realização de testes de eficácia em campo.

Progredir passo a passo

“Esperamos resolver a questão daqui a dois anos com a obtenção de moléculas que nos permitirão continuar a pesquisa para o desenvolvimento de um extrato padronizado que poderá ser usado no tratamento fitossanitário ou como produto para uma empresa especializada francesa integrada ao projeto”, prevê Katia Gindro.

“Nossa expectativa é de poder seguir em frente, o ideal seria conseguir um produto que seja eficaz nos vinhedos. Mas não dá para garantir nada, estamos bem conscientes. O que importa é progredir passo a passo”, confirma Marie Descotis da Chateau Margaux.

Com o INRA para a pesquisa agrícola fundamental, institutos técnicos para a experimentação e câmaras de agricultura em contato com os agricultores, a pesquisa vinícola é bastante compartimentada na França, constata Marie Descotis.

“Em Changins, todas essas competências estão reunidas e a relação é muito mais importante entre a pesquisa fundamental, as aplicações práticas e um retorno imediato ao produtor. É o que faz também a força deste instituto, as trocas são feitas de forma simples.”

Château Ausone

Château Cheval Blanc

Château Haut-Brion

Château Lafite Rothschild

Château Latour

Château Margaux

Château Mouton Rothschild

Château Petrus

Château d’Yquem

Changins-Wädenswil (ACW) é um dos três centros públicos de pesquisa agrícola da Suíça. Com Liebefeld-Posieux e Reckenholz-Tänikon ele forma o Agroscope, ligado à Secretaria Federal de Agricultura.

O Agroscope, que emprega mil funcionários, visa tornar o setor agrícola suíço competitivo, consciente de suas responsabilidades ambientais e atento ao desenvolvimento sustentável a nivel social.

Changins-Wädenswil realiza pesquisas aplicadas em matéria de produção vegetal. Particularmente na área de grandes culturas, viticultura, arboricultura, horticultura ou plantas medicinais.

No campo da viticultura e da enologia, a pesquisa é organizada em torno de três áreas: a racionalização e a adaptação da produção ao mercado, a originalidade e a qualidade dos produtos e a produção sustentável.

A Suíça é também uma terra de vinhas e do vinho, que remonta pelo menos à época dos romanos. Os vinhedos suíços cobrem uma área de 15 mil hectares, dos quais 8600 para as variedades de uvas tintas.

A uva mais plantada é a Pinot Noir (4400 hectares), logo após as Chasselas (4000 hectares) e a Gamay.

O maior cantão suíço produtor de vinhos é o Valais (5000 hectares), seguido de Vaud (3800) e Genebra (1400).

A parte italiana do país possui mil hectares de vinhedos. Na parte germânica, Zurique (600 hectares), Schaffhausen (480) e Grisões (422).

Adaptação: Fernando Hirschy

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