Perspectivas suíças em 10 idiomas

Voo 447 coloca peritos diante de um enigma

Causas do acidente com o avião da Air France continuam um mistério. Keystone

Raio, turbulências extremas ou outra causa? Só a "caixa preta", que deverá ser difícil de encontrar, poderá explicar o que aconteceu com o avião da Air France no voo Rio-Paris.

Os possíveis destroços localizados pela Força Aérea Brasileira não dissipam as especulações sobre as causas da tragédia, mas há consenso entre os especialistas de que não pode ter sido apenas um raio.

“Ventos podem ter estraçalhado o avião. Caso tenha ocorrido um turbilhão de ventos oriundos de diferentes direções na zona da trovoada, isso teoricamente pode ter causado uma pane estrutural da aeronave”, explica Max Ungricht, perito em aviática e redator-chefe da revista suíça Cockpit, ao jornal Tagesanzeiger.ch.

Seis suíços estavam no vôo AF 477, que transportava 228 pessoas do Rio a Paris, quando sumiu sobre o Atlântico, entre o Brasil e o Senegal, na noite de domingo para segunda-feira. Estão no ar pelo menos uma meia dúzia de teorias sobre o desaparecimento do Airbus A330-200. O segredo está guardado na caixa preta, provavelmente no fundo do mar.

O capitão e especialista em acidentes aéreos Francois Grangier disse à emissora francesa BFM-TV que “o desaparecimento sem chamada SOS mostra que a tripulação foi confrontada com algo rápido e brutal. Há três hipóteses. Uma bomba. Uma turbulência muito forte que danificou tanto o avião que ele entrou em dramática queda livre. Uma trovoada com queda de raio. Se um raio bate no tanque de combustível, pode ocorrer uma explosão”.

A chave está na caixa preta

“Naturalmente há muita especulação no momento. Mas pode ser que a aeronave entrou numa violenta trovoada tropical e possivelmente foi atingida pro vários raios, o que pode danificar maciçamente a eletrônica”, diz Axel Raab, da segurança aérea alemã, à agência AP.

Alem disso, acrescenta Raab, nesses casos, turbulências extremas não são raras, o que poderia ter causado uma reação em cadeia. “Somente amplas investigações poderão dar a certeza final”, ressalta.

Essa opinião é partilhada pelo especialista em aviação Stefan Levedag. “Sem a black box ou destroços uma reconstrução é impossível.” O diretor do Instituto de Sistemas de Aviação do Centro Aeroespacial Alemão considera muito improvável que um raio ou turbulências extremas tenham sido as causas do acidente.

“Algo deve ter acontecido de repente. Porque aparentemente os pilotos sequer puderam fazer um pedido de socorro”, explica. Levedag não considera realista que isso tenha sido provocado por um ou mais raios. “As aeronaves estão equipadas e testadas para tais eventos”. Ele não tem explicação alternativa. “Estou perplexo”, admite.

A associação de pilotos alemães Cockpit também considera pouco provável que um raio tenha derrubado o Airbus. Dependendo do avião, há vários sistemas elétricos funcionando independentemente. Além disso, há sistemas de emergência. Alguns aviões têm um dispositivo sobre a asa, na região da turbina, que pode produzir eletricidade a partir do vento, explica porta-voz da entidade, Jörg Handwerg.

Falhas humanas são freqüentes

Segundo a rede Aviation Safety Network, a Air France teve desde 1953 cerca de cem incidentes. Nos últimos 20 anos, incluindo o caso atual, houve três quedas de aviões da companhia com mortes de passageiros. Nos anos de 1960, morreram 686 pessoas em catástrofes da Air France, segundo informa o site alemão Spiegel Online.

O banco de dados Planecrashinfo.com lista 83 acidentes aéreos mortais atribuídos a más condições do tempo desde 1950 – 14 teriam sido causados por raios. Para comparar: defeitos técnicos causaram 156 quedas; falhas de pilotos foram responsáveis por mais de 200 acidentes.

Nos últimos meses, acidentes aéreos parecem se multiplicar (Madri, Amsterdã). “Mas estatisticamente a cada ano há menos acidentes. Em 90% dos casos, a causa do acidente é falha humana”, diz Max Ungricht.

Segundo Georg Fongern, membro da diretoria da Federação Internacional das Associações de Pilotos de Linhas Aéreas (Ifalpa), “os mecanismos de modernos aviões são tão complexos que especulações sobre a causa do acidente no caso atual não fazem sentido”.

Ele explicou ao jornal alemão Welt Online que frequentemente uma combinação de vários fatores ou falhas banais causam catástrofes, “como no caso do acidente de um avião da Swissair em 1998 no Canadá”. Após o incêndio de um cabo houve uma queda total de energia. Nenhuma das 229 pessoas a bordo sobreviveu. “Na época, ninguém pensou inicialmente causa pudesse ter sido o incêndio de um cabo”, diz o piloto.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (com agências)

Telefones da Air France à disposição das famílias:</strong


0800 800 812 para chamadas da França
0800 881 20 20 para chamadas do Brasil
33 1 57 02 10 55 para chamadas de outros países

Número à disposição no Ministério suíço das Relações Exteriores:

031/323 30 99.

swissinfo.ch

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR