Os suíços que lutam pela adesão à UE
A adesão da Suíça à União Européia já não faz parte da agenda política do país. Apesar disso, o Novo Movimento Europeu (Nebs) luta pela integração rápida à comunidade dos 27 países.
A organização suprapartidária atua num momento pouco propício para a sua plataforma: não só o governo federal continua apostando nos tratados bilaterais, mas as exportações prosperam apesar da não-participação na UE.
Nos anos noventa o grupo denominado “Euroturbos” ainda tinha impulso: personalidades do mundo político e econômico da Suíça como o deputado Marc Suter, o ex-presidente do Partido Social-Democrata, Peter Bodenmann ou o conhecido jornalista Roger de Weck. Todos eles defendiam a adesão imediata da Suíça à União Européia (UE).
A ponta-de-lança do movimento europeu era o grupo Novo Movimento Europeu (“Nebs”, na sigla em alemão), criado em 1998 a partir da fusão de quatro diferentes grupos pró-EU. Ao mesmo tempo, mais da metade da população helvética apoiava a proposta.
Suíça vs. EU
Agora os tempos são outros. De acordo com as pesquisas de opinião mais recentes, o apoio à adesão caiu para 40% dos eleitores. A situação não impede, porém, que a deputada Christa Markwalder, há um ano presidente da “Nebs”, desista do seu ideal.
“Nosso objetivo é fazer com que a Suíça se torne um membro da União Européia. Isso, pois nós dividimos os mesmos valores com os outros países da EU”, declara a parlamentar de 31 anos à swissinfo.
“Ao mesmo tempo a Suíça tem muito a ganhar com a integração total ao mercado comum europeu”. Ela acredita que a Suíça, como um país europeus com diferentes culturas e idiomas, não poderia estar fora do “clube”.
Markwalder acredita que a organização que lidera, com seus 4.500 membros, está bem posicionada e conectada com as diferentes forças políticas. Isso inclui também representantes da economia e outras organizações pró-européias.
Corte na própria carne
Christa Markwalder concorda com a crítica geral de que a euforia pela adesão está enfraquecida. “Os tempos mudaram e o sentimento de otimismo surgido após a queda do Muro de Berlim já não existe mais”.
Ela também se mostra autocrítica: o voto negativo dado pelos eleitores suíços em 2001 à iniciativa popular da Nebs intitulada “Sim para a Europa” foi um revés considerável para o movimento. O principal objetivo da proposta era criar uma base legal que obrigasse o governo federal iniciar as negociações de adesão à UE.
Aproximação e afastamento
Para Markwalder, a Nebs vive atualmente um grande dilema. Ao invés da adesão, como ela havia sido formulada em 1992, o objetivo atual do governo federal é apostar nos tratados bilaterais firmados com a União Européia em diferentes pastas.
A deputada fala de uma história de sucesso, possibilitada através do acesso livre ao mercado em alguns setores.
“De fato, os tratados bilaterais não aproximam a Suíça da adesão. Se cada um deles encurta o caminho à UE, eles também são simbolicamente um passo de distância da adesão”, explica.
Daniel Schwarz, cientista político da Universidade de Berna, concorda com o pensamento da deputada. “Se a Nebs quer verdadeiramente lutar por seus objetivos, ela está condenada a apoiar a aproximação gradual feita pelo governo federal através dos acordos bilaterais. Isso dificulta para eles ter uma estratégia independente”.
Déficit de democracia
Para Markwalder, a maior preocupação é a atual disputa entre a Suíça e a UE por questões fiscais. Isso, pois se o nível elevado das críticas entre Berna e Bruxelas corroer aceitação da população para o processo de integração, tanto a adesão assim como a manutenção da política dos acordos bilaterais estão em risco.
Nessa discussão, a presidente da Nebs não acredita que os acordos bilaterais possam tornar supérflua uma adesão à UE. Seu principal argumento é o déficit democrático causado a longo prazo pela exclusão do direito de voto em Bruxelas.
“Nós adotamos continuamente regulamentos, diretivas e recomendações decididas pelo Parlamento Europeu, Conselho Europeu ou a Comissão Européia sem estarmos representados. Isso é uma falta grave para a nossa democracia e soberania”, condena Markwalder.
Esperança de resultados
O cientista político Schwarz não vê momentaneamente mais possibilidades para a Nebs do que continuar a trabalhar a opinião pública e fazer lobby. A única ajuda seriam acontecimentos externos, já que a organização depende em primeira linha do desenvolvimento da política.
“Os ecologistas eram um grupo marginalizado nos anos 90. Hoje em dia, o meio-ambiente é o tema principal. A Nebs poderia viver algo semelhante em relação à política européia”, analisa Schwarz.
swissinfo, Renat Künzi
1975: nasceu em Burgdorf e se formou em direito.
1991 und 1997: a participação em um acampamento europeu para jovens marca sua vida.
1998: eleição para a câmara municipal de Burgdorf.
2002: ela torna-se membro do Parlamento cantonal de Berna.
2003: eleita deputado federal no Conselho Nacional (Câmara dos Deputados).
Desde dezembro de 2006 Christa Markwalder preside a Nebs, movimento pró-europeu da Suíça.
Em 1992 a Suíça faz o pedido oficial em Bruxelas de adesão à União Européia.
No final de 1992, os eleitores suíços refutam nas urnas a adesão do país ao Espaço Econômico Europeu com 50,3% dos votos. O resultado do plebiscito é avaliado como veredicto contrário a uma possível adesão da Suíça à União Européia.
Desde então o processo de adesão está “congelado” em Bruxelas.
Ao invés da adesão, o governo helvético trabalha agora através de tratados bilaterais com a UE: em 1999 (Bilaterais I) e em 2004 (Bilaterais II).
Em 2001, a iniciativa popular lançada pela Nebs foi recusada pela maioria (77%) dos eleitores.
Em 2005 e 2006 membros do governo federal reafirmam que a Suíça continuará no caminho das negociações bilaterais com a UE.
Os déficits que, na sua opinião, decorrem da não participação da Suíça na União Européia, são ilustrados pela Nebs na sua mais recente campanha pró-UE.
Nela dezoito verdadeiros deputados e senadores suíços participam de debates em um Parlamento Europeu “virtual” sobre questões concretas.
O objetivo da Nebs é demonstrar que a Suíça tem opinião própria em nível europeu, como afirma Christa Markwalder.
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