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O lutador suíço que se tornou uma estrela em Taiwan

Emmanuel Mbondo an einem Fluss in den Hsinchu
Um dia após o Taifun: frente ao risco de inundações, até mesmo Emmanuel Mbondo teve de capitular e desistiu de banhar-se na fonte. swissinfo.ch

Emmanuel Mbondo Binyet é o primeiro suíço a se tornar estrela de televisão em Taiwan. Sua aparência, vista ali como exótica, seu perfeito conhecimento de chinês, o equilíbrio e a alegria vêm a calhar. Mas seu carisma também vem do fato de ser um lutador de artes marciais mistas (MMA). Na paisagem natural das montanhas de Hsinchu, ele compartilhou conosco suas impressões sobre a vida no exterior.

Em uma lambreta, pegamos uma via expressa e saímos da cidade de Hsinchu, em Taiwan. Emmanuel Mbondo BinyetLink externo conduzia e eu fiquei na garupa. Nosso destino eram as montanhas.

Perfil

34 anos de idade, nascido em Genebra, pai vindo dos Camarões, mãe suíça.

Interesse precoce pelo esporte (atletismo, futebol, MMA) com foco no judô.

Após a vestibular, três anos de estudos em Wuhan/China, dos quais um ano foi dedicado ao estudo de línguas. Casamento com uma mulher chinesa, pai de um filho de dez anos. Há seis anos estuda mecânica dos fluidos em Hsinchu/Taiwan. Formou-se em 2020 com o título de doutor.

Lutador e treinador de MMA de sucesso. Carreira de lutas: 3 vitórias, 1 derrota.

Estrela da televisão suíça de Taiwan. Em suas apresentações, ele também aborda questões sociais como o racismo.

Binyet é um verdadeiro amante da natureza, seja nas montanhas de Hsinchu ou na Suíça.

Passamos a longa reta ao longo de uma fábrica de cimento sombria, à esquerda, a mais de 100 quilômetros por hora. Esse seria um cenário perfeito para um filme de horror. Ele delimita onde termina a cidade. Depois entramos em um vale cujas encostas arborizadas sobem íngremes em ambos os lados de um rio. Nesse lugar natureza é selvagem e o caminho é estreito. Cada vez mais íngreme, a estrada cortava a floresta. Uma parede na beira da estrada, decorada com padrões de cores, seguida de uma casa solitária. “As pessoas que vivem aqui são nativas”, grita o motorista por cima de seu ombro.

A estrada agora se tornou um caminho pavimentado com pequenas correntes de água a cada poucos metros. O solo estava coberto de pedras, que o condutor evitava cuidadosamente. Eram os vestígios do tufão que varreu Taiwan há pouco tempo. A tempestade teve força letal. No leste da ilha, uma ponte desmoronou e caiu sobre um navio matando quatro pessoas.

Força das águas

Finalmente o caminho ficou tão íngreme que a moto perdeu literalmente o fôlego. Eu desembarquei e continuei a subida a pé. Depois de uma curta tentativa, Binyet desligou a lambreta. 

À nossa volta, uma selva. Pássaros e seus cantos estridentes permaneciam invisíveis em meio ao verde. Lá embaixo, o riacho da montanha ressoa com suas águas castanhas e espumas brancas dançando pelo vale estreito. De uma árvore ouvia-se um zumbido alto e cintilante como aparelhos eletrônicos fora de sintonia. São “cicadófitas”, diz Emmanuel Binyet. Ele vem às montanhas Hsinchu quase todos os fins-de-semana. “Posso relaxar maravilhosamente aqui”, diz ele.

Mas naquele dia não era possível tomar um banho na nascente quente do rio lá embaixo. As margens cortadas na rocha que demarcam o local de banho estavam apenas alguns centímetros acima do nível da água.

Há seis anos, o genebrino de 34 anos vive em Hsinchu com seu filho de dez anos. A cidade na costa noroeste de Taiwan tem uma população de cerca de 450 mil habitantes. Binyet escolheu Hsinchu por causa de sua universidade, uma instituição líder em mecânica de fluidos que é sua área de especialização. Este ano ele completa os seus estudos com um título de doutor.

“Machucar o adversário pra valer”

Relaxado e em paz consigo mesmo e com o cosmos: é assim que Emmanuel Binyet vivencia o canyon da montanha Hsinchu. Em movimentos profundos e calmos, ele inspira o ar, purificado pela tempestade, para dentro dos seus pulmões. Aqui está a sua ilha de calma e atenção introspectiva plena.

No outro extremo do seu mundo está a terra da dureza e da implacabilidade. Binyet é um lutador de artes marciais mistas, mais conhecida pela sigla “MMA”. Trancado numa jaula de lutas, ele pode usar todo o arsenal de socos, pontapés e pegadas que artes marciais como o boxe tailandês, a luta livre e o judô lhe oferecem. Juntas essas técnicas lhe permitem lutar pela vitória.

Emmanuel Mbondo in einem MMA-Kampf im Käfig
Emmanuel Mbondo lutando contra um adversário. ZVG

“Tentamos machucar o adversário para valer”, explica Emmanuel Binyet. Isto durante três rounds de cinco minutos cada. Para ele, o MMA é a “verdadeira” arte marcial. “É realmente feroz porque é a arte marcial que tem o menor número de regras. Todos os tipos de socos e pontapés, enforcamento e torção de membros são permitidos”.

No boxe ou kickboxing, se um lutador for derrubado, o árbitro imediatamente interrompe a luta até que a pessoa que está na lona se levante. Em contraste, no MMA, as lutas são travadas em todas as posições, inclusive no chão.

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Como um gladiador numa jaula

Ele ganhou três de quatro lutas. Uma vez Binyet experimentou em primeira mão o que significa “machucar para valer” o seu oponente. Ele perdeu uma luta porque a redução de peso para atingir o limite de 77 quilos da sua categoria lhe custou demasiada massa muscular. Binyet foi nocauteado e até perdeu a consciência brevemente. Mas a derrota o fortaleceu, diz ele.

Emmanuel Binyet me levou ao local onde ocorrem as lutas. “No vestiário e no caminho até a arena, fico muito nervoso. Alguns milhares de espectadores já estão lá à minha espera. Uma vez na gaiola, toda a tensão desaparece e eu aprecio a paisagem. Para este momento treinei muito e os espectadores vieram ver minha técnica e minhas habilidades. É como quando um ator entra no palco.”

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Binyet é uma das pessoas mais pacíficas, prestativas e empáticas que já conheci. Mas dentro da jaula, ele se transforma em um guerreiro. “Quando o árbitro me pergunta se estou pronto, mudo completamente para o modo de luta e digo a mim mesmo que vou vencer o adversário. Então o gongo soa e eu estou completamente livre na minha mente. Só o instinto e os reflexos permanecem”.

Em frações de segundo, Binyet tenta encontrar os pontos fortes e fracos do adversário. “Uma vez senti que não teria chance usando o boxe. Por isso tentei trazer o adversário para a lona, onde tenho vantagens como ex-judoca. …e, na verdade, consegui derrotá-lo numa luta no solo”.

Celebridade

As poucas lutas foram suficientes para fazer do suíço uma estrela. Quase meio milhão de pessoas seguem uma luta na televisão, que transmite o espetáculo para muito além da ilha. Mas apesar de toda a fama, sua remuneração por luta é de apenas US$ 1.500. O estudante de doutorado é, afinal, apenas um semiprofissional.

Uma compilação das aparições do Binyet na TV pode ser visto aqui.

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Sua presença em programas de televisão de Taiwan é quase tão importante quanto as lutas para sua fama. Chinês perfeito, carisma e humor caloroso ajudaram a transformar o exótico suíço em uma estrela de TV. Além disso, Binyet sabe como usar as redes sociais como um especialista.

Na mercearia, no posto de gasolina, mais tarde no restaurante e no banco: Binyet é reconhecido por muitos e abordado sem hesitação. Amigável e paciente, ele troca algumas palavras com os fãs e posa com eles para uma selfie. “O contato com eles me dá energia e motivação”, diz Emmanuel Binyet.

Graças ao MMA ele também conhece pessoas que não apenas lhe combatem, mas que querem também aprender com ele. Cinco ou seis vezes por semana, ele apresenta as complexidades daquela arte marcial a jovens em diversos pontos da ilha. 

Até a mãe é uma fã

Ele tem medo de uma luta? “Não, porque é o meu sonho lutar e vencer. Mas fico nervoso porque não quero me machucar e me envergonhar diante do público”. Ele disse que tem tido muita sorte até agora, e que nunca se machucou seriamente. “Mas no nosso esporte, uma lesão pode sempre significar o fim da sua carreira.”

Em Genebra, dez mil quilômetros distante de casa, Sylvia Mohr não aguenta mais o frio. A mãe ficava ansiosa quando Emmanuel entra na jaula de lutas. Mas depois de presenciar ao vivo um torneio, tudo mudou. “Fiquei emocionada”, diz a psicóloga. Ela também revela como a luta começou com o Emmanuel. “Quando criança, ele adorava lutar com os outros. Por isso inscrevi-o num curso de MMA para que ele o pudesse lutar dentro das regras.”

Mohr também se emociona quando o filho de Emmanuel e seu neto vêm visitar a Suíça. Como pai, Emmanuel Binyet dá um valor especial à visita. “É importante para mim que o meu filho conheça a Suíça e saiba que ela é também a sua casa.

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Emmanuel Binyet é um dos poucos suíços residentes no país. 

Adaptação: DvSperling

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