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O disputado mercado de doações

"Um milhão de estrelas" na praça do Palácio Federal, em Berna: parte da campanha de Natal da Caritas. Christof Wider

Durante as festas de fim de ano, muitas organizações filantrópicas suíças realizam campanhas de doações. Com o dinheiro, elas apóiam projetos sociais no país e no exterior, também no Brasil.

A Caritas Suíça, ligada à Igreja Católica, por exemplo, vendeu velas em forma de estrela no Natal para ajudar a Casa do Menor, no Rio de Janeiro, que realiza um trabalho com crianças de rua. A Heks, ONG da Igreja Protestante, apóia projetos na Bahia e em Pernambuco.

Essas são apenas duas das aproximadamente 3 mil organizações não governamentais autorizadas as receber doações na Suíça. Cerca de 500 delas possuem um selo de confiabilidade. Para 2009, 44 dessas ONGs já planejaram pelo menos 83 grandes campanhas, entre elas, 30 para projetos de cooperação internacional.

De acordo com dados do instituto de pesquisas de mercado GFS, de Zurique, em média, os suíços doam cerca de 800 a 900 milhões de francos por ano para projetos sociais, ajuda humanitário ou atividades sem fins lucrativos.

“Guerra publicitária”



A disputa por uma fatia desse bolo é cada vez mais acirrada e eleva os custos para arrecadar recursos. Também ONGs internacionais e organizações da ONU entram cada vez mais no lucrativo mercado da solidariedade suíça.

“Em parte, essas organizações investem pesado em publicidade, o que obriga as ONGs nacionais a fazer o mesmo. Isso é ruim. Os doadores até estão dispostos a contribuir com a cobertura do custos de administração, não a financiar guerras publicitárias destinadas a garantir a sobrevivência das próprias organizações finantrópicas”, disse à swissinfo Roland Jeanneret, da Cadeia da Bondade, ligada à Sociedade de Radiodifusão Suíça (SRG).

A World Vision, originária dos EUA, por exemplo, é uma das ONGs que investe pesado em publicidade, inclusive com spots de tv. Dessa forma, a seção suíça da entidade conseguiu aumentar em 15% sua arrecadação em 2007, atingindo a marca de 43 milhões de francos. Deste total, 80% destinaram-se a 90 projetos em 30 paíes, 15% foram gastos com fundraising e “trabalho informativo”.

Grandes ONGs, pequenos gastos



Segundo a Zewo, fundação suíça de certificação das ONGs que recolhem doações, esse percentual é relativamente alto – 8% para arrecadação e publicidade seriam razoáveis. Grandes organizações, como a Caritas, a Cruz Vermelha ou a Rega (salvamento aéreo), gastam apenas 3% para fazer a arrecadação.

Em 2007, a Caritas Suíça, por exemplo, reuniu recursos da ordem de 120 milhões de dólares para projetos, entre doações, contribuições de empresas e entidades e dos cofres públicos. Segundo o coordenador de comunicação da entidade, Odilo Noti, deste total 93,2% foram gastos diretamente com a atividade fim, 3,1% em publicidade e fundraising e 3,7% na administração.

Noti diz que, em regra, grandes organizações gastam relativamente menos com administração. “Segundo um estudo da Zewo, há ONGs que gastam até 20% das doações com a burocracia”, afirma.

300 mil para arrecadar 800 mil



Um exemplo de ONG que gasta muito com a coleta é a Associação de Proteção aos Animais de Basiléia (TbB). “Há dez anos, as doações eram quase automáticas, hoje precisamos investir mais de 300 mil francos para gerar 800 mil francos”, revelou Beatrice Kirn, diretora de finanças da TbB, ao jornal local Basler Zeitung.

A luta por uma fatia do bolo das doações também tem ganhadores. São empresas que fazem o fundraising para organizações filantrópicas, como a Corris AG, de Zurique, que tem entre seus clientes o Greenpeace, a Caritas e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Ela admite que seu faturamento cresce em torno de 10% ao ano, embora não revele detalhes de sua receita.

A tendência no mercado da caridade é profissionalizar a arrecadação. Algumas entidades pagam até comissões para estudantes que batem de porta em porta para pedir doações. ONGs que apostam exclusivamente em meios desgastados, como mailings em massa, perdem a corrida, afirmam especialistas do setor. Outra tendência é que as grandes organizações crescem, as pequenas se fundem ou desaparecem.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

Segundo a Zewo, em 2007, as 421 ONGs certificadas tiveram uma receita de 2,5 bilhões de francos, dos quais 908 milhões foram doações – 11% a mais do que no ano anterior e 75% do mercado de doações. Um terço da receita (853 milhões) veio dos cofres públicos. As doações individuais somaram 293 milhões de francos.

No ano passado, 50 mil pessoas realizaram 3,34 milhões de horas de trabalho voluntário para organizações finlantrópicas com o selo ZEWO.

As cinco maiores ONGs da Suíça arrecadaram 317 milhões em doações em 2007 – um aumento de 39% em relação a 2003.

Em novembro, quando ocorre o pagamento do 13° salário, é registrado o maior volume de doações.

A Caritas Suíça, que atua no Brasil há mais de 30 anos, pretende vender 160 mil velas em forma de estrela a 7 francos cada nas festas de fim de ano (Natal e Ano Novo).

Metade dos recursos arrecados destinam-se à Casa do Menor, no Rio de Janeiro, metade para as 17 lojas do Mercado da Caritas, que vendem mantimentos a custos baixos para os pobres na Suíça.

A Heks atualmente apóia com a ajuda de doações suíças dois projetos no Brasil. Em Recife (PE), presta ajuda de 70 mil francos (US$ 57,5 mil) ao Centro de Trabalho e Cultura (CTC), que oferece cursos profissionalizantes a 250 jovens por ano.

Em Salvador, apóia um projeto do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), que oferece workshops de capoeira, futebol, teatro, música e dança a 270 jovens da periferia da capital e de acampamentos de sem-terra do sudeste da Bahia.

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SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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