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Os cuidados com o meio ambiente na Suíça e no Brasil

Riqueza natural do Brasil: Safira Ammann nos Lençóis Maranhenses. Paul Ammann

Num país de modestas dimensões territoriais, os cidadãos enxergam facilmente as mudanças do meio ambiente, sobretudo a sua deterioração. Em geral, eles percebem rapidamente as conseqüências das mutações e tomam medidas de proteção.

Por Paul Ammann, Natal, Brasil

Num país de dimensões continentais é possível que cada dois anos uma área florestal do tamanho da Suíça seja destruída sem que a maior parte da população tome conhecimento.

A percepção do meio ambiente na Suíça…

A partir de várias montanhas que escalei entre o Piz Bernina (4000 m) a leste e o Grand Combin (4300 m) a sudoeste da Suíça é possível enxergar grande parte do território nacional. Dá para identificar a fumaça, procedente, por exemplo, da queima de folhas secas no quintal de uma casa. A fumaça perdura por pouco tempo, porque os vizinhos ou a polícia, ou ambos, avisam logo o responsável pela fumaça lembrando que é proibido poluir o meio ambiente. Em caso de reincidência, a polícia aplica multas.

Observa-se uma sensibilidade aguçada em relação à ecologia. Pesquisas mostram que a principal preocupação do cidadão não é emprego e renda ou o terrorismo, mas o meio ambiente. Especialmente preocupante é o aquecimento global do clima. Os cientistas do Instituto de Pesquisa das Neves e Avalanchas de Davos constataram que o aumento da temperatura média na Suíça é duas vezes maior do que nos demais países do hemisfério norte, causando o derretimento acelerado das geleiras e a diminuição das precipitações em forma de neve.
A população sabe que qualquer deterioração do sistema ambiental significa uma barreira ao desenvolvimento sustentável e uma degradação da qualidade de vida e mesmo – no longo prazo – uma ameaça à sobrevivência do país.

… e no Brasil

Em países de dimensões continentais como o Brasil, a Rússia ou a China, o cidadão não tem tanta facilidade de perceber a degradação do meio ambiente e tomar medidas corretivas. A superfície do Brasil é de 8,5 milhões de km-2 dos quais a Amazônia legal ocupa 5 milhões, aproximadamente o tamanho da Europa ocidental. Em outras palavras e a título de comparação: se fosse queimada uma floresta na Escócia, a população da Sicília não se inquietaria; se no Algarve um incêndio destruísse um bosque, os poloneses não tomariam conhecimento.

Similarmente a maioria dos habitantes dos estados brasileiros do sul e sudeste provavelmente não percebeu que no início deste mês de julho (01 ao 09.07.2007) houve 1.186 focos de queimadas florestais na Região Norte. Somente uma fração ínfima da população percebeu a destruição: os índios que perderam parte de suas terras e os empresários que ganharam terras para plantio. Quanto às medidas cabíveis contra esse desmatamento, os índios não têm condições de tomá-las e os empresários, obviamente, não querem tomá-las. Destarte o desflorestamento na Amazônia legal – sem considerar o da mata atlântica, do cerrado e da caatinga – alcança anualmente uma superfície que corresponde, em média, à metade do território suíço.

O poder público, porém, e grande parte da sociedade, sobretudo a juventude, estão conscientes da importância da conservação do meio ambiente. O governo elaborou políticas e técnicas de conservação do meio ambiente e de educação ambiental.

As políticas ambientais do Brasil…

A institucionalização da Política Nacional de Meio Ambiente inicia-se em 1973, com a criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), fortalecida, em 1989, pela fundação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e do Ministério do Meio Ambiente (1992). As prioridades da política de meio ambiente são a informação, a educação e a cidadania ambiental, a articulação institucional, a conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos e das florestas, bem como o desenvolvimento sustentável do extrativismo.

A informação ambiental conta, entre outros, com o sistema avançado de monitoramento do desflorestamento em geral e das queimadas em particular, construído pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. Vários satélites monitoram 24 horas por dia as mudanças que ocorrem nas florestas e as catalogam num banco de dados georreferenciados.

Seis vezes ao dia é emitido um Relatório, accessível na internet, sobre focos nas unidades de conservação florestal.

A partir de 1981 a educação ambiental integra os currículos em todos os níveis de ensino, inclusive na educação não formal, com “o objetivo de capacitar a comunidade para a participação ativa na defesa do meio ambiente”.

De fato, conforme minha experiência nas viagens e caminhadas pelo Nordeste, os jovens e adolescentes não somente defendem o meio ambiente, mas manifestam um verdadeiro carinho pela natureza.

… e da Suíça

A conseqüente aplicação da política do meio ambiente nos últimos 50 anos conseguiu recuperar os lagos e os rios que eram considerados mortos (sem peixes), melhorar a qualidade dos recursos hídricos em geral, aumentar a extensão das florestas e diminuir a emissão de elementos nocivos no ar, no solo e nas águas.

Contudo, o crescimento populacional, embora pequeno em termos percentuais, mas significativo em relação à diminuta extensão do espaço habitável, anula as melhorias alcançadas, elevando a densidade demográfica que já é quase 10 vezes superior à densidade brasileira, forçando a construção de mais moradias o que, por sua vez, diminui a área verde.

O crescimento econômico, necessário para manter estável a renda per capita da população em expansão, não deixa de aumentar emissões nocivas ao meio ambiente.

A atual política suíça de meio ambiente concentra-se, portanto, no aumento da inovação em tecnologias da produção mais limpa e mais poupadora de energia, isto é, na produção que seja cada vez mais sustentável.

Conclusões

Em ambos os países há muito o que fazer em termos ecológicos. O mais surpreendente é que as fontes renováveis de energia de baixo custo de manutenção são pouco aproveitadas, como por exemplo a energia eólica e solar.

Na Suíça, a radiação do sol poderia gerar teoricamente 40 trilhões de quilowatt – horas de energia elétrica por ano. As universidades suíças desenvolveram tecnologias de ponta para aproveitar a energia solar nos telhados de prédios públicos e de casas particulares, nos carros e navios. Contudo apenas 0,03% do consumo de energia elétrica é produzido por coletores solares.

No Brasil, especialmente no Nordeste onde o sol aparece 300 dias por ano, o potencial da energia solar é evidentemente muito maior, mas menos aproveitado. Por outro lado, a notícia boa é que o uso das fontes renováveis de energia como o álcool é cada vez mais freqüente e que se investe nas pesquisas de outras fontes renováveis para produzir combustíveis.

Paul Ammann trabalhou como funcionário público nas Secretarias de Saúde Pública dos Estados de Berna e do Rio Grande do Norte, nos Ministérios do Trabalho da Suíça e do Brasil e no Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq).

Como consultor trabalhou nas Secretarias de Planejamento da Presidência da República e de vários Estados.

Na iniciativa privada atuou como assessor técnico do SENAI durante 14 anos e como consultor da Câmara Brasileira da Indústria da Construção e da Confederação Nacional da Indústria (Brasília).

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