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Startups correm atrás de dinheiro público

O franco suíço forte ameaça a tecnologia de ponta do país. Keystone

Empresas embrionárias no ramo da tecnologia correm para se candidatar aos subsídios de um pacote de estímulo do governo suíço destinado a protegê-las dos efeitos do franco forte.

O pote de mais de 100 milhões de dólares não será suficiente para saciar a sede das startups suíças.

Em apenas três meses, o fundo de emergência recebeu mais de 1000 pedidos que totalizam 550 milhões de francos suíços, montante cinco vezes superior aos recursos disponibilizados.

A agência responsável pelas subvenções pediu maior financiamento de longo prazo.

Como o franco ganhou rapidamente em valor face às moedas mais importantes, incluindo o euro e o dólar, muitas empresas pequenas e médias (PME) tiveram que cortar em pesquisa e desenvolvimento que formam a essência de seus negócios.

Elas não têm as mesmas opções das gigantes multinacionais, que absorvem as perdas com corte de empregos, redução nas horas de trabalho, deslocalizações, troca de fornecedores e cobertura de mudanças cambiais através de contratos de longo prazo.

Pacote de estímulo

Sensirion, uma empresa spin-off da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH) especializada em sensores de umidade para obras de arte, é uma das empresas que tiveram que engavetar projetos vitais por causa do impacto negativo do franco forte.

“Se somos obrigados a continuar assim vamos perder a liderança inovadora que temos construído ao longo dos últimos anos”, declarou um dos fundadores da empresa, Moritz Lechner, à revista Beobachter no mês passado.

O problema foi reconhecido pelo ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann, em meados do ano, quando reagiu propondo um pacote de “estímulo” de 2 bilhões de francos suíços, dirigido principalmente para proteger empregos e os setores mais afetados pela alta da moeda suíça, como pesquisa, hotelaria e turismo.

O Parlamento acabou reduzindo o pacote para 870 milhões de francos em setembro, com 100 milhões destinados à Comissão Federal de Tecnologia e Inovação (CTI), duplicando seus recursos para este ano.

O papel da CTI é ajudar a financiar a transição de projetos de pesquisa promissores em realidade comercial, ajudando na decolagem das startups e também fornecendo treinamento para os candidatos a empresários.

Financiamento de longo prazo

Os fundos extras logo atraíram uma enxurrada de interessados e 99 milhões já foram atribuídos aos projetos que passaram nos controles de qualidade necessários.

De acordo com o presidente da CTI, Walter Steinlin, a maioria dos candidatos aprovados são empresas orientadas para a exportação nas áreas de tecnologia médica, nanotecnologia, máquinas e informática.

“O financiamento extra é mais uma dose de vitamina do que um analgésico para a inovação suíça, nestes tempos de pressão financeira”, disse Steinlin à swissinfo.ch.

A popularidade da injeção de capital nessas empresas está pressionando o parlamento a aumentar o financiamento a longo prazo da CTI – uma visão que tem sido apoiada pela federação das indústrias da Suíça, a economiesuisse.

A CTI recebeu 100 milhões de francos por ano, entre 2008 e 2011, e foi premiada com uma quantia semelhante para o próximo ano. Steinlin disse estar negociando um aumento substancial com o parlamento para o financiamento da CTI no período de 2013-2016.

“Antes de sabermos do sucesso do financiamento extra estávamos apenas pedindo um aumento modesto. Mas, como o franco suíço deve permanecer forte por algum tempo, acho que a CTI deve receber uns 50 milhões extras por ano”, disse Steinlin.

Insentivo público

A empresa Flisom, especialista em painéis solares fotovoltaicos, recebeu várias centenas de milhares de francos da CTI desde sua cisão da ETH de Zurique como empresa comercial em 2005.

O presidente-executivo da Flisom, Anil Sethi, disse que o capital foi essencial para ajudar a jovem empresa a sair do chão antes de conseguir atrair o financiamento privado da gigante indiana de tecnologia Tata.

Mas Sethi acrescenta que o financiamento extra da CTI esconde um problema bem maior, ou seja, a falta de apoio do governo às empresas de tecnologia de ponta.

O empresário cita países como China e Estados Unidos, que investem centenas de milhões de dólares em setores em desenvolvimento, como o de tecnologias limpas, na forma de garantias bancárias e empréstimos “suaves” que oferecem condições vantajosas de reembolso.

Tirar uma ideia inovadora do chão e passa-la para o setor comercial é uma coisa, argumentou Sethi, mas um apoio contínuo através de benefícios fiscais é essencial para ajudar as empresas recém-criadas a desenvolver adequadamente seus produtos antes de lançá-los nos mercados.

“O que é necessário é algo que trate da diferença entre as empresas jovens que estão saindo dos laboratórios para o mundo dos negócios e o desenvolvimento em empresas de sucesso mundial”, disse.

Sem esse apoio, as empresas inovadoras da Suíça podem ser obrigadas por seus patrocinadores comerciais a se mudar para países mais favoráveis, alertou Sethi.

“No final, os investidores têm a última palavra sobre como obter retorno sobre o investimento. Eles poderiam facilmente exigir que uma empresa mude para outra geografia, onde o governo seja mais favorável”, disse.

Uma startup é uma empresa nova, até mesmo embrionária ou ainda em fase de constituição, que conta com projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras.

Por ser jovem e estar implantando uma ideia no mercado, outra característica das startups é possuir risco envolvido no negócio. Mas, apesar disso, são empreendimentos com baixos custos iniciais e são altamente escaláveis, ou seja, possuem uma expectativa de crescimento muito grande quando dão certo.

Algumas empresas já solidificadas no mercado e líderes em seus segmentos, como o Google, a Yahoo e o Ebay, já foram consideradas startups.

A Comissão de Tecnologia e Inovação (CTI) é uma agência governamental criada para ajudar a transformar projetos de pesquisa acadêmica em realidade comercial.

A CTI distribui bolsas para pesquisadores associados a um parceiro comercial – o financiamento cobre uma proporção dos custos das equipas de pesquisa.

A CTI também oferece um serviço de aconselhamento para ajudar as startups a decolarem no setor comercial.

No ano passado, 96 startups receberam treinamento e 24 foram agraciados com o selo “startup CTI”, significando que tinham passado elevados padrões de qualidade. Esses selos são destinados a ajudar as empresas novatas a encontrar capital de risco no próximo estágio de seu desenvolvimento.

Adaptação: Fernando Hirschy

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