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“Cristiano Ronaldo nunca brilhou na seleção”

Enzo Trossero foi técnico da seleção suíça de 2000 a 2001. Keystone

O argentino Enzo Trossero foi técnico da seleção suíça por quase dois anos, em 2000 e 2001, e comenta certos aspectos da Eurocopa para swissinfo.

Nesta entrevista, ele falou sobre a seleção espanhola, o técnico Luis Aragonés e, claro, sobre a seleção suíça. Ele gostou de Portugal e diz que Cristiano Ronaldo nunca brilhou na seleção.

swissinfo: Como você analisa a vitória da Espanha?

Enzo Trossero: Creio que ganhou o melhor. Uma equipe que terminou invicta, que tem um jogo bonito, muito “sul-americano”, com um estilo que, a meu ver, deve-se à grande quantidade de brasileiros e argentinos no futebol espanhol. Eles mudaram um pouco esse futebol de força, de correria, pelo futebol muito mais técnico.

Viu-se um time de jogadores tecnicamente muito bons, que sabem tocar, jogar e atacar, com algumas figuras importantes como “el niño” Torres e Xavi, para mim os dois melhores da final.

Por sua vez, a Alemanha não mudou de estilo, um 4-4-2 rústico e rude, perigosa nas bolas paradas, mas que não teve chance.

swissinfo:Quais foram os melhores jogadores da Espanha?

E.T.: Gostei muito de Xavi e de Senna, que tem um futebol muito discreto, que não se vê em campo, porém muito simples e rápido. A Espanha tem uma equipe que parecia não ser forte na defesa, mas que acabou sendo muito boa, ainda mais com a qualidade de Iker Casillas. Penso que ele e Buffon são os dois melhores goleiros atualmente.

swissinfo: Poucos prognosticavam a vitória da Espanha e inclusive criticaram muito o selecionador Luis Aragonés…

E.T.: Não podemos esquecer que Aragonés fez uma campanha espetacular. No princípio era complicado, porém está há 22 partidas invicta e jogando um futebol lindo.

Ele perdeu a credibiliade e a simpatia porque tirou Raúl do time que, do meu modo de ver, não dá velocidade ao jogo. Então, ao optar por Xavi, Iniesta, Senna, Fabregas, Xabi Alonso, todos jovens, rápidos e tecnicamente muito bons, Aragonés se distanciou dos espanhóis mas provou que tinha razão.

Pode-se dizer que foi uma surpresa porque não ganhava a Eurocopa desde 1964. Mas em termos de futebol não foi uma surpresa porque teve a melhor equipe do torneio, como provam as estatísticas.

swissinfo: Que porcentagem de mérito tem o técnico nesses torneios?

E.T.: Dizem que quando o time ganha, uns 20%, mas eu acho que é mais. Se quando perde, a culpa é de 100%, quando ganha deve ser de mais de 20%.

Aragonés, por exemplo, pelo simples fato de ter decidido não convocar Raúl, estrela do futebol espanhol, já teve um mérito espetacular porque confiou em outros jogadores e essa é uma grande virtude.

swissinfo: Você falou dos argentinos e brasileiros. O que eles trazem para o futebol europeu?

E.T.: – Vivacidade, técnica, orgulho e espírito de ganhador. Das 220 seleções que existem no mundo, somente dois países do terceiro mundo estão entre os melhores: Argentina e Brasil.

swissinfo: No sempre os que jogam melhor nos campeonatos são os que vencem o título. Qual foi a melhor equipe nessa Euro?

E.T.: A Espanha, sem dúvida. Mas gostei também do futebol da Holanda e de Portugal. Também notei como a Rússia mudou seu jogo. Não é mais uma equipe rude e sim, com seu técnico Guus Hiddink, gosta de tocar a bola, de triangular…

swissinfo: Quais foram as estrelas da Euro? Havia muita expectativa em relação a Cristiano Ronaldo…

E.T.: É difícil dizer. Cristiano Ronaldo tem sido muito bom, mas nunca foi brilhante na seleção. Gosto de Casilhas, de Xaxi e de Villa e também do francês Ribéry. Porém não houve grandes figuras nesta Eurocopa, sem falar que várias seleções tinham jogadores veteranos, como a Itália e a França…

swissinfo: Como foi sua passagem pela seleção suíça?

E.T.: Dirigi praticamente 80% das eliminatórias para a Copa 2002. Enfrentamos a Eslovênia, a Rússia e a antiga Iugoslávia. Também fiz vários amistosos, por exemplo, contra a Grécia e a Suécia.

A Suíça melhorou e, logicamente, ainda não pode competir com as grandes potências mundiais. Porém, classificou-se para a Eurocopa de 2004 e para o Mundial de 2006, e há jogadores suíços no estrangeiro. É um futebol novo que já ocupa um lugar importante, o que o país demonstrou ao organizar esse campeonato conjuntamente com a Áustria.

swissinfo: Como anfitriã, esperava-se um resultado melhor. O que faltou para a equipe de Kuhn?

E.T.: Várias coisas, como a contusão de Frei – que começou comigo com apenas 19 anos -, e também o fato de que a Suíça caiu num grupo com equipes difíceis na primeira fase.

É o que pode faltar a muitas equipes quando jogam contra potências mundiais. Creio que será necessário tempo e continuar a renovação da equipe. O trabalho será notado porque na minha época só havia um centro de formação profissional e agora já são três.

Entrevista swissinfo: Norma Domínguez, Buenos Aires

Enzo Trossero dirigia até recentemente o Al-Shabab, que foi campeão da Copa do Rei da Arária Saudita.

“Tomei a decisão de voltar para a Argentina e tentar novamente retomar minha carreira em meu país. Tenho ainda as portas abertas em uma parte do Golfo Pérsico”, disse à swissinfo.

“Gostaria de ter uma nova chance na Suíça, onde estive quatro anos e gostei muito. Ganhei campeonatos e tive a sorte de descobrir jogadores …”

“Me parece que futebol suíço está com um estilo mais latino, à maneira da França e da Espanha, sem a força dos alemães.”

O defensor argentino nasceu em 1953 em Esmeralda, província de Santa Fé.

Começou sua carreira no Esportivo de Belgrano (província de Córdoba).

Em 1975 chegou ao Independiente, ao qual regressou em 1981 – depois de ter jogado em Nantes, França (1979) – e deixou o futebol como jogador profissional em 1985.

Foi técnico do FC Sion, na Suíça, com o qual ganhou a Copa da Suíça em 1981, e da seleção suíça de 2000 a 2001.

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