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“Esqueceram-se da Quinta Suíça “

Jean-Paul Aeschlimann, vice-presidente da OSE. OSE

O debate provocado pelo anúncio da UDC de lançar uma iniciativa para proibir a dupla nacionalidade atinge diretamente os suíços do estrangeiro.

A reação é de estufação e indignação segundo Jean-Paul Asschlimann, vice-presidente da Organização dos Suíços do Estrangeiro (OSE). Entrevista:

swissinfo: a ameaça de proibir a dupla nacionalidade é de grande intersse para os suíços do estrangeiro?

Jean-Paul Aeschlimann: Seria um retrocesso muito sério. Para os países que não admitem a dupla nacionalidade, acho que uma tal simplificação é insustentável a longo prazo. Até na Alemanha, isso está mudando.

Acho que a UDC está enganada com o público. O que ela quer, sem dúvida, é suprimir a dupla nacionalidade para os suíços que vivem na Suíça. Dessa maneira, a UDC negligencia a importância dos suíços expatriados.

Do meu ponto de vista, é um julgamento errôneo. Se a UDC entra numa polêmica dessas, vai provocar uma reação muito forte da maioria das pessoas interessadas.

swissinfo: Se não houver efeito retroativo, significa que os suíços do estrangeiro, e mais exatamente os que têm direito de voto, não seriam atingidos.

J.-P. A: Não vejo onde estaria a diferença. É uma questão de princípio fundamental e até de duplo absurdo. Qualquer que seja o país onde residem os duplo nacionais, os que têm a nacionalidade do país de residência são considerados nacionais, inclusive na Suíça. O problema, portanto, já está resolvido nos planos administrativo, fiscal e político.

swissinfo: A UDC, no entanto, parece interessada nos suíços do estrangeiro. Apresentou inclusive uma lista eleitoral só deles em Basiléia, nas legislativas de 2003.

J.-P. A: É por isso que eu acho que eles se enganam de público. A inciativa é mais dirigida aos suíços da Suíça. A UDC aparentemente esqueceu-se que 70% dos suíços do estrangeiro têm dupla nacionalidade.

swissinfo: Se o povo tiver de votar, qual será a estratégia da OSE?

J.-P. A.: O congresso dos suíços do estrangeiro tomaria sem dúvida uma posição clara dizendo aos políticos da UDC que a medida seria inútil e profundamente vexatória para os suíços do estrangeiro.

Se a UDC nos negligencia um pouco atualmente (mesmo se os suíços do estrangeiro são tão numerosos quanto os estrangeiros que vivem na Suíça), é porque ela tem a impressão que os expatriados são nostálgicos que seriam seus eleitores. Aí, o partido vai perceber que atira no próprio pé.

A outra hipótese é que eles analisaram os resultados das outras votações e perceberam que, por exemplo em 26 de setembro, mais de 70% dos expatriados votaram a favor da naturalização facilitada dos estrangeiros, mesmo em cantões conservadores e próximos da UDC como Appenzell ou Lucerna.

A UDC pode constatar, portanto, que os suíços do estrangeiro não votam necessariamente com ela e, talvez, queira “puní-los” privando-os da nacionalidade suíça!

swissinfo: Os suíços do estrangeiro votam majoritariamente em favor da abertura?

J.-P. A.: É claro que sim. Eles sabem o que é isso. Lembro que na votação de março de 2002, a adesão à ONU foi aprovada graças aos votos dos suíços do estrangeiro. Sem eles, Lucerna por exemplo, teria dito “não” quando foi o 13° cantão a votar “sim” e formando, assim, a maioria dos cantões.

swissinfo: Os projetos da UDC causam grande preocupação

J.-P. A.: Sinceramente não, porque sempre haverá um jeito de dar um passaporte suíço aos que devem tê-lo. Não é possível de outra maneira.

O que me preocupa muito mais são os acordos bilaterais II, com a UE, entre eles o acordo de Schengen sobre a criminalidade internacional. Aí os partidos precisam ser mais prudentes e haverá acertos de contas importantes através das campanhas de publicidade.

Por enquanto, a gente pode pensar que o exemplo do 26 de setembro ainda não custa muito caro à Suíça. O duplo não à naturalização não surpreendeu muito no estrangeiro. Se os países vizinhos votassem a mesma questão, o resultado seria provavelmente similar.

Entrevista swissinfo: Isabelle Eichenberger

Expatriado desde 1973, Jean-Paulo Aeschlimann trabalhou para o governo australiano vivem mais de anos em vários paises.
Desde 1990, esse pesquisador suíço vive em Montpellier, França, onde é Cônsul da Suíça.
É também vice-presidente da Organização dos Suíços do Estrangeiro(OSE)

– 70% dos 612 mil suíços do estrangeiro são binacionais.

– 90 mil têm direito de voto.

– 20% da população suíça (7,3 milhões de habitantes) são estrangeiros.

– A Suíça tem quase 9% de duplos nacionais em seu território.

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