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“Os ventos já não estão soprando a nosso favor”

A ministra das Relações Exteriores Micheline Calmy-Rey cumprimenta jovens suíços do estrangeiro em Winterthur. Keystone

No segundo dia do 82º Congresso dos Suíços do Estrangeiro, personalidades como Bertrand Piccard, Micheline Calmy-Rey e empresários discutem sobre a tecnologia e o futuro da Suíça.

O medo do risco e a falta de capital nacional para investimento são os maiores problemas para empreendedores no país dos Alpes.

Bertrand Piccard é um bom orador. Como palestrante mais esperado, ele resume em poucas palavras a crise vivida atualmente na Suíça: – “Os ventos estão soprando em direção contrária para o nosso país”.

Porém o médico e aventureiro suíço, que em 1999 conseguiu dar a primeira volta ao mundo em balão sem escalas, não é mais um dos suíços que vê na desindustrialização, na estagnação do crescimento e desemprego atuais os sinais mais claros da decadência do país. Ao contrário, ele é mais do que otimista.

“Lembro-me sempre da palavra em chinês para o termo crise, que é uma mistura de dois ideogramas: risco e oportunidade”, afirma Piccard.

Ter coragem de arriscar

Nos debates do segundo dia do 82º Congresso dos Suíços do Estrangeiro, o objetivo dos presentes era entender por que o investimento na tecnologia e educação são as únicas chances para o futuro de um país rico como a Suíça, mas desprovido de recursos naturais.

Bertrand Piccard contou como foi difícil realizar sua aventura da travessia em balão e os diversos fracassos vividos por sua equipe. “Erramos várias vezes por ter escolhido o material ou caminho incorreto”, e acrescenta, “e nessas vezes éramos criticados ou ridicularizados por todos, sobretudo pelas equipes maiores que tinham muito mais recursos ou patrocínio”.

Porém o trabalho conjunto com pesquisadores da Escola Politécnica de Lausanne e o apoio financeiro do fabricante de relógios Breitling levou a vitória e entrada nos anais da aviação da pequena equipe suíça de balonistas. “Nós tivemos mais coragem de mudar completamente os planos e tentar caminhos novos”.

Para Piccard, a crise vivida por muitos países ocidentais na reestruturação da economia globalizada, como é o caso da suíça, tem solução: – “Assim como balonistas têm de jogar fora a carga desnecessária para aumentar a altura e encontrar a corrente de ar ideal e continuar a viagem, a Suíça deve ter coragem de abandonar determinados paradigmas e crenças para continuar a crescer no futuro”.

O desafio de ser empresário na Suíça

Porém nem todos os palestrantes no encontro vieram a Winterthur para espalhar otimismo: um dos convidados veio mostrar como é grande o desafio de criar sua própria empresa na Suíça e concorrer no mercado internacional.

O suíço Christof Heidelberger é fundador e atual presidente da BridgeCo, uma pequena empresa especializada na produção de processadores especiais para o mundo multimídia. Essas maravilhas da técnica propõem unir computadores, televisores e sistemas de som num sistema só. A tecnologia é considerada o futuro da indústria eletrônica.

Em 1999, os cinco sócios juntaram um capital inicial de 500 mil francos. Ao mesmo tempo foram convidados doutorandos da Escola Politécnica de Zurique para iniciar as pesquisas. Dois anos mais tarde, a pequena empresa já havia desenvolvido o primeiro chip e softwares de aplicação, ocupava 50 funcionários. Porém o grande desafio era encontrar investidores na Suíça.

“Apesar de todos me elogiarem, nenhum banco suíço tinha coragem de investir no nosso produto. Ao final, foram investidores americanos, ingleses e alemães que nós deram US$ 13 milhões e posteriormente mais US$ 16 milhões para continuar o desenvolvimento”, conta Heidelberger.

Atualmente a BridgeCo é um dos exemplos de tecnologia de ponta suíça, tendo clientes entre os maiores fabricantes de eletrônica no mundo.

Para Heidelberger, o maior desafio na Suíça “é o medo de ser o primeiro”. Apesar de elogiar o alto nível da formação profissional, superior e da pesquisa realizada no país, o empresário lembra um aspecto negativo da cultura suíça: – “Se nos Estados Unidos mais de 80% da população sonha em ser seu próprio chefe, na Suíça são apenas 20%”.

O futuro da Suíça está na educação e pesquisa

Palestrantes dos meios acadêmicos e do governo suíço também explicaram aos suíços do estrangeiros o grande esforço realizado pelo país para recuperar suas posições nas trincheiras da concorrência mundial.

Eric Fumeux, diretor do Departamento Federal de Formação Profissional e Tecnologia (OFFT) foi um deles.

“Apesar de termos um sistema educacional exemplar na Suíça, precisamos incentivar nos jovens a vontade de criar suas próprias empresas e arriscar no futuro”, explica Fumeux. “Por isso criamos diversos programas de formação de empresariado voltado para esse grupo de pessoas”. 500 estudantes recebem anualmente essa formação.

A cooperação entre universidades e empresas também é um dos aspectos fundamentais na política de desenvolvimento. “Atualmente, sete instituições geram um faturamento de mais de 150 milhões de francos apenas com pesquisa aplicada, que é empregada depois na indústria”.

Os presentes no encontro em Winterthur seguramente ficaram impressionados com as opiniões e informações vindas dos palestrantes, incluíndo o discurso de Micheline Calmy-Rey, ministra das Relações Exteriores, que lembrou a importância da integração da Suíça na Europa da ciência, economia e segurança.

“Eu estou também convencida de que a única saída para a Suíça é realmente investir no seu cérebro”, conclui Maya Nerini, uma suíça de estrangeiro que vive em Paris.

swissinfo, Alexander Thoele em Winterthur

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