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A crise fortalece os altermundialistas

Os altermundialistas contam com a mobilização cidadã, como em Berna, para mudar o mundo. Keystone

Na Suíça, dizia-se que o movimento altermundialista estava sem fôlego e até moribundo.

Os meios próximos do movimento constestavam essa análise. Para eles, a crise econômica poderá dar um novo impulso aos que acreditam que “um outro mundo é possível”.

Enquanto os tomadores decisão no planeta estão em Davos, nos Alpes suíços, para o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), é novamente no Brasil, em Belém, que as vozes críticas da globalização instalaram uma tribuna mundial.

É a nova vez que os contestatários organizam esse “contra fórum”, a fim de debater uma maneira mais democrática, mais solidária e mais ecológica de organizar o mundo. Em resumo, para tentar provar que, apesar da mundialização, “um outro mundo é possível”, lema desde o primeiro Fórum Social Mundial (FSM), em 2001, em Porto Alegre.

Dois movimentos pelo mesmo combate

Nos últimos anos, a mídia deu bastante espaço às posições desses oponentes à ordem estabelecida. Há dois anos, no entanto, o interesse parecia diminuir e certos observadores acreditavam que havia um certo “enfraquecimento” dos movimentos sociais.

Entre os principais interessados, essa análise é contestada. “O movimento altermundialista não perdeu fôlego, mas talvez tenha tido uma dimensão menos midiática”, afirma o sociólogo genebrino Jean Rossiaud.

Para esse especialista do altermundialismo, que participou de todos os FSM, esse problema de percepção vem do fato de que os observadores confundem antimundialistas com altermundialistas. Enquanto os primeiros privilegiam a contestação violenta, os outros, mais construtivos, trabalham na busca de soluções. Rossiaud constata que o movimento antimundialista realmente perdeu um pouco de espaço, mas que o movimento altermundialista nunca deixou de agir.

Essa análise é compartilhada por Andreas Missbach, membro da ONG suíça Declaração de Berna. “Antes havia manifestações de rua que podiam inclusive ser violentas. Parece que isso agora desapareceu.”

Vitória ideológica

O que parece certo é que, em 2009, a violência não será necessária para chamar a atenção. De fato, a crise financeira e econômica que atinge o mundo inteiro há alguns meses dá uma nova ressonância às teses dos que sempre denunciaram as derivas da globalização liberal.

“A situação econômica não muda nada em nosso discurso, mas é verdade que, como me dizia um colega, colhemos atualmente os pequenos frutos porque faz muito tempo que denunciamos a desregulamentação dos mercados e a liberalização, lembrando a responsabilidade social das empresas”, afirma Raphael de Riedmatten, responsável pelas publicações da Declaração de Berna.

Para Jean Rossiaud, talvez ainda não seja este ano que as teses do FSM terão maior repercussão. “Vendo da Suíça, constatamos evidentemente que existe uma crise financeira, mas ela ainda não repercute diretamente na carteira. Por isso, a contestação social não é muito mais forte do que no ano passado.”

Este ano, a única diferença, embora importante, é que temos a sensação de que o que muitos previam – ou seja, que o sistema não poderia aguentar – aconteceu. De um ponto de vista ideológico, temos portanto a impressão que ganhamos”, explica o sociólogo.

O sentimento de ter tido razão deixa um gosto amargo entre os altermundialistas. “Sabemos que os que mais sofrerão com a crise são os pobres; não há portanto o que festejar”, declara Andreas Missbach. “Temos a impressão que há tanto a perder em termos sociais que realmente não estamos satisfeitos com nossa vitória”, acrescenta Jean Rossiaud.

Apelo à política

Constatado o fracasso da globalização liberal, resta ainda poder aplicar soluções. Para isso, o movimento altermundialista não acredita na economia.

“Eu acho que em Davos só serão discutidas medidas de urgência para reativar a economia”, afirma Rapahel de Riedmatten. “No fundo, eles continuam acreditando na desregulamentação. Se fazemos uma comparação com o tráfego de automóveis, por exemplo, ninguém sensato diria que os motoristas é que devem criar as leis de trânsito.”

O objetivo não é “obrigatoriamente, ser ouvido por essas pessoas”, confirma Jean Rossiaud. “É preciso que a política retome seu lugar; é nesse plano que devemos convencer o maior número possível de pessoas que é devemos mudar de modelo.”

Para aplicar suas soluções, os movimentos altermundialistas contam com a mobilização da sociedade civil e da política. “É preciso uma convergência de grandes segmentos da população acerca da ideia de um grande ‘New Deal’ baseado em três elementos: justiça social, papel mais importante do Estado na economia, ecologia”, declara Andreas Missbach.

Resta saber se esse apelo será atendido, e isso só o futuro dirá. Para os altermundialistas, já existem alguns sinais encorajadores. “Temos a impressão que aqueles que denunciavam a intervenção do Estado pediram socorro a ele para se salvarem, como o UBS, por exemplo. Assistimos talvez a um retorno do Estado, com maior controle e leis mais severas”, conclui Raphael de Riedmatten.

swissinfo, Olivier Pauchard

O governo estadual de Genebra interditou a manifestação anti-WEF prevista dia 31 de janeiro.

As autoridades querem evitar violências como que as ocorreram nas manifestações contra o G8, em 2003.

O Partido Comunista de Genebra e a seção regional do FSM contestam a decisão. Para os comunistas, ela ocorre em um “contexto de criminalização de toda oposição radical. Ela é indigna de uma República que se pretende um modelo democrático no mundo.”

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