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A Suíça face à grande Europa

Franz Blankart, ex-Secretário de Estado, banqueiro e filósofo. swissinfo.ch

Desde 1° de maio, a União Européia tem 25 membros, 450 milhões de habitantes e 20 línguas oficiais. A Suíça está fora desse espaço e continua a manter um jogo ambíguo, segundo o diplomata aposentado Franz Blankart.

Ele sabe do que fala pois dirigiu durante anos as negociações entre a Suíça e a União Européia.

Face à Europa dos 25, a Suíça mantém-se alheia e privilegia as negociações bilaterais. Em 1998, ela assinou uma série de sete acordos e negocia a fase final dos chamados acordos bilaterais II.

O país é dividido quanto à questão européia. Embora note-se uma certa evolução em direção à Europa, a maioria da população ainda é contra a adesão à UE, segundo as pesquisas de opinião. Existe inclusive a ameaça da direita nacional de submeter as bilaterais II a um referendo popular.

No entanto, oficialmente, a Suíça mantém em Bruxelas, um pedido de pedido “congelado” de adesão, situação que o ex-secretário de Estado Franz Blankart considera ambígua.

Ele foi diplomata durante mais de 35 anos, sempre ligado às relações entre Berna e Bruxelas.

swissinfo: A Suíça sempre esteve no centro da Europa. Agora ela vai tornar-se periférica?

Franz Blankart: É evidente que a Alemanha será doravante o centro geopolítico da Europa comunitária. Mas note que Praga é uma cidade mais à oeste do que Viena e que os países que entraram agora na europa democrática são muitos próximos de nós. Aliás, eu sempre achei artificial quando eles eram incluidos na “Europa do Leste”.

swissinfo: A Suíça tende a ser marginalizada ou, ao contrário, será pressionada a uma maior aproximação com a UE?

F.B.: Para certos países, principalmente a Alemanha, nós não temos mais a importância que tínhamos antes da queda do Muro de Berlin. Temos de conviver com isso. Somos menos importantes para a UE mas, por outro lado, um mercado importante abre-se a nós e isso nos trará vantagens econômicas.

swissinfo: A ampliação causa preocupaçôes da esquerda e da direita quando à livre circulação das pessoas. Isso tem fundamento?

F.B.: Não, não creio nisso. A livre circulação da mão-de-obra não significa livre circulação do desemprego. Ela cria a possibilidade de contratar um especialista que uma empresa precisa. Livre circulação significa ser candidato a um cargo colocado em concurso. Se a pessoa não consegue o cargo, ela deve regressar ao seu pais de origem.

Os economistas são unânimes a dizer que, provavelmente, é apenas 1% da população ativa que deixará seu país para trabalhar num outro país da UE ou na Suíça. É muito pouco.

swissinfo: Existe inclusive a ameaça de referendo contra os acodos bilaterais II?

F.B.: Depois que os eleitores recursaram aderir ao Espaço Econômico Europeu (redação: um acordo de parceria de vários países com a UE), em 1992, a única solução possível eram os acordos bilaterais. É claro que o EEE, teria custado “mais barato” que os acordos bilaterais e teria trazido mais vantagens.
Mas é o preço a pagar quando recusamos uma chance.

Quanto às bilaterias II existe realmente essa ameaça. Eu acho que, de uma maneira ou outra, a Suíça terá de dicidir-se. Ou entra numa dinâmica de adesão ou retira de uma vez o pedido de adesão. Atualmente, temos em Bruxelas um pedido de um país que não quer realmente aderir.

Na diplomacia, a ambigüidade não dá resultados a longo prazo.

swissinfo: O Muro de Berlin caiu há 15 anos e 8 países do antigo bloco do leste aderem à UE. O que o sr. acha disso?

F.B.: É realmente a consagração do fim da Segunda Guerra Mundial. Em seu plano de ajuda econômica é reconstrução dos países europeus, o general Marshall (red.americano) colocava a condição que eles se unissem na OECE, hoje OCDE (organização de cooperação e desenvolvimento econômico), que adotassem o livre comércio e a liberdade dos fluxos financeiros.

Na época, a União Soviética proibiu seus países satélites de se associarem ao plano. Hoje, eles entram na Europa comunitária. É um fato histórico de primeira importância.

swissinfo: A logica histórica é mais importante que a lógica econômica?

F.B.: A Europa comunitária começou com a economia mas sempre com um objetivo político. Foi o contrário da Suíça que, em 1848, começou pela união política dexando a harmonização do Direito para mais tarde … e ela ainda não foi concluida.

swissinfo: O sr. mesmo disse que a Suíça sempre se opôs aos grandes movimentos políticos.

F.B.: Os países que entraram agora na UE, como foi o caso anterior da Áustria, sempre viveram num coletivo de Estados como o império austro-húngaro, por exemplo. A Suíça, ao contrário, se constituiu através da emancipação lenta do Santo Império Romano-Germânico.

Se ela entrasse na UE, seria um marco em sua história, a reintegração da Suíça no Santo Império Romano, não mais germânico, mas europeu.

swissinfo: Mas o sr. diz que o destino da Suíça é a Europa.

F.B.: Sim, mas isso vai levar tempo. Para que nossa adesão seja crível, ela dever surgir do povo, como uma vontade de participar da construção política da Europa.

Nesse caso, o preço vale a pena. Eu digo sempre que cada objetivo econômico tem um preço econômico e que cada objetivo político tem um preço político. O que sempre recusei foi pagar um preço político para atingir um objetivo econômico.

swissinfo: Com as recentes pressões da UE, a adesão começa a voltar às discussões.

F.B.: Se entrarmos na UE por fatalismo ou para evitar duas ou três barreiras na fronteira com a Alemanha ou para contornar discrinações, não acho que sejam razões sufientes.

swissinfo: O sr. disse recentemente que é preciso se concentrar da causa final. O que isso quer dizer?

F.B.: Agora, que não mais na função de servidor do Estado, posso me permitir a impressão – falsa ou correta – de ser um intelectual, e não mais um homem da prática – que se interessa pela Europa.

swissinfo: Depois de aposentado, o sr. foi trabalhar num banco. Não é incompatível com a filosofia?

F.B.: Eu estudei filosofia. Cada estudante de teologia não torna-se necessariamente um santo e cada estudante de filosofia não é, obrigatoriamente, um filósofo.

Interview swissinfo, Bernard Léchot
(Adaptação, Claudinê Gonçalves)

Em 1° de maio, a UE passou de 15 a 25 membros.
Os novos membros são Chipre, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, República Checa, Eslováquia e Eslovênia.

– Nascido em 1936, Franz Blankart passou a infância em Basiléia.

– Estudou filosofia, alemão, história da arte, economia e direito em Basiléia, Paris, Exeter e Berna.

– Entrou na diplomacia em 1965. Primeiro secretário da missão suíça junto à CE, em Bruxelas (1970-1973); retorno a Berna onde foi chefe do serviço de integração Suíça-UEaté 1980.

– De 1980 a 1984, foi embaixador em Genebra junto a várias organizações.

– De 1986 a 1998, foi Secretário de Estado e diretor Secretaria Federal de Comércio Exteerior.

– Foi professor do Instituto Universitário de Estudos Europeus e do Instituto de Altos Estudos Internacionais, em Genebra, até 2002, quando se aposentou.

– Atualmente é sócio do Banco Mirabaud, em Genebra e faz parte do Conselho Universitário da Universidade de Baliléia.

– Apaixonado pela dança, presidente o Prêmio de Lausanne desde 1997.

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