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Binacionais levam Suíça à semifinal da Eurocopa Sub-17

Haris Seferovic (centro) e Nassim Ben Khalifa (10): a dupla de ataque da seleção sub-17 da Suíça. Keystone

Menos de um ano após o fiasco da seleção principal da Suíça na Eurocopa 2008, os juniores disputam a semifinal do Campeonato Europeu de Futebol Sub-17 contra a Holanda.

Graças também à força dos binacionais, nessa categoria a Suíça é uma potência do futebol mundial, um sucesso que não consegue repetir com a seleção A.

Sete anos após a conquista do título europeu, os juniores da Associação Suíça de Futebol (ASF) voltaram a escrever história esta semana em Sandersdorf, na Saxônia (no norte da Alemanha).

A equipe multicultural treinada por Dany Ryser, com nove jogadores binacionais, classificou-se para a semifinal desta sexta-feira contra a Holanda, depois de passar invicta pela França (1 a 1), Itália (3 a1) e Espanha (0 a 0).

A fato de a Suíça figurar entre as quatro melhores equipes na Euro Sub-17 virou destaque na imprensa local, visto que os adversários não eram fáceis. A Espanha, por exemplo, já conquistou oito vezes o título europeu nessa categoria.

O sucesso na Alemanha, fruto de um trabalho de formação desenvolvido pela ASF, evoca também a geração de 2002, de Barneta, Senderos e Ziegler e consortes, que trouxe da Dinamarca o único título internacional conquistado até hoje pelo futebol suíço.

“A equipe teve um desempenho extraordinário. Começamos o torneio como zebras e vencemos o grupo”, disse Ryser após o empate com os espanhóis, atuais campeões europeus.

Expatriados e binacionais



Em comparação com equipes dos anos anteriores, o atual time sub-17 impressiona pela sua presença física. O meio-campista Kofi Nimeley, do Basiléia, e o goleiro Benjamin Siegrist, do Aston Villa, são exemplos disso.

Também o ataque é melhor do que o de seleções juniores do passado. Nassim Ben Khalifa e Haris Seferovic (ambos com contratos no Grasshoppers de Zurique) estão entre os melhores atacantes de sua faixa etária.

Ben Khalifa vem da Tunísia, Seferovic tem raízes na Bósnia-Herzegowina.”Os binacionais são importantes para a equipe”, diz Michel Schafroth, manager da seleção Sub-17, à swissinfo. Até os 21 anos, eles podem defender a camisa da Suíça, sem que isso os impeça de depois defender seu país de origem.

A evolução dos talentos binacionais no time, entre eles o zagueiro português-suíço André Gonçalves (veja lista na coluna à direita), é acompanhada atentamente pela ASF, que já perdeu dois grandes craques nos últimos anos – Zdravko Kuzmanovic (Sérvia) e Ivan Rakitic (Croácia).

O futebol suíço forja talentos, mas tem dificuldade para segurá-los nos clubes nacionais. “É natural que todos sonhem em jogar num grande clube europeu”, diz Schafroth.

Escola x futebol



No sub-17, a seleção suíça não só está entre as melhores da Europa, como também do mundo. Ela será uma das seis representantes europeias na Copa do Mundo no outono deste ano na Nigéria.

Segundo Schafroth, praticamente todos os jogadores da atual seleção principal da Suíça também passaram pelas equipes de base (sub-15 até sub-21). Só o sucesso parece não chegar até a seleção A, cujo desempenho tem sido bem mais modesto. As razões são diversas.

“Na França, Espanha ou na Itália, os melhores se profissionalizam aos 19 anos. Três quartos de minha equipe estão na escola ou na aprendizagem. Entre os cursos e treinos, eles têm semanas incríveis e, além disso, se contundem muito. Esse é o nosso ponto fraco”, constata Claude Ryf, técnico da seleção sub-19, em entrevista ao jornal Le Temps. “Procuramos soluções”, acrescenta.

Hansruedi Hasler, diretor técnico da ASF há 14 anos, dá nota “excelente” para a política de formação da entidade, mas ainda vê pontos que podem ser melhorados. “Em grande parte das escolas suíças ainda há uma postura negativa em relação ao futebol”, disse ao site sportal. Um jogador convocado para a Euro Sub-17 na Alemanha não foi liberado por sua escola.

Cristiano Ronaldo na cabeça



Há ainda outros problemas, como observa Hansruedi Hasler. “A maior parte dos clubes da Super League (primeira divisão) e da Challenge League (segundona) faz um bom trabalho de formação. Mas depois, a passagem para a equipe principal é muito dura. Alguns, como o Sion, preferem estrangeiros de segunda categoria aos jovens da região”, explica.

Resultado: há casos de jovens talentos que deixam o país e acabam no banco de reservas no exterior. Não são raros os que fracassam antes mesmo de começarem bem a carreira. Para evitar isso, a ASF criou em 2005 uma comissão chamada “planejamento de carreira”, inclusive para aconselhar as famílias dos jovens jogadores.

Esther Müller, psicóloga na referida comissão, responsável por acompanhar e aconselhar os melhores juniores, revela ao Le Temps o que pensam esses jovens. “É um mundo incrível: todos eles têm (Cristiano) Ronaldo na cabeça. E quando o dinheiro ganha mais importância do que o prazer, tudo é muito difícil. Às vezes, falta paciência e inteligência aos jogadores e seus pais. Tento explicar-lhes que precisam de tempo para progredir.”

Diante disso, até surpreende que apenas dois da atual equipe suíça sub-17 tenham contratos no exterior. Em todo o caso, o futuro desses talentos parece promissor. Entre os melhores jogadores da história da Eurocopa Sub-17 figuram, além de Cristiano Ronaldo, outros nomes de craques europeus, como Casillas, Torres, Rooney, Podolski, Fabregas, Gerard Pique ou Senderos.

swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)

Confira a lista dos jogadores com dupla nacionalidade na seleção suíça de futebol que disputa a Eurocopa Sub-17 na Alemanha (entre parênteses, a segunda nacionalidade, além da suíça).

Defensores
André Gonçalves (português)
Sead Hajrovic (bósnio)
Frédéric Veseli (albanês)

Meio-campistas
Maik Nakic (croata)
Kofi Nimeley (ganense)

Atacantes
Guy Roger Eschmann (togolês)
Igor Mijatovic (bósnio)
Haris Seferovic (bósnio)
Granit Xhaka (bósnio)

Os dados foram fornecidos à swissinfo por Michel Schafroth, manager da seleção sub-17.

A eliminatórias à Eurocopa Sub-17 foram disputadas por 52 seleções, entre 15 de setembro e 28 de outubro de 2008.

Vinte e seis equipes classificaram-se para a “rodada de elite” – 6 a 12 de maio de 2009, em Sandersdorf (Alemanha).

A Suíça terminou essa fase em primeiro lugar no Grupo A, com cinco pontos, superando a Itália (4), Espanha (3) e França (2).

As semifinais serão disputadas nesta sexta-feira (15/5): Suíça x Holanda e Alemanha x Itália.

A final será disputada no próximo domingo, diante de 23.500 mil espectadores, no estádio de Magdeburg (Alemanha).

O torneio é disputado a cada dois anos desde 1980 – até agora, cinco vezes em Portugal, que conquistou o título em 2003.

A Suíça foi anfitriã e vencedora em 2002. Naquele torneio, surgiram estrelas como o suíço Philippe Senderos, o inglês Wayne Rooney e o português Cristiano Ronaldo.

Update, 15/5/09
A Suíça perdeu a semifinal para a Holanda por 2 a 1.

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