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Bonificação é tema de discórdia entre funcionários do UBS

"Baixo clero" protesta contra bonificações elevadas pagas a colegas. Robert Kneschke

A decisão do UBS de pagar 2,9 bilhões de francos (US$ 2,7 bilhões) em bonificações não apenas provocou críticas fora do banco, mas levou alguns funcionários a sentirem-se enganados.

Muitos deles consideram que foram injustamente ignorados após terem sido informados de que seu desempenho havia sido satisfatório em 2009. Alguns contataram a swissinfo para falar da sua inquietação.

Apesar de ter dado prejuízo em 2009, o UBS aumentou fortemente o pagamento de bonificações. Em 2008, o maior banco da Suíça já havia pago 1,7 bilhões de francos.

O presidente-executivo Oswald Grübel declarou que não iria receber bonificações de 2009 e a imprensa suíça revelou que o presidente do Conselho de Administração, Kaspar Villiger, também poderia seguir o exemplo.

Não foram muitas pessoas fora do banco que derramaram lágrimas, ao ler que o UBS havia cortado cerca de 300 milhões de francos, em 2009, das bonificações dadas aos seus funcionários graduados por metas não atingidas.

Mas muitos funcionários suíços dos escalões de salários inferiores estão se questionando por que foram esquecidos no pagamento de bonificações, apesar de terem atingidos suas metas individuais de desempenho. O total de fundos será distribuído entre um grupo reduzido de empregados neste ano, em um momento em que o banco cortou 12.550 postos de trabalho em 2009 para ter hoje apenas 65.000 empregados.

“Neste ano, pessoas com avaliação satisfatória foram informadas que o montante (o cálculo do pagamento de bonificações) seria elevado. Elas sentiram falta das suas bonificações, cortadas sem justificações, e isso as contraria bastante”, revela um funcionário do setor de informática, em condição de não ser revelado seu nome.

Mais do que fúria

Outro funcionário telefonou à swissinfo.ch para dizer que tinha “mais do que fúria” no que ele considerou como uma “violação” do novo sistema de bonificações.

“Tivemos prejuízos no ano passado. Então estaria satisfeito se ninguém tivesse recebido bonificações”, justifica. “Mas desde que o montante foi elevado, teria sido justo distribuir algumas migalhas aos empregados que fizeram horas extra ou trabalharam nos finais de semanas, pelo menos para dizer obrigado.”

Longe de esperar bonificações na escala de vários milhões de francos, esses empregados iriam receber um salário mensal extra se seu desempenho tivesse sido positivo.

O descontentamento é generalizado dentre o corpo de funcionários do UBS na Suíça, como revela Elli Planta, presidente do Comitê de Representação dos Empregados (CRE) do banco.

“No passado, os chefes diziam aos seus funcionários que eles estariam aptos a receber uma bonificação caso seu desempenho tivesse sido satisfatório”, revela à swissinfo. “Existem pessoas que tiveram um bom desempenho sob difíceis condições no ano passado e que agora não estão entendendo mais nada.”

Segundo a sindicalista, parte do problema estaria na falta de um comunicado por parte da direção da empresa para explicar os novos parâmetros que determinam quem recebe bonificações. O novo sistema de qualificar funcionários às bonificações parece estar causando confusão e frustração entre eles.

“A distribuição de bonificações não é suficientemente compreendida ou transparente”, declara. “As pessoas até podem aceitar sacrifícios se elas simplesmente entendem o que está acontecendo.”

Sigilo atacado

Os sindicatos também se queixaram de que as bonificações são arbitrárias e estão frustrados. Apesar dos funcionários terem salários de base, eles não têm poderes de consulta ou negociação sobre o tamanho ou distribuição dos pagamentos relativos ao desempenho.

“Isso demonstra que as bonificações são organizadas dentro dos próprios interesses do banco e não no interesse dos empregados. Inevitavelmente, algumas pessoas ganham uma grande quantidade de dinheiro e outras não levam nada”, reclama Denise Chervet, secretária-geral da Associação Suíça de Empregados de Bancos.

O órgão fiscalizador do mercado financeiro suíço, mais conhecido pela sigla “Finma”, forçou o UBS a cortar as bonificações em cerca de 80% em 2008. Mas ele já não tem mais autoridade legal para intervir diretamente na política de bonificações do banco a partir do momento em que o UBS pagou de volta no verão passado os empréstimos emergenciais cedidos pelo governo federal.

O fato não impediu que a mídia suíça especulasse sobre a possibilidade de a Finma ter feito pressão sobre o banco para que este cortasse um bilhão de francos do montante de bonificações de 2008, mas Oswald Grübel negou em fevereiro.

Diferenças culturais

O banco fez modificações no sistema de pagamento por desempenho, criando objetivos de longo prazo, cortando grande parte das bonificações e retomando parte ou a integralidade de bonificações individuais se os objetivos não são alcançados.

Contatado pela swissinfo.ch, o UBS se absteve de revelar como bonificações são distribuídas e quais os critérios são aplicados. Porém o banco não escondeu seu desejo de impedir a fuga de funcionários de grande desempenho para a concorrência, sobretudo no setor de administração de fortunas.

Nesse sentido, o banco não tem sido auxiliado pelos concorrentes, particularmente nos Estados Unidos, que aumentaram consideravelmente as bonificações pagas em 2009. Isso reforçou a suspeita dos funcionários suíços do UBS de que o montante de bonificações está sendo direcionado para o outro lado do Atlântico.

Segundo Planta, a suspeita está levando ao alargamento do fosso entre culturas dentro do banco, que começou com a expansão do UBS nos Estados Unidos nos últimos anos.

“O setor financeiro suíço é dirigido pelo dinheiro, mas não compartilhamos a filosofia anglo-saxã de ‘dinheiro rápido'”, diz. “Estamos chegando num ponto em que as pessoas irão dizer ‘basta'”.

Matthew Allen, swissinfo.ch
(Adaptação: Alexander Thoele)

Depois da quebra em 2008 e subsequente salvamento de vários bancos globais através do dinheiro de contribuinte, a questão do pagamento de bonificações foi levantada em vários países.

Na Suíça, o UBS foi o único banco a receber ajuda financeira do governo federal. Ela foi devolvida no ano passado.

O órgão fiscalizador do mercado financeiro suíço (Finma) criou novas regras relativas às compensações variáveis e que entrarão em vigor no próximo ano. Elas obrigam uma relação entre compensação e objetivos de longo prazo, além de mais transparência.

O UBS e o Credit Suisse introduziram novos sistemas de compensação para frear o pagamento de parte das bonificações por três anos. Elas só serão pagas se as metas forem atingidas.

O UBS aumentou em 2009 o pagamento de bonificações de 1,7 bilhões de francos (2008) para 2,9 bilhões. Cerca de 60% deste montante é destinado a funcionários do escalão dos salários elevados. O banco deve anunciar perdas de 2,7 bilhões no ano passado, comparado com prejuízos de 21 bilhões de francos.

O Credit Suisse deve segurar 40% do total de 6,85 bilhões de francos que estaria pagando em bonificações. No ano passado, o segundo maior banco suíço deve lucros de 6,7 bilhões de francos. Em 2008, ele anunciou prejuízos da ordem de 8,22 bilhões de francos.

As instituições financeiras em Wall Street aumentaram em 17% o pagamento de bonificações, totalizando 20 bilhões de dólares.

Na Grã-Bretanha, o Royal Bank of Scotland disponibilizou 1,3 bilhões de libras esterlinas em bonificações apesar de ter tido prejuízos da ordem de 3,6 bilhões.

A Grã-Bretanha e a França introduziram no ano passado um novo imposto sobre as bonificações. O objetivo é recuperar parte do dinheiro público gasto para salvar as instituições financeiras.

Muitos executivos se curvaram à pressão pública e política para renunciar em 2009 às bonificações ou aumentar a proporção de ações que receberam em relação ao dinheiro.

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