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Cúpula do G-8 provoca debate na Suíça

Manifestantes da Oxfam se fantasiam de líderes dos países do G-8. Keystone

Os líderes do G-8, o grupo dos sete países mais industrializados e mais a Rússia, iniciam hoje uma cúpula em Heiligendamm, balneário no norte da Alemanha, sob protestos de grupos antiglobalização e em meio a disputas internas sobre a questão climática.

Na Suíça o encontro tem provocado polêmica. Enquanto o governo helvético procura apresentar propostas de políticas climáticas, diversas ONGs protestam.

“A Suíça não tem influência direta sobre os países membros do clube do G-8. E muito provavelmente ela também será irrelevante no debate sobre as mudanças climáticas e possíveis soluções”, avalia Silvio Borner, professor na Universidade da Basiléia.

Assim como o Fórum Econômico Mundial (WEF), encontro organizado anualmente em Davos, pequeno vilarejo nas montanhas suíças, a cúpula do G-8 também atrai um grande número de ONGs e grupos anti-globalização da Suíça. Muitos deles já chegaram em Heiligendamm, balneário no norte da Alemanha onde ocorre o encontro neste ano.

Informalmente, a Suíça tenta colaborar com os debates do G-8 através da apresentação de um plano de combate às mudanças climáticas feita durante o encontro de ministros do Meio-Ambiente dos países da União Européia, ocorrido no início do mês em Essen, Alemanha.

Encontros informais

“Como o clima é o principal tema de debates na cúpula do G-8, Moritz Leuenberger, ministro helvético do Meio-Ambiente, transmitiu no último final de semana suas propostas através dos contatos informais do país”, revela Harald Hammel, porta-voz do ministério.

“Leuenberger esteve com o ministro alemão do Meio-Ambiente, Sigmar Gabriel, e debateu com ele intensamente a proposta apresentada por George Bush”.

Para o ministro suíço, o anúncio feito pelo presidente americano é visto como “uma virada bem-vinda na política dos EUA”. Pelo fato dela ter sido apresentada pelo governo de Bush, até então reticente ao problema climática, mostra a urgência do tema.

Ao contrário de Bush, Leuenberger têm uma posição mais abrangente das medidas necessárias. “Os objetivos de redução da emissão de gases precisam ser globais e firmados como um compromisso pelos países”. O governo alemão defende também uma proposta semelhante.

Suíços em Heiligendamm

Nos últimos dias um grande número de suíços viajou para Rostock, cidade ao norte da Alemanha e não muito distante do local onde ocorre a cúpula do G-8 em Heiligendamm. O movimento anti-globalização Attac alugou um trem para transportar ativistas a partir da Basiléia. Dentre os participantes dos protestos está o estudante de direito de 23 anos originário de Berna (pediu para o nome não ser publicado na reportagem). Ele e seus amigos querem protestar contra a política das nações mais poderosas do globo.

“Nosso objetivo em Rostock é tirar a legitimidade do G-8. Através de várias ações planejadas pretendemos interferir na realização desse encontro. Um exemplo é impedir que os carregamentos de caviar cheguem em Heiligendamm”.

A forte presença policial no local é sentida por todos os jovens manifestantes. Em toda a cidade não há uma rua onde não estejam postados homens de uniformes e veículos lançadores de água. Vários manifestantes já foram presos por não respeitar as regras, que impedem a utilização de máscaras. “Por sorte um amigo meu foi libertado logo depois”.

O jovem suíço relativiza a violência vivida nos últimos dias anteriores ao início da cúpula do G-8. “Em relação às guerras que são conduzidas atualmente pelos países do G-8, acho grotesco ficar aqui discutindo sobre vidros quebrados”, declara.

“Encenação”

Oliver Classen, porta-voz da Declaração de Berna, ONG suíça, protesta: – “A prova que esse tipo de encontro já está ultrapassado é a necessidade que os governos têm de se impor através dessa encenação de poder, uma demonstração cabal da impotência deles”.

Na opinião do ativista suíço, a falta de alguns países mostra a inoperância do encontro e erro na sua estruturação. “Veja que a China não está presente, mas a Itália participa todos os anos. Com a realidade econômica atual esse encontro não tem nada a ver”, declara.

Na opinião da Declaração de Berna, se a ONU pode ser vista como uma organização formada por uma maioria de países democráticos, “círculos exclusivos formado por membros do G-8 ou dos participantes do Fórum Econômico Mundial em Davos são o problema”.

Contra a violência

Também Oliver Classen condena as manifestações violentas ocorridas na Alemanha nos últimos dias. “Elas são “contraprodutivas para a nossa causa”.

“Os exemplos de 1999 em Seattle e 2000 em Genua mostram que no momento das barricadas serem queimadas, também são destruídos os argumentos dos grupos anti-globalização”, avalia o porta-voz da Declaração de Berna.

Em sua opinião, os elementos mais violentos dentre os manifestantes são apenas “turistas sem conteúdo, no qual o maior interesse é participar de um show de destruição”.

As diferenças que reinam entre governos e manifestantes mantém a tensão dos dois lados do muro de arame farpado instalado em Heiligendamm.

swissinfo, Alexander Künzle e Jean-Michel Berthoud

O Grupo dos Oito, mais conhecido como G8, é um grupo internacional que reúne os sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente do mundo, mais a Rússia. Todos os países se dizem nações democráticas: Estados Unidos,Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá (antigo G7), mais a Rússia – esta última não participando de todas as reuniões do grupo. Durante as reuniões, os dirigentes máximos de cada Estado membro discutem questões de alcance internacional.

O G8 é muito criticado por um grande número de movimentos sociais, normalmente integrados no movimento antiglobalização, que acusam o G8 de decidir uma grande parte das políticas globais, social e ecologicamente destrutivas, sem qualquer legitimidade nem transparência. Em 2001 na cimeira anual, em Génova, um manifestante foi morto a tiro pela polícia. Em Portugal, a associação ecologista GAIA e um conjunto de cidadãos na Rede G8 têm desenvolvido iniciativas de oposição à próxima cimeira do G8, que terá lugar em Rostock, no Norte da Alemanha.

Foi o Presidente Valéry Giscard d’Estaing que, em 1975, tomou a iniciativa de reunir os chefes de Estado e de governo da Alemanha, dos Estados Unidos, do Japão, do Reino Unido e da Itália em um encontro informal no castelo de Rambouillet, não longe de Paris. A idéia era que esses dirigentes se reunissem sem o acompanhamento de um exército de conselheiros, para discutir a respeito das questões mundiais (dominadas na época pela crise do petróleo) com toda a franqueza e sem protocolo, em um ambiente descontraído.

Depois do sucesso da reunião de cúpula de Rambouillet, essas reuniões passaram a ser anuais e o Canadá foi admitido como sétimo membro do grupo na cúpula de Porto Rico, em 1976. (texto: Wikipédia em português)

A Cúpula do G-8 ocorre de 6 a 8 de junho em Heiligendamm, balneário no norte da Alemanha. Nela encontram-se chefes de Estado e de governo dos países que do grupo do G-8.
A União Européia também estará representada no encontro.
“Crescimento e responsabilidade” é o lema adotado pela Alemanha, que presidente o encontro em 2007.
Pontos centrais que serão debatidos: globalização e desenvolvimento dos países mais pobres, problemática das mudanças climáticas.

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