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Câncer explode nos países do Sul

Em certos países do Sul (como na Nicarágua), o uso de pesticidas proibidos no Ocidente aumentou os riscos de câncer. Keystone

Os países em desenvolvimento são atingidos ao mesmo tempo pelos tipos de câncer ligados à pobreza como as formas da doença mais comuns nos países desenvolvidos.

Saiba mais na entrevista a seguir do cancerologista suíço Franco Cavalli, por ocasião da Jornada Mundial Contra o Câncer, esta quinta-feira.

Cerca de 40% das 12 milhões de pessoas atingidas por um câncer todo ano no mundo poderiam evitá-lo se fossem protegidas de infecções e mudassem seus hábitos de vida. Essa é a mensagem que a União Internacional Contra o Câncer (UICC), em Genebra, lança nesta quinta-feira (04/2), por ocasião da Jornada Mundial Contra o Câncer e na campanha “O câncer também pode ser evitado”.

Reputado no mundo inteiro, o oncologista suíço Franco Cavalli é atualmente responsável pela coordenação de projetos internacionais da UICC, depois de ter sido presidente da entidade.


swissinfo.ch : O tema deste ano responde a uma urgência sanitária ou às últimas descobertas científicas sobre o câncer?
Franco Cavalli: Trata-se sobretudo de um problema importante de saúde pública que atinge, em primeiro lugar, os países em desenvolvimento atingidos por uma explosão de câncer. Globalmente, 20% dos casos de câncer são direta ou indiretamente ligados a infecções crônicas. Essa porcentagem aumenta muito nos países pobres. Na África ao Sul do Saara, quase 40% dos tumores são ligados a infecções crônicas, enquanto na Suíça essa porcentagem gira em torno de 6%.

Essa relação entre infecção e câncer também é uma consequência da descoberta de novas infecções que influenciam o desenvolvimento do câncer.

swissinfo.ch : O senhor fala de explosão de câncer nos países pobres. As causas são conhecidas?

F.C. : Veja o câncer do colo do útero que é provocado por uma infecção viral. É o câncer mais frequente entre as mulheres desses países, enquanto nos países desenvolvidos ele está desaparecendo, graças a boas condições de higiene e a um sistema de saúde capaz de diagnosticá-lo bem cedo.

Nos países do Sul, o câncer aumenta por causa das más condições de higiene e da ausência de diagnóstico precoce. A maioria das mulheres atingidas pelo câncer morre.

Hoje, esses países são atingidos ao mesmo tempo por todas as formas de câncer ligadas à pobreza e cada vez mais pelos que correspondem aos comportamentos nos países ricos.

No mundo, 13 a 14 milhões de novos casos de câncer são diagnosticados por ano. Esse número poderá passar a 26 milhões em 2030, se as tendências atuais se confirmarem.


swissinfo.ch : Quais são os tipos de câncer mais frequentes nos países do Sul?
F.C. : Isso varia segundo as regiões do globo. Na América Latina, é o câncer do colo do útero nas mulheres e do pulmão nos homens (como na Europa). Em seguida vem o câncer de estômago (em queda na Europa graças às geladeiras).

Na Índia, entre os homens o câncer bucal é o mais frequente porque eles têm o costume de mascar tabaco. Na Mongólia, é o câncer de fígado devido ao vírus da hepatite B.

Com um comportamento adequado e em boas condições ambientais, poderiam ser evitados entre 40 e 50% dos casos de câncer.

swissinfo.ch : A Suíça continua a ser bem posicionada na pesquisa do câncer?
F.C. : A Suíça está muito bem colocada ao nível da pesquisa de laboratório graças, em particular, ao Instituto de Pesquisa Experimental Sobre o Câncer (ISREC), em Lausanne (oeste), ligado à Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL).

A Suíça também é bem posicionada em pesquisa terapêutica, mas o dinamismo é freado pela estrutura cantonal (estadual) do país. Aliás, esse é o tema de uma votação em 13 de março próximo. Se o novo artigo constitucional sobre a pesquisa em seres humanos for aprovado pelos eleitores suíços, as condições básicas da pesquisa terapêutica serão melhores.

Em contrapartida, na cooperação ao desenvolvimento, a Suíça foi modesta em matéria de saúde durante bastante tempo. Mas as coisas começam a mudar.

A agência suíça de cooperação (DDC) financia, por exemplo, um estudo-piloto dirigido pela UICC na Tanzânia sobre o câncer de útero.

De fato, a saúde é cada vez mais um tema central nas relações internacionais e a Suíça está se dando conta disso. A saúde é um problema fundamental para a ajuda ao desenvolvimento dos países do Sul.

Frédéric Burnand, Genebra, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

O câncer é a principal causa de mortalidade no mundo e o número total de casos aumenta, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O número de mortes deverá passar de 7,9 milhões de pessoas em 2007 para 11,5 milhões em 2030. É uma alta de 45% devido em parte ao aumento da população mundial e ao envelhecimento.

Segundo especialistas, o risco de desenvolver um câncer poderia potencialmente ser reduzido de até 40% através de medidas de prevenção associadas a mudanças do modo de vida, como um consumo limitado de álcool, alimentação saudável e parar de fumar.

Em um relatório do ano passado, cancerologistas europeus estimaram que uma onda de câncer ameaça os países em desenvolvimento e que dos 12,4 milhões de novos casos diagnosticados em 2008, metade foi nas regiões de fraca e média renda.

Na Suíça, uma em três pessoas desenvolve um câncer ao longo da vida.

Quase 36 mil novos casos são detectados por ano, 19 mil em homens e mais de 16 mil nas mulheres.

Cerca de 15 mil pessoas morrem de câncer por ano, na Suíça.

O homens são atingidos principalmente pelo câncer de próstata e de pulmão. Entre as mulheres, são o câncer de mama e do colo do útero.

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