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“Esperamos mais respeito dos EUA”

Em Davos, o presidente iraniano Mohammed Chatami impresionou os empresários presentes. Keystone

WEF 2004 é aberto em Davos com poucos protestos e debates de Bill Clinton e do presidente iraniano Mohammed Chatami, que critica os EUA.

Paul Bremer, administrador americano do Iraque, cancela sua vinda na última hora.

Davos pode se considerar no umbigo do mundo. O 34. Fórum Econômico Mundial (WEF) foi aberto oficialmente e já ofereceu algumas boas surpresas para os presentes e a imprensa em Davos.

Além de um ex-presidente americano ter criticado a pobreza no mundo, um líder de um país islâmico foi festejado como reformador.

Para quebrar o clima sisudo do evento, Klaus Schwab, criador e chefe do WEF, exigiu que todos os participantes retirassem suas gravatas, sob pena de pagamento de cinco francos suíços (quatro dólares). “Deixe-nos retirar as gravatas, para poder começar o trabalho”, era o lema para justificar a ação.

Abertura suíça

“Cercados por centenas de soldados e policiais, temos aqui boas condições para discutir sobre segurança e bem-estar”, disse Joseph Deiss, ministro da Economia e presidente da Confederação Helvética no seu discurso de abertura.

O representante do governo suíço reiterou, sobretudo à Europa e os Estados Unidos, que eles se engajem com mais firmeza na prevenção e solução de conflitos globais.

“Apesar das organizações internacionais, nós nos preocupamos muito tarde com a segurança de uma região ou do planeta inteiro”, ressaltou Deiss.

Recusa de encontro com americanos

Ao seu lado estava o presidente iraniano Mohammed Chatami, que foi muito ovacionado pela imprensa e pelos presentes depois do seu discurso.

Chatami, que atualmente sofre grandes pressões das lideranças religiosas mais conservadoras no Irã, refutou a tese de que seu país esteja desenvolvendo armas de destruição em massa e que a autorização para a vinda de inspetores internacionais só tenha ocorrido devido às pressões americanas. “Na verdade, as inspeções das nossas instalações nucleares já haviam sido a muito tempo autorizadas”.

Ao recusar um encontro com o vice-presidente americano Dick Cheney, Chatami não poupou palavras críticas. “espero mais respeito dos EUA, antes que possamos reiniciar o diálogo político”.

”Bons tempos nunca existiram”

Bill Clinton era um dos convidados mais aguardados em Davos. Horas antes da abertura oficial do WEF na quarta-feira, o ex-presidente americano fez um discurso durante o chamado “Opening Lunch” (almoço aberto).

Clinton participa em Davos como representante da sua fundação, que promove a distribuição de medicamentos baratos aos países do Terceiro Mundo. No seu discurso, o ex-presidente exigiu dos empresários presentes que eles não apoiem apenas iniciativas isoladas, mas sim o combate sistemático dos problemas causados pela globalização.

Segundo o jornal suíço “NZZ”, Clinton criticou o “sonho equivocado dos críticos da globalização, que defende a volta ao mundo fácil e descomplicado do passado. “Esses bons tempos nunca existiram, na realidade”.

Dentre os ausentes no encontro em Davos, está Paul Bremer, administrador americano do Iraque. Bremer cancelou sua vinda na última hora.

Combate ao terrorismo

Também Christoph Blocher, o mais novo ministro suíço da Justiça, aproveitou o encontro em Davos para discutir com seu colega de pasta, o americano Paul Ashcroft, sobre o combate ao terrorismo. O ministro da Justiça dos EUA agradeceu à Suíça pelo bom nível do trabalho em conjunto, como o combate aos canais de financiamento dos grupos terroristas, após o atentado de 11 de setembro.

Depois da conversa, Blocher defendeu o segredo bancário na Suíça, afirmando “que este não é um impedimento para o trabalho da justiça”.

Encontros paralelos

Poucos minutos depois da abertura oficial do Fórum Econômico Mundial, também foram abertas as portas do chamado “Open Forum”, uma versão do WEF aberta para o público e mais voltada para temas críticos.

“Nosso objetivo é oferecer um diálogo aberto e crítico”, afirmou Christoph Stückelberger, secretário-geral da ONG “Brot für alle” (Pão para todos). O tema principal das oito palestras previstas no evento é “Globalização e Desglobalização no interesse dos mais pobres”.

Ao mesmo tempo em que participantes do Fórum Econômico Mundial conversavam durante o almoço no centro de congresso, cercado por policiais e soldados, um grupo de não-convidados abria o seu próprio encontro. O quinto “Public Eye on Davos” é o contraponto do movimento altermundialista ao círculo fechado de personalidades e empresários no WEF.

O discurso de abertura do evento foi feito por Mary Robinson, ex-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que acabava de chegar de Bombay, Índia, onde ela havia participado do Fórum Social Mundial.

Para Robinson, não só multinacionais, mas também qualquer empresa no mundo, incluindo fornecedores, deve assumir suas responsabilidades políticas, sociais e de respeito ao trabalhador. O tema principal do evento é exatamente a “responsabilidade das empresas”.

O “Public Eye on Davos” ocorre de 21 a 23 de janeiro, paralelamente ao WEF. Durante três dias, os participantes e palestrantes internacionais debaterão temas como “as conseqüências da privatização da água para as mulheres”, “concorrência desleal e o desenvolvimento esportivo” e “os princípios de Equador entre polimento de imagem e responsabilidade das empresas”.

Poucos protestos

Ao mesmo tempo em que os altermundialistas se encontram em Davos, grupos mais radicais realizavam outra forma de protesto. Para impedir que os participantes estrangeiros do WEF 2004 cheguem à tempo no centro de congressos, duzentos deles bloquearam ontem durante o dia a saída de carros no estacionamento do aeroporto. Em grande parte composto por jovens, os manifestantes foram carregados nos braços pela polícia, sendo que alguns foram presos. O protesto foi organizado por um grupo autodenominado “Rede de Bloqueio Mafalda”, do qual participam mais de 20 organizações.

A polícia afirma, porém, que ainda não ocorreram atos de violência, como no ano passado, durante a realização do WEF.

Aulas de terrorismo para empresas

O programa de hoje no WEF acompanha o clima criado pelos discursos de abertura. Por isso hoje os empresários participantes do WEF irão discutir o tema “terrorismo”. Os seminários propostos tentam analisar o fenômeno de forma profissional, levantando questões: Por que é tão difícil combater as organizações terroristas? É possível para o mundo dos negócios adaptar alguns elementos das suas estruturas? É possível comparar as estratégias de sobrevivência das empresas com aquelas utilizadas pelas organizações terroristas?

O interesse nas palestras é grande. Apenas uma hora depois da abertura do WEF, não haviam mais lugares disponíveis.

swissinfo, agências e Alexander Thoele

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