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Olho biônico dá esperanças aos cegos

Cientistas desenvolvem uma nova tecnologia que pode dar visão aos cegos. Keystone Archive

No futuro, retinas artificiais poderão recuperar a visão dos cegos. Para realizar esse sonho, pesquisadores suíços estão desenvolvendo um novo microprocessador.

Porém muitos anos ainda serão necessários, até a utilização da nova tecnologia em olhos humanos.

Degeneração da retina é uma causa comum da cegueira humana. Hoje em dia a doença praticamente não tem cura. A solução encontrada pela ciência: criar microprocessadores que podem ser implantados nos olhos humanos, para recuperar parte das funções da retina danificada.

Dessa forma, cegos poderiam até recuperar a visão, ou parte dela. Essa é não só a esperança das pessoas atingidas pelo problema, como também de um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos e da Alemanha e que trabalham há anos no desenvolvimento dos chamados microprocessadores da visão.

Por que só agora?

Também cientistas suíços se interessam pelo tema. Há um ano o Hospital Universitário de Genebra e a Escola Politécnica de Lausanne começaram a pesquisar nessa área.

“As perspectivas de um projeto semelhante aumentaram muito, pois hoje temos cruzamento ideal no atual estágio de desenvolvimento da fisiologia e tecnologia”, afirma Philippe Renaud, cientista no centro de microtecnologia da Escola Politécnica de Lausanne. “Nosso projeto alcançou um nível internacional”.

Primeiro protótipo

O que os cientistas suíços estão atualmente desenvolvendo é retirado por Renaud de uma lata: o primeiro protótipo do implante, que é uma lâmina fina de um material sintético, com quase quatro centímetros de comprimento.

O final de uma das extremidades da lâmina é um pouco mais largo, sobre o qual está fixada uma placa minúscula: – “Nesse chip, de um milímetro de comprimento da aresta, estão ordenadas quatorze filas. Cada uma contém quatorze células artificiais de visão, mais conhecidas como “pixel”, explica o professor.

Cada pixel funciona em três estágios: um foto-diodo transforma a luz em energia. Minúsculos circuitos de comutação processam esse sinal e, posteriormente, um eletrodo conduz o sinal processado para as células da retina.

Células nervosas como exemplo

Os circuitos de comutação fazem com que a luz seja transformada em impulsos elétricos, cujas freqüências aumentam de acordo com a intensidade da luz. Um exemplo natural é dado pelas células nervosas no organismo humano que, através de estímulos, reagem através de descargas elétricas, mais conhecidas pelo nome científico de “spikes”.

Normalmente o substrato dos circuitos de comutação é de silício e os eletrodos são feitos de alumínio. “Os dois materiais não são estáveis no organismo humano, por isso nós embalamos o chip com polyimid, um material plástico biocompatível e revestimos o eletrodo com platina”, conta Dominik Ziegler, que atuou no desenvolvimento da peça durante sua diplomação na Escola Politécnica.

Outro problema foi a necessidade de reduzir a espessura do implante da retina para possibilitar o seu uso no corpo. Após intensivo trabalho, os pesquisadores conseguiram reduzir o implante de meio milímetro para 30 milésimos de milímetro.

Experiências com ratos

Os pesquisadores ainda não pretendem testar o novo microprocessador em seres humanos. Para isso, é necessário ainda muito trabalho.

A prova de que esse chip pode ser implantado cirurgicamente foi demonstrada, há algumas semanas, em experiências com animais promovidas pelo Instituto Nacional da Saúde e da Pesquisa Médica (INSERM) em Paris, sob a orientação de um cirurgião de olhos do Hospital Universitário de Genebra.

Os implantes, que ainda estavam eletronicamente inativos, foram colocados na retina de ratos. Há pouco se iniciou uma segunda bateria de testes.

Testes em seres humanos

Paralelamente, os pesquisadores trabalham em pesquisa básica. Na clínica de olhos de Genebra, pessoas saudáveis receberam óculos especiais e passaram a ver através dos novos microprocessadores.

O experimento mostrou que algumas centenas de pixels já possibilitam a leitura de textos. Com os óculos, as pessoas precisaram registrar algumas letras para depois, passo a passo, conseguir ler palavras até chegar a compreensão de uma frase completa.

Evitar falhas de desenvolvimento

Philippe Renaud considera muito importante, que o projeto seja conduzido em diversos centros em conjunto. Dessa forma é possível evitar algumas das falhas comuns no desenvolvimento de novas tecnologias.

O microprocessador da visão precisa ter a capacidade de ser utilizado cirurgicamente estar adaptado à biologia do organismo.

Renaud evita ser muito otimista com a nova técnica. Até que ela possa ser empregada no olho humano, ainda são necessários no mínimo mais cinco anos de pesquisas.

O pesquisador acredita que, em longo prazo, pacientes com degeneração da retina possam ser ajudados pelo microprocessador da visão. Essa seria a solução ideal, até que existam tecnologias puramente biológicas como o desenvolvimento do tecido natural da retina em laboratório e sua implantação no corpo.

swissinfo, Jean-Jacques Daetwyler
tradução de Alexander Thoele

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