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ONGs alertam contra mercado livre

Pouco aceito entre as ONGs: Supachai Panitchpakdi (à esquerda), diretor-geral da OMC. Keystone

Grupos sociais suíços se reúnem e lançam manifesto em Berna contra abertura dos mercados mundiais.

Ecologistas, ONGs, organizações beneficentes e sindicatos de agricultores querem ser ouvidos na 5.ª Conferência Ministerial da OMC em Cancún, no México.

O salão no hotel era pequeno demais para um grupo tão colorido.

Sentados à mesa, representantes de sindicatos de funcionários públicos, organizações caritativas, agricultores e ecologistas suíços aguardavam a vez para transmitir seu recado aos jornalistas.

O anúncio era o pacote de reivindicações que está sendo transmitido ao governo suíço. Este deve dar a voz aos grupos insatisfeitos com as decisões que poderão ser tomadas na 5.ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), programada para ocorrer de 10 a 14 de setembro em Cancun, no México.

Fernand Cuche, deputado verde e secretário da Associação de Agricultores da Suíça francesa, e seu colega de classe, Jacques Bourgeois, afirmam que camponeses dos países ricos e pobres estarão em Cancún para protestar pelos mesmos interesses.

“Os pequenos agricultores no mundo inteiro sabem que a abertura dos mercados só favorecem às monoculturas e aos grandes comerciantes. Seus interesses são regionais. A agricultura deve ser multifuncional e fornecer alimentos seguros para todas as populações”.

“Países ricos só querem mercados”

“O que os países mais pobres do mundo precisam não é mais abertura de mercado, mas sim instrumentos de autonomia política para possibilitar o seu desenvolvimento social e econômico”, ressalta Bastienne Joerchel, representando organizações caritativas como Swissaid, “Brot für alle”, Helvetas, Caritas e Heks.

Os participantes do manifesto não se esquecem da “hipocrisia” dos países mais ricos.

“Enquanto esses países pedem a abertura geral das fronteiras, eles defendem seus mercados sensíveis como o têxtil, siderúrgico e a agricultura”, completa Joerchel.

Representantes de funcionários públicos, como o professor escolar Beat Zemp, são contrários à liberalização dos serviços públicos. Ela já custou muitos empregos no setor.

“O Estado deve cumprir seu papel em áreas fundamentais como o ensino, comunicação e saúde”.

Contra as patentes

Ao falar de medicamentos, onde o governo suíço apóia a posição de outros países desenvolvidos, de proteger patentes das suas multinacionais, as ONGs são mais contundentes.

“O governo suíço deve se esforçar para que o acordo TRIPS entre em vigor. Ele, afinal, garante que a proteção da saúde pública esteja acima da proteção de patentes. Um exemplo gritante é a questão do acesso a medicamentos baratos, os genéricos, no combate a AIDS”, reclama Marianne Hochuli, da “Declaração de Berna”.

Ecologistas também têm algo a dizer. Miriam Behrens, da ONG “Friends of the Earth” (Amigos do Planeta Terra) não quer que a OMC legalizem o comércio do marfim ou a caça às baleias. “Temas da ecologia atingem a humanidade. Eles devem ser discutidos na ONU e não num círculo fechado de ministros de comérciocomo, como irá ocorrer na OMC”.

A diversidade de propostas na tomada de posição conjunta das ONGs mostra apenas que a insatisfação é grande. “A liberalização dos mercados não leva necessariamente a regras comerciais justas e nem ao crescimento sustentado no Planeta”.

Um jornalista presente lembra apenas uma pequena contradição no discurso. “Se a solidariedade é tão grande entre os grupos contrários à globalização, por que não começar pela Suíça, onde há anos o açúcar é fortemente subsidiado, em detrimento dos países pobres exportadores do produto”?

swissinfo, Alexander Thoele

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