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Um trabalho na Copa graças à Suíça

Graças à SSACI, os jovens Luvene, Kgomotso, Napoleon e Lesego puderam fazer um curso prático de formação em mecânica de precisão numa empresa alemã, nos arredores Joanesburgo. swissinfo.ch

A taxa de desemprego atinge oficialmente 51% dos jovens sul-africanos, uma realidade que é muito mais dramática entre os negros. ONGs e firmas suíças tentam lutar contra essa verdadeira bomba-relógio, que mina o campo social.

É o caso da Swiss South African Co-operation Initiative (SSACI), fundada em 2001 pela Direção de Desenvolvimento e de Cooperação (DDC) e por empresas suíças que operam na África do Sul.

“Esse trabalho ajuda na recuperação de minha confiança. Antes, havia perdido a autoestima. Simplesmente esperava os dias passarem, evitando pensar no amanhã.” Lucky Letsobe de 24 anos é um jovem feliz e expansivo. Tudo aconteceu depois de 8 de junho de 2009, quando começou a trabalhar em sua atividade profissional no City Lodge, um hotel 3 estrelas de Sandton, o bairro mais rico de Joanesburgo.

Será que seu nome deu sorte? (Lucky significa feliz, em inglês). Talvez um pouco, especialmente em um país onde cerca de 70% da população negra não encontra trabalho ao sair da escola obrigatória. É o caso dele. “Durante algum tempo fiz um curso profissionalizante em uma escola técnica. Mas como não tinha meios para pagar a matrícula e o transporte coletivo, desisti de terminar meus estudos.”

Em 2009, depois de vários anos na geladeira, apareceu para ele a sonhada oportunidade de fazer um curso prático, na área de turismo, especialmente importante pela proximidade da Copa do Mundo de Futebol, que deve atrair centenas de milhares de pessoas à África do Sul, nos meses de junho e julho.

Cinco mil jovens formados

O projeto foi lançado pela Swiss South-African Co-operation Initiative (SSACI), agência patrocinada pela Direção de Desenvolvimento e de Cooperação (DDC, órgão governamental suíço) juntamente com cerca de quinze empresas, na maioria helvéticas. Desde 2001, a SSACI vem financiando cursos práticos, para mais de 5 mil jovens, nos mais diversos setores como alvenaria, eletricidade, mecânica de precisão e até marcenaria.

Concluído o curso, esses jovens geralmente não têm dificuldades para encontrar trabalho, uma vez que os treinamentos estão diretamente relacionados com as necessidades da economia local. “O drama da economia sul-africana, lembra Ken Duncan, diretor da SSACI, é que o desemprego atinge nível catastrófico entre os jovens pois, lamentavelmente, as empresas não encontram mão de obra qualificada no mercado.”

Em 2009, devido à crise, a economia sul-africana não conseguiu preencher um milhão de vagas – segundo estimativa de Ken Duncan – especialmente entre os jovens na faixa etária de 18 a 26 anos. A falta de mão de obra qualificada, pelo terceiro ano consecutivo, foi considerada a principal causa de preocupações dos empregadores da África do Sul, segundo pesquisa realizada pela PricewaterhouseCoopers, PwC.

Aids-sida e criminalidade

Outra verdadeira bomba-relógio que poderá por em perigo o frágil equilíbrio social, conseguido no pós-apartheid, é o desemprego entre os jovens sul-africanos. Constituem uma prova do recrudescimento da situação os tumultos registrados nos bairros menos favorecidos, tumultos estes que, regularmente, ocupam as manchetes dos telejornais.

Aids e criminalidade são as duas consequências mais evidentes e dramáticas desse desemprego maciço. “Um jovem que trabalha será muito mais comportado e responsável. Ele certamente estará menos sujeito a ter comportamentos de risco”, diz Ken Duncan.

“Infelizmente, um em cada cinco jovens beneficiados por nossa campanha é soropositivo. A expectativa de vida diminuiu 10 anos na última década. O impacto demográfico da aids terá consequências dramáticas na economia sul-africana nos próximos anos.”

Durante o primeiro dos quatro meses de seu curso prático, Lucky Letsobe sentiu o peso desse problema. E descobriu ainda, graças ao apoio financeiro da SSACI, as bases das diferentes especializações no ramo da hotelaria.

Servir de modelo

O jovem demonstrou qualidades que permitiram que seus empregadores lhe oferecessem um contrato fixo de trabalho. “Embora o índice de contratação ao final dos cursos práticos seja menor que outros de formação mais técnica, o de turismo oferece inúmeras possibilidades aos jovens que não tenham todas as habilitações exigidas”, observa Ken Duncan.

Se os sistemas de educação e de formação profissional, herdados do apartheid, apresentam deficiências graves, a SSACI não pretende substituir os encargos do governo sul-africano.

“A África do Sul dispõe de fartos recursos naturais, mas carece de mão de obra qualificada. Na Suíça, ocorre exatamente o contrário. Esperamos que o trabalho realizado em pequena escala possa simplesmente servir de exemplo para as autoridades locais.”

Samuel Jaberg, swissinfo.ch
(Tradução de J.Gabriel Barbosa)

Público-privada. A Swiss South African Co-operation Initiative (SSACI) é uma agência fundada em 2001 pela DDC e por empresas suíças que operam na África do Sul. Suas metas são proporcionar apoio técnico-financeiro a jovens sul-africanos oriundos dos meios menos favorecidos, orientando-os para a formação profissionalizante, garantia de empregos qualificados.

Sucesso. A partir de 2001, cerca de 5 mil jovens foram beneficiados pela formação de cursos práticos em mais de 50 diferentes projetos. O índice de aprovação nos exames finais superou a casa dos 90%. A longo prazo, mais de 70% poderão ser favorecidos por um emprego qualificado e salário decente.

Suíça. Entre algumas das 250 empresas suíças, operantes na África do Sul, que financiam as atividades da SSACI figuram ABB, Bühler, Ciba, Clariant, Credit Suisse, Holcim, Schindler, Swiss International Airlines, Swiss Re, UBS e Novartis.

Pontuação. Investindo em projetos sociais, como os da SSACI, as empresas suíças recebem pontuação, necessária para todas aquelas que desejem participar de concorrências públicas. Esse sistema aplica-se também aos subempreiteiros ou fornecedores dessas empresas.

Quarenta e três por cento da população sul-africana vivem com menos de dois dólares por dia.

A taxa oficial de desemprego atinge 24,5% da população. Na realidade, ultrapassa os 40%.

Duzentas e sessenta mil vagas foram oficialmente perdidas em 2009, principalmente entre os jovens negros do setor informal.

Treze milhões de sul-africanos se beneficiam de salário-desemprego.

Desde 1995, a renda mensal média dos negros aumentou 37,3%. A dos brancos, 83,5%.
Segundo o Banco Mundial, 13% da população vivem em condições de “primeiro mundo” e 50%, as de um país em desenvolvimento.
Trinta e sete por cento da população não têm acesso a água potável e energia elétrica e 25% nem mesmo à educação primária.

A expectativa de vida caiu 10 anos na última década e não passa dos 50 anos. E 18,1% da população na faixa etária de 15 a 49 anos é soropositiva.

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