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Clube suíço procura novos talentos na Argentina

O presidente da FIFA construiu quatro campos de futebol a imigrantes do Valais, na Argentina. Pierre Bratschi

Para montar um bom time de futebol, os dirigentes do FC Sion, um dos clubes suíços mais conhecidos no exterior, procura novos talentos entre os emigrantes do Valais.

O principal alvo dos olheiros é a Argentina, onde há uma importante comunidade de imigrantes dessa região do sudoeste da Suíça.

“Você está vendo esses quatro campos de futebol? Foi Joseph Blatter que nos doou”. Roque Carlos Oggier posa orgulhosamente na frente da grande placa de madeira onde está escrito o nome do presidente da Fifa e os agradecimentos do vilarejo. Oggier é o presidente da Associação Suíça Helvetia de San Jerónimo Norte, uma cidade de 7 mil habitantes, a 40 km de Santa Fé, na Argentina.

“Aqui somos quase todos descendentes de suíços do Valais. Quando Joseph Blatter (N.da R. o presidente da Fifa também é natural do Valais) veio aqui assistir ao nosso torneio de futebol e soube que membros de sua família haviam fundado San Jerónimo 151 anos atrás, ele ficou muito emocionado. Então ele nos ofereceu esses campos e nos dá um cheque de seu próprio bolso todo ano”, explica Roque Carlos Oggier.

Três mil “garotos do Valais”

Hoje San Jerónimo Norte tem nove campos de futebol, um ao lado do outro. Pode parecer um exagero para uma cidadezinha, mas, na verdade, eles são necessários para organizar um dos maiores torneios internacionais de júniores da América do Sul.

Cerca de 200 times de todas as províncias da Argentina, do Uruguai, do Paraguai e do Brasil se encontram anualmente em San Jeronimo para o “Valesanito”, o torneio dos “meninos do Valais”. Mais de três mil garotos entre 6 e 14 anos reúnem-se para jogar no espaço “Joseph Blatter” durante os quatro dias do torneio. San Jerónimo torna-se então o centro do futebol júnior da Argentina. Dezenas de técnicos e olheiros do país e até do exterior observam os jogos para tentar encontrar os craques de amanhã.

Olhe: aquele lá é bom

Entre eles este ano está Christian Zermatten, responsável pela formação do FC Sion, clube suíço da primeira divisão. “Nosso centro de formação inaugurado dois anos atrás funciona bem, mas o Valais não tem um grande celeiro de jovens. Acontece que queremos dar prioridade à formação dos originários do Valais. Então tivemos a ideia de procurá-los onde eles estão, e a Argentina é um excelente lugar. É um país com uma forte imigração suíça desse estado e também um país do futebol”, explica Zermatten.

Como todo especialista em formação, o do FC Sion tem um olhar seletivo. “Olha o número 11, ele é muito bom, me dá o nome dele”, pede Christian Zermatten a Julio Constantin, originário do Valais, mas cidadão argentino. Ele tornou-se treinador em Cordoba, depois de ter jogado e atuado como técnico em Genebra. “Este torneio é muito importante para todos os garotos, é a ocasião para se mostrarem aos técnicos de toda a Argentina e também aos de fora”, afirma Constantin, apontando com a cabeça um olheiro do Barcelona.

A Suíça ou a nostalgia do país de origiem

“Se nosso filho tivesse a possibilidade de jogar na Suíça, ficaríamos muito contentes”, diz a mãe de Thomas Zurbriggen, de 11 anos. “Nossos avós vieram há muito tempo, mas todos temos a Suíça no coração. Se pudéssemos conhecer esse país, seria a realização de um sonho de várias gerações”, explica a mãe do garoto.

Christian Zermatten é mais prudente: “Não queremos de maneira alguma romper as raízes desses jovens, o que seria contraprodutivo. Se encontramos um talento promissor, queremos que ele termine sua formação de base aqui e o acompanharemos desde a Suíça. Quando ele se sentir mais maduro, então poderá fazer uma estadia na Suíça, segundo modalidades que será preciso definir com os pais”.

Thomas Zurbriggen, agarrado ao braço da mãe, escuta com atenção o formador do FC Sion. “Ah, sim, gostaria de ir jogar na Suíça, assim me tornaria famoso.” Os olhos do garoto começam a brilhar. Ser famoso na Argentina é a fórmula infantil para falar de uma vida melhor.

Pierre Bratschi/InfoSud à San Jeronimo, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

Bandeiras suíças, casas limpas e bem arrumadas. Se não fosse o clima, o turista que desembarca em San Jerónimo Norte poderia acreditar que está na Suíça.

Situada a aproximadamente 500 km ao norte de Buenos Aires, San Jerónimo Norte foi fundada por cinco famílias vindas do estado do Valais, em 1858. Chegaram pelo Rio Paraná, cultivaram a terra e se tornaram argentinas, mas mantiveram tradições bem suíças.

“Em nossa comuna, por exemplo, a coleta de lixo, a distribuição de gás e de água encanada continuara ser parte dos serviços públicos”, explica Roque Carlos Oggier.

Cerca de 70% dos habitantes de San Jerónimo Norte são originários do Valais, como os Zurbriggen, Bodenmann e Fux, por exemplo.

San Jerónimo Norte, no entanto, não é uma exceção. Muitos povoados da região de Santa Fe foram fundados por suíços em meados do século 19.

Existem suíços por todo lado na Argentina. Até o ex-presidente Nestor Kirchner tem origens suíças.

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