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A seleção suíça desmistificada

Marina Lutz

Já foi há muito tempo. Portanto, poderia ter sido ontem. Antes do Euro 2008 na Suiça (e na Áustria), a seleção nacional, também chamada de Nati, se preparava em Lugano (sul), como também algumas semanas atrás para o Euro 2016.

Para encerrar então seu período de preparação, a Nati tinha jogado seu último amistoso contra a Eslováquia.  De passagem por acaso nesse bonito Ticino, decidi espontaneamente ver essa partida no estádio.

Foi uma decisão que eu devia lamentar. Não devido a aspecto lúdico do jogo. Não, isso era esperado e a gente podia apoiar.

O que tinha realmente me impressionado era o comportamento dos torcedores suíços em volta de onde eu estava.

Já naquela época, a Nati tinha um meio de campo vivo e combativo chamado Valor Behrami. Era um jogador cuja família tinha fugido da ex-Iugoslávia quando ele era criança e crescido no cantão do Ticino.

Ora, nesse último amistoso de preparação para o Euro 2008, Behrami, ainda jovem, tinha jogado mal, perdendo uma bola atrás da outra.

Foi demais para o público suíço, que começou a lhe xingar de “Iugo de merda”. Um “Iugo de merda” que, portanto, ainda não tinha perdido com a Nati.

As insultas duraram até os 11 minutos do segundo tempo, quando a Suíça abriu o marcador. E que marcou – imaginem – foi justamente Valon Behrami. E o Estádio Cornaredo ressoava “Hopp Schwiiiz!”,  gritado por milhares de bocas.

Nunca se tinha visto uma pessoa passar tão rapidamente da condição de “Iugo de merda” à de bravo suíço como Behrami em 2008 em Lugano.

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E hoje, oito anos depois, as coisas são muito diferentes? A Nati mudou e os torcedores também.  

Atualmente os jogadores de raízes balcânicas formam a espinha dorsal do grupo. Sem Behrami, Granit Xhaka, Admir Mehmedi, Blerim Dzemaili e, num bom dia, Xherdan Shaqiri, a seleção suíça seria impensável. Até o técnico Vladimir Petkovic tem raízes na ex-Iugoslávia.

O que também mudou, me parece, é a relação que as suíças e suíços têm com a seleção nacional. Ela tornou-se mais distante. Não é que o país o país tenha desdenhado a Nati, mas tornou-se menos emocional. Inclusive agora que os homens de Vladimir Petkovic são vitoriosos na França (contra a Albânia) e jogaram bem (contra a Romênia), sente-se menos euforia na Suíça. O desempenho da seleção é analisado sobriamente, sem júbilo excessivo. Pela primeira vez, parece que a cabeça ganha das tripas.

Politicamente, a seleção não tem mais uma imagem simplista.

A representação muito suíça de conservadores de direita não corresponde mais à realidade há muito tempo. Mas a bela história desses rapazes como exemplos de uma integração bem-sucedida, que agrada tanto a esquerda, perdeu sua atração desde que se debate o pretenso “fosso dos Balcãs” que existiria no grupo e que um dos jogadores falou disso publicamente.

Durante esses últimos oito anos, a seleção nacional é, portanto, desmistificada. Ela não tem mais o potencial de identificação para as massas. Existe uma espécie de distanciação entre jogadores e torcedores. A Nati parece um pouco fora do tempo, um anacronismo. Como quando a Suíça e a Albânia se enfrentam no campo, irmãos contra irmãos, suíços contra suíços ou albaneses contra albaneses, conforme a perspectiva que se adota.

Ao contrário de 2008, a seleção é cada vez mais vista pelo que é fundamentalmente. Um conjunto de “sociedades anônimas pessoais”, que pesa milhões e quer ainda aumentar de valor. Jogar com a camisa nacional lhes dá uma oportunidade bem-vinda e cria uma situação “ganhador-ganhador”, em que Suíça, não se pode esquecer, também aproveita.

Ou então, é a Suíça de 2016 que ainda não está disposta a ter em seu coração uma seleção capitaneada por um certo Valon Behrami…

E você, como vê a seleção suíça de futebol ? Sua opinião nos interessa. ​​​​​​​

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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