Perspectivas suíças em 10 idiomas

Criminoso argentino viveu impune na Suíça

José Lopez Rega (ao centro) em Villeneuve. Para Berna, esta foto é uma montagem. Juan Gasparini

José López Rega, fundador dos «esquadrões da la morte» argentinos, viveu tranqüilamente em Villeneuve, uma cidadezinha do cantão de Vaud (oeste), de 1976 a 1982.

Esta é uma das revelações de “A fuga do feiticeiro”, um livro investigativo publicado pelo jornalista argentino Juan Gasparini, radicado em Genebra. Em Berna, as reações são de «no comment».

José López Rega, nascido em 1916, foi inicialmente secretário particular do então presidente Juan Perón, que dirigiu a Argentina de 1946 a 1965, depois brevemente e até sua morte, de 1973 a 1974.

Ministro do bem-estar social, José Lópes Rega, cognominado “o feiticeiro”, devido seu pendor pela magia negra, foi sobretudo o fundador dos tristememente famosos “esquadrões da morte” que mataram centenas de militantes de esquerda.

Um estranho carimbo suíço

Em 1975, quando os militares tomaram o poder em Buenos Aires, José López Rega
prefere fugir. Depois de uma escala na Espanha, ele refugia-se na Suíça com sua jovem amante, Maria Elena Cisneros. Ele declara então ser o pai de Maria Elena, Ramon Cisneros, do qual roubou a identidade.

O jornalista Juan Gasparini encontrou a ficha da Interpol (política internacional) de José Lópes Rega: havia contra ele um mandado internacional de prisão.

“O feiticeiro” é acusado de ter desviado 300 milhões de pesos argentinos, o equivalente de 10 a 20 milhões de dólares. Mas, curiosamente, um funcionário do Ministério suíço da Justiça e polícia carimbou no documento: “Não prendê-lo”.

Para Berna é uma fotomontagem

Por quê a Suíça protegeu esse fugitivo, ex-chefe dos esquadrões da morte? O autor de “A fuga do feiticeiro”, não encontrou explicação.

Em 1982, quando um jornalista espanhol encontrou o traço de José López Rega, este estava tranqüilamente instalado em um chalé em Villeneuve, batizado “Os pássaros”, às margens do lago Léman. Assim que o jornalista publicou sua foto, autoridades suíças responderam que tratava-se de uma vulgar montagem fotográfica.

Com a revelação da presença de José López Rega na Suíça, o então deputado federal socialista Jean Ziegler interpelou severamente o governo (Conselho Federal).

Morto na Argentina

Entretanto, o casal argentino não se sentia mais em segurança. Em dezembro de 1982, ele prefere deixar a Suíça por Bahamas, posteriormente os Estados Unidos.

O ex-ministro do Bem-Estar Social foi finalmente preso em 1986 e extraditado para a Argentina, onde morreu três anos depois.

Sua amante voltou para a Suíça. Acusada pela justiça por ter falsificado o passaporte de seu pai, María Elena Cisneros foi finalmente absolvida.

Ela vivem em Genebra como “estudante” até 1995 e depois se instalou no Paraguai para montar uma Academia de Música.

“Como María Elena Cisneros viveu na Suíça? Nenhum banqueiro, nenhuma personalidade que apoiou seu pedido de estadia e residência na Suíça ousou associar sua fortuna aos recursos desviados na Argentina por José Lópes Rega”, afirma Juan Gasparini. Ou seja, a justiça suíça deveria ter aberto um inquérito por “lavagem de dinheiro”.

Sumiu do mapa

«Não temos qualquer informação acerca desses fatis, Para saber mais, melhor seria se dirigir a historiadores do que a funcionários públicos”, comenta Livio Zanolari, porta-voz do Ministério da Justiça e Polícia.

O Ministério não tem em seus arquivos sequer o comunicado que publicou em 1982 para desmentir a presença na Suíça de um fugitivo de justiça. Não guardou também o comunicado de 1983, onde a Suíça reconheceu que o ex-ministro argentino morou no país, com falsa identidade, durante seis anos.

Uma outra fonte, que requeriu anonimato, estima que José López Rega jamais beneficiou da proteção do governo suíço.

O carimbo “Não prendê-lo” teria sido feito por um funcionário subalterno, provavelmente um policial, “que teria agido por simpatia ideológica”. Posteriormente, a hierarquia teria tentado encobrir essa “besteira”.

swissinfo, Ian Hamel

José López Rega:
Ministro do bem-estar social em 1973-1974
1976-1982 instalou-se na Su souíça com o nome de Ramon Cisneros
1982-1986 instalou-se em Miami (Etats-Unis)
1986 Extraditado para a Argentina
1989 Morreu em um hospital de Buenos Aires

Autros dossiês argentinos na Suíça:

– 1945-47: Trânsito de crimonosos de guerra alemães protegidos pela embaixada da Argentina em Berna.

– 1960: Tentativa do ex-presidente Juan Perón de se intalar na cidadezinha de Gland, no Cantão de Vaud.

– 2002: O Crédito Suíço, segundo maior banco do país, é colocado em causa no escândalo do Banco Geral de Negócios.

– 2003: Inquérito sobre as contas na Suíça do ex-presidente Carlos Menem.

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR